Cérebro de doentes obsessivos mantém conetividade atípica mesmo em repouso

Estudo liderado por investigadores da UMinho demonstrou que cérebros de doentes com Perturbação Obsessivo-Compulsiva apresentam padrões atípicos de conetividade mesmo em descanso, relacionados com alterações da estrutura cerebral.

edro Morgado, investigador e professor da Escola de Medicina da UMinho
Pedro Morgado, investigador e professor da Escola de Medicina da UMinho. Foto: DR

Equipa de investigadores liderada pelo Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS), da Universidade do Minho (UMinho), mostrou, pela primeira vez, que os cérebros dos doentes com Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) apresentam padrões atípicos de conetividade mesmo quando estão a descansar e que estes padrões se relacionam com alterações da própria estrutura cerebral, indicou a UMinho, em comunicado.

A investigação é descrita em artigo que acaba de ser publicado na revista ‘Translational Psychiatry’. Esta investigação pode abrir pistas para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas mais eficientes. A UMinho lembra que a doença POC afeta 4.4% da população portuguesa.

Os investigadores recorreram a uma abordagem baseada em ressonância magnética funcional para analisar a atividade cerebral de um grupo de doentes com POC e de um grupo de indivíduos saudáveis, enquanto ambos os grupos se encontravam em estado de repouso.

Os investigadores concluíram que as pessoas obsessivo-compulsivas têm uma menor sincronia cerebral em duas sub-redes principais: a primeira formada por regiões do córtice orbitofrontal, polos temporais e córtice cingulado anterior; a segunda constituída por regiões dos córtices sensoriomotor e occipital.

Pedro Morgado, responsável pelo estudo e professor da Escola de Medicina da UMinho explicou que “esta configuração parece estar associada a um processamento emocional alterado nestes doentes, o que conduz a uma incapacidade de regular e diminuir a ansiedade provocada pelos pensamentos obsessivos”.

A UMinho indica ainda que a investigação revelou, ainda, que os doentes apresentam uma híper-sincronia numa rede constituída pelo tálamo e regiões occipitais. O cientista acrescentou que “estes padrões estão relacionados com uma capacidade de tomada de decisão ineficiente, motivada por hábitos, e não por objetivos, que resulta de uma perceção inadequada da recompensa”.

Os dados obtidos na investigação constituem um avanço significativo no estudo da POC, pois permitem uma maior compreensão da doença e que pode levar ao estabelecimento de terapias mais eficazes.

O estudo, intitulado “The neural correlates of obsessive-compulsive disorder: a multimodal perspective”, têm como autores Pedro Moreira, Paulo Marques, Ricardo Magalhães, José Miguel Soares, Nuno Sousa e Pedro Morgado do ICVS, e Carles Soriano Mas, do Instituto de Saúde Carlos III, de Espanha.

A POC afeta entre 2 a 3% da população mundial. Caracteriza-se por pensamentos repetidos e intrusivos que causam ansiedade ou obsessões, e provocam a necessidade de ações repetidas para aliviar o sofrimento ou compulsões. Manifesta-se em todas as idades, sobretudo em adultos jovens, e afeta igualmente homens e mulheres. A Organização Mundial da Saúde considera-a uma das dez patologias mais incapacitantes na redução da qualidade de vida e dos rendimentos.