Radioterapia para cancro de pulmão aumenta risco de morte

Investigadores verificaram que a utilização da radioterapia estereotáxica corporal, no tratamento de pacientes com cancro de pulmão de não pequenas células na fase inicial, está associado a um pequeno mas aumento de risco de morte, não motivada por cancro.

Foto: Rosa Pinto

A investigação, agora tornada pública, permitiu verificar que doses de radiação elevadas para o aurículo esquerdo do coração e da veia cava superior (a grande veia que transporta sangue oxigenado a partir da cabeça, braços e parte superior do corpo para o coração) estavam associadas a um maior risco de morte por motivos não relacionados com o cancro.

Barbara Stam, investigadora no Netherlands Cancer Institute, Amesterdão, Holanda, afirmou em Turim, Itália, na conferência da Sociedade Europeia de Radiologia e Oncologia – ESTRO 35 – que, como resultado da investigação, a equipa de investigadores estava a estudar processos de radioterapia que poupassem tanto quanto possível as estruturas cardíacas cruciais.

A investigadora afirmou que os resultados da investigação mostraram que “em doentes com cancro do pulmão na fase inicial, uma dose de radiação para o coração está associada a um maior risco de morte não motivada por cancro”, e acrescentou que algumas “regiões do coração, possivelmente desempenham esse papel”, na morte do paciente.

“Precisamos de investigar se é possível preservar o coração nos pacientes com cancro de pulmão em estágio precoce que são tratados com radioterapia estereotáxica (SBRT)”, conclui a cientista.

A SBRT é um tipo especializado de radioterapia que utiliza feixes externos de radiação e concentra os feixes de radiação com extrema precisão num tumor e, assim, minimiza o efeito da radiação sobre outros órgãos adjacentes.

Em face da investigação e dos resultados, Philip Poortmans, Presidente da ESTRO, referiu que o estudo confirma que deve ser tomada em consideração a dose (de radioterapia) para órgãos de risco, “não só para os pacientes com linfoma e cancro de mama malignos, que são em geral (pacientes) mais jovens e têm uma expectativa de vida maior, mas também para pacientes com cancro de pulmão quando a cura é uma opção”.

Philip Poortmans referiu, ainda, que é necessária mais investigação sobre os detalhes da distribuição da dose e as causas (em grande parte desconhecidas) da morte, mas aconselha que no ambiente clínico se mantenha “a dose para o coração tão baixa quanto possível e o melhor controlo do tumor”.

A equipa de investigadores de Barbara Stam analisaram dados de 565 pacientes com diagnóstico de cancro de pulmão na fase inicial de não pequenas células, que foram tratados com SBRT, entre 2006 e 2013, em cinco instituições na Europa e América do Norte.

Para poderem estudar as quantidades de radiação que foram entregues e a que subestruturas do coração, os investigadores criaram uma imagem do coração e das subestruturas para mapear a anatomia de cada um dos 565 pacientes – um processo designado por registo deformável de imagem. Os investigadores adicionaram informações sobre as doses de radiação o que lhes permitiu trabalhar com parâmetros de dose mínima, média e máxima, para as várias partes do coração, como o aurículo direito e esquerdo, ventrículo direito e esquerdo, veias cava superior, aorta descendente e artéria pulmonar esquerda.

“Em seguida, determinou-se a associação entre os parâmetros de dose e a morte não imputada ao cancro para cada subestrutura e para cada parâmetro de dosagem”, explicou Barbara Stam. Mas os investigadores tomaram em conta a possibilidade de outros fatores estarem relacionados com a morte, e realizaram “uma segunda análise estatística, incluindo fatores como a idade, a função pulmonar e o estado de desempenho”.

Após um acompanhamento, em média, de 28 meses, 58% dos pacientes ainda estavam vivos, referiu a cientista, e acrescentou que verificaram “que a dose para todas as subestruturas do coração estava associada com a morte não motivada por cancro, no grupo de pacientes”.

“Duas subestruturas tinham uma associação mais forte com a morte: a dose máxima no aurículo esquerdo e a dose a uma pequena área da veia cava superior. Pacientes com doses baixas no auriculo esquerdo combinadas com doses baixas sobre a veia cava superior têm uma maior probabilidade de sobrevivência do que os pacientes com altas doses sobre o aurículo esquerdo combinadas com altas doses sobre a veia cava superior”, indicou a cientista na conferência ESTRO 35.