A sepsia é tão comum como o cancro e tão letal como um ataque cardíaco

Mais de 4% de todos os internamentos hospitalares, no sul da suécia, são de pacientes com sepsia, e 20% morrem nos primeiros e meses. Investigadores consideram que a situação não será muito diferente noutros paises europeus.

A sepsia é tão comum como o cancro e tão letal como um ataque cardíaco
A sepsia é tão comum como o cancro e tão letal como um ataque cardíaco. Foto: Rosa Pinto

Uma equipa de investigação da Universidade de Lund, na Suécia, descobriu que mais de quatro por cento de todos os internamentos hospitalares no sul da Suécia estão associadas a sepsia (sepse ou septicemia). Trata-se de uma condição de saúde significativamente subdiagnosticada que pode ser comparada a uma epidemia.

A sepsia é uma infeção generalizada e acontece quando as bactérias causadoras de uma infeção provocam uma resposta imunológica exagerada do organismo, chamada resposta inflamatória generalizada. Uma inflamação sistémica que pode levar à falência dos órgãos e à morte.

Em 2016, a equipa de investigação conduziu um estudo inicial no sul da Suécia, que revelou que a sepsia é muito mais comum do que se acreditava anteriormente. A incidência acabou ser de 750 adultos por 100.000 indivíduos.

No último estudo realizado na mesma região, os resultados mostraram que mais de quatro por cento de todas as hospitalizações envolveram pacientes com sepsia e 20 por cento de todos os pacientes com sepsia morreram no prazo de três meses.

Adam Linder, médico no Hospital Universitário de Skåne e investigador envolvido no estudo, afirmou: “Isto torna a sepsia tão comum como o cancro, com consequências negativas semelhantes a longo prazo, e tão mortal como um infarto agudo do miocárdio. Entre os sobreviventes de sepsia, três quartos também apresentam complicações de longo prazo, como ataques cardíacos, problemas renais e dificuldades cognitivas”.

A Aliança Europeia para a Sepsia encarregou os investigadores de avaliar o grau de prevalência da sepsia no resto da Europa. Entretanto, dadas as diferenças nos sistemas de saúde entre os países, não ficou imediatamente claro como deveriam proceder para obter números precisos, mas os investigadores realizaram um estudo piloto no sul da Suécia para determinar se os seus métodos eram aplicáveis ​​a outros hospitais europeus.

“Os médicos classificam os pacientes usando códigos de diagnóstico. Como a sepsia é um diagnóstico secundário resultante de uma infeção, a condição é significativamente subdiagnosticada, pois a doença primária muitas vezes dita o código de diagnóstico. Isto torna difícil encontrar uma forma de determinar com precisão o número de casos de sepsia”, afirmou Lisa Mellhammar, investigadora de sepsia na Universidade de Lund e médica assistente sénior no Hospital Universitário de Skåne.

No estudo, agora publicado na “JAMA Network Open“, foi revelado que 7.500 pacientes em Skåne estavam associados a sepsia, em 2019. Durante a pandemia, a incidência aumentou para seis por cento. Porém, mesmo sem a Covid-19, os investigadores acreditam que a sepsia deveria ser vista como uma epidemia.

O objetivo é utilizar a publicação para influenciar a União Europeia a estabelecer um sistema comum de vigilância da sepsia. A equipa indicou que está em contacto com autoridades e investigadores de cerca de trinta países europeus e espera que o projeto de investigação possa garantir financiamento suficiente para ser iniciado em breve. Não há indicação de que o número de casos de sepsia seja inferior noutras partes da Europa do que na Suécia. Nos hospitais suecos, apenas dois por cento de todos os pacientes com sepsia são resistentes aos antibióticos, e os investigadores especulam que a proporção de casos resistentes é maior em muitos outros países europeus.

“Embora o tratamento da sepsia tenha melhorado nos últimos anos, precisamos melhorar os métodos de diagnóstico para identificar os pacientes mais cedo e desenvolver métodos de tratamento alternativos além dos antibióticos, para evitar resistência. Aumentar a conscientização sobre a sepsia entre o público e os tomadores de decisão é crucial para garantir que os recursos sejam alocados de forma adequada”, conclui o investigador Adam Linder.