Inteligência das plantas para testes de comportamento de mercado

Investigação desenvolvida no âmbito do Projeto “Plant Decision Making”, no Zurich-Basel Plant Science Center, da Universidade de Zurique, mostra que as plantas são adequadas para testar teorias gerais de mercado.

Plantas em laboratório
Plantas em laboratório, Foto de UZH

As plantas reagem de forma inteligente no ambiente. Um dos exemplos é a escolha que fazem entre parceiros fúngicos mais cooperantes e menos cooperantes. As plantas fornecem aos menos cooperantes menos nutrientes forçados-os a cooperar mais. Com base nestas descobertas, os cientistas acreditam que as plantas também podem ser usadas para testar mercados e teorias comportamentais.

Mas será que as plantas operam de acordo com critérios económicos? Os investigadores verificaram que “quando as plantas são mutualizadas, (possuem uma relação positiva de interdependência), com parceiros fúngicos, demonstram diferentes graus de cooperação”.

Negociar carboidratos por fosfatos, é esta a transação entre plantas e fungos micorrízicos. “Estes fungos só se podem alimentar em conjunto com um parceiro”, ou seja, “a planta fornece ao fungo carboidratos e é ‘paga’ em fosfatos”. Estes fosfatos, que são obtidos dos fungos, “são extremamente atraentes para a planta, uma vez que lhe permite um melhor desenvolvimento”.

Mas os investigadores verificaram ainda que “quando as plantas são mutualizadas com parceiros fúngicos com diferentes graus de cooperação”, ou seja, um fungo ‘fraco’, que fornece menos fosfatos por unidade de hidrato de carbono fornecido, e um ‘mais generoso’ que ‘paga’ com mais fosfatos, “a planta pode deliberadamente decidir fornecer ao parceiro fraco menos carboidratos”, concluíram os ecologistas Pascal Niklaus e Bernhard Schmid, da Universidade de Zurique.

Mas os cientistas foram mais longe e verificaram que “a planta pode praticamente provocar a ‘fome’ no fungo parceiro menos cooperativo, fornecendo-lhe menos nutrientes, e assim forçá-lo a devolver mais fosfatos. Desta forma, o fungo parceiro é encorajado a ‘dar a volta’ para fornecer a mesma quantidade que o fungo mais generoso”.

Andres Wiemken da Universidade de Basel explica que “a planta explora a situação concorrencial dos dois fungos de forma direcionada, desencadeando o que é essencialmente um processo baseado no mercado determinado pelo custo e desempenho”.

Com base nesta visão, completamente nova, sobre a capacidade, comportamento e tomada de decisão das plantas, os investigadores acreditam que as plantas seriam adequadas para testar teorias gerais de mercado. “Porque as plantas tomam decisões com base em processos fisiológicos e não se distraiem da ação, com pensamento subjetivo, podem ser modelos melhores que os usados por animais e humanos”, referiu Bernhard Schmid, da Universidade de Zurique.

Esta investigação básica que, tem vindo a ser financiada pela Syngenta, pode reforçar o conhecimento para o sector agrícola, dado que os “fungos micorrízicos aumentam a sustentabilidade e a produtividade dos ecossistemas agrícolas”, explica Bernhard Schmid, e acrescenta que “por esta razão, é essencial manter, quanto possível, no sector agrícola, o máximo de diversidade de fungos micorrízicos”.

“Os fungos micorrízicos só sobrevivem na presença de uma planta parceira, dado que estes não são capazes de se alimentar”. O fungo usa as hifas para penetrar no sistema radicular da planta, onde a planta o fornece com carboidratos. A planta também beneficia com esta troca, recebendo dos fungos fosfatos e outros nutrientes.

O mutualismo entre planta e fungo existe há mais de 400 milhões de anos, e que irá continuar a desempenhar, no futuro, um papel significativo na agricultura mais sustentável, lê-se no comunicado da Universidade de Zurique.