Estimulação elétrica e exercícios mentais levam a paragem do cérebro

Estimulação elétrica das células cerebrais enquanto executam tarefas complexas pode levar a uma sobrecarga mental. O estudo foi realizado na Universidade de Oslo e encontra-se publicado na revista “Neuropsychologia”.

Nina Chung Mathiesen e James Roe
Nina Chung Mathiesen e James Roe. Foto: Svein H. Milde

Três estudantes do Instituto de Psicologia da Universidade de Oslo testaram a neuroestimulação. Neste caso, o processo usado foi a designada Estimulação Transcraniana de Corrente Contínua (ETCC), que consiste no envio de uma baixa corrente elétrica através do crânio para as camadas exteriores do cérebro. Os resultados foram publicados na revista científica internacional “Neuropsychologia”.

Os testes foram divididos em três níveis de exercício ou tarefa mental: simples; médio e difícil. Durante os testes os investigadores verificaram que, os participantes no estudo não mostraram qualquer efeito da estimulação quando realizavam as tarefas mentais de nível simples e médio, mas quando foram submetidos a uma tarefa de nível difícil a estimulação teve um efeito muito negativo na resolução dessa tarefa.

“A ETCC teve um efeito disruptivo apenas nas tarefas mais difíceis que exigiam muita concentração”, referiu James Roe, um dos três investigadores envolvidos no estudo.

Os investigadores incidiram a investigação sobre o nível de tarefa mental difícil, para verificar se o fator do nível da tarefa determina os efeitos da estimulação elétrica cerebral, e observaram que os participantes nos testes experimentaram graves problemas de concentração quando o cérebro estava a ser estimulado. Isto em comparação com tarefas mentais do mesmo nível de dificuldade quando os participantes não estavam com o cérebro estimulado eletricamente.

“Era como se a ETCC estivesse a sobrecarregar completamente uma região do cérebro crucial para a execução da tarefa, como se o cérebro parasse”, explicou James Roe.

“Para os que afirmam que a ETCC pode aumentar a atenção e a capacidade cognitiva talvez não tenham testado o método para tarefas extremamente difíceis”, acrescentou Mathias Nesheim, outros dos investigadores do estudo.

“Nos últimos tempos, os neurocientistas têm vindo a monstrar maior interesse pela ETCC. Muitos afirmam que o dispositivo de ETCC pode, entre outras coisas, ajudar a melhorar a memória, aumentar o autocontrolo e tornar-nos mais criativos”, refere a Universidade de Oslo.

A ETCC é utilizada na reabilitação de uma variedade de condições psiquiátricas e neurológicas, tais como a depressão, o acidente vascular cerebral, doença de Alzheimer, fibromialgia e zumbido.

Os investigadores reconhecem que a ETCC pode possuir efeitos positivos, mas o estudo veio lançar luzes sobre os efeitos da ETCC quando usada em casos de resolução de tarefas com níveis variáveis de dificuldade.

O dispositivo de ETCC é usado para estimular eletricamente as células cerebrais, é de fácil uso e de baixo custo e encontra-se disponível no mercado. É geralmente vendido como um dispositivo universal para melhorar o desempenho do cérebro, bem como um método de auto tratamento promissor para ambos os problemas psicológicos e físicos. Como resultado, surgiu nos últimos anos uma subcultura de auto estimulador, refere a Universidade de Oslo.

A Força Aérea americana testou a aplicação da ETCC nos programas de formação de pilotos de drones, e referiu ter encurtado para metade o tempo de treino. O Exército dos EUA também testou a sua utilização durante treino militar personalizado. Jogadores colocam o dispositivo de ETCC na cabeça durante horas de jogo, e alunos fazem o mesmo quando estudam para os exames. A ETCC não produz qualquer dor e ainda não se conhecem quaisquer efeitos colaterais desagradáveis ​​ou duradouros, mas, indica Nina Chung Mathiesen, outro dos jovens investigadores envolvido no projeto, que admitiu ter usado dispositivos ETCC, deve haver cuidado quando se trata de enviar doses diárias de eletricidade através do cérebro.