Cientistas criam anticorpo que combate os linfomas

Cientistas em Genebra desenvolveram um anticorpo que bloqueia a migração de células cancerígenas do sangue para os órgãos linfáticos, e que provou ser uma abordagem imunoterapêutica muito eficiente contra os linfomas.

Cientistas criam anticorpo que combate os linfomas
Cientistas criam anticorpo que combate os linfomas. Infografia: © UNIGE

O linfoma é um cancro que afeta os linfócitos. O linfócito é um tipo de glóbulo branco presente no sangue que é produzido pela medula óssea vermelha. A doença tem origem num órgão linfóide (gânglios linfáticos, baço ou medula óssea), antes de se espalhar através do sangue para se infiltrar novamente nos órgãos linfoides, bem como noutros tecidos.

O linfoma é uma doença que em alguns casos é muito agressiva e que resiste aos tratamentos padrão, com sejam os medicamentos quimioterápicos. Uma doença que tem vindo a ser estudada por muitas equipas de investigação, nomeadamente na procura de novos tratamentos no domínio da imunoterapia.

Investigadores da Universidade de Genebra (UNIGE) e dos Hospitais da Universidade de Genebra (HUG), na Suíça, acabam de dar uma nova esperança aos pacientes de linfoma. Através da utilização de um anticorpo neutralizam uma proteína específica para bloquear a migração de células do linfoma, impedindo o desenvolvimento da doença.

A estratégia imunoterapêutica dos investigadores da Suíça, que se encontra numa fase experimental, abre caminho para novos tratamentos contra o linfoma. O estudo já se encontra publicado na revista cientifica ‘Journal of Leukocyte Biology.

Os linfócitos, um tipo especial de glóbulos brancos, são componentes essenciais do sistema imunológico. Mas, como qualquer outra célula, não estão a salvo de mutações cancerígenas que podem causar proliferação descontrolada. Os linfócitos com mutações podem circular livremente no sangue e daí espalharem-se para o sistema linfático, causando tumores designados por linfomas.

As células de linfoma só se tornam realmente perigosas quando saem dos vasos sanguíneos e se multiplicam no sistema linfático. “Uma vez que as células de linfoma não podem sobreviver no sangue durante muito tempo, são forçadas a encontrar um ambiente mais flexível, como é o caso do sistema linfático, onde podem proliferar”, explica Thomas Matthes, médico e investigador no HUG e UNIGE, citado em comunicado pela Universidade.

A abordagem utilizada pelos investigadores foi, indica Thomas Matthes, concentrar o estudo num objetivo, que era “não deixar sair do sangue as células cancerosas, para evitar que façam danos noutros órgãos ou tecidos”.

Os investigadores sabem que a parede interna dos vasos sanguíneos é formada por uma camada de células endoteliais que atuam como uma barreira, que impede as células do sangue deixarem a circulação.

No entanto, alguns linfócitos que possuem uma mutação para se tornar cancerosos estão equipados com um marcador específico de superfície, a proteína JAM-C, que também está presente na superfície das células endoteliais. É esta proteína que vai facilitar a migração das células com mutação através das paredes dos vasos por entre as células endoteliais adjacentes.

Para bloquear o efeito da proteína, os cientistas recorreram ao sistema imunitário para desenvolver um anticorpo direcionado à proteína JAM-C, e desenvolveram a molécula que designaram por ‘H225’, para se ligar unicamente a esta proteína JAM-C.

Os investigadores verificaram que quando a proteína JAM-C era ‘mascarada’ pela molécula H225 as células de linfoma não migravam para o exterior dos vasos sanguíneos.

Após testes experimentais os investigadores verificaram que o anticorpo H225 apresentava grande eficiência ao diminuir o trânsito de células cancerosas para os órgãos do sistema linfático, em mais de 50%.

Mas Thomas Matthes, que supervisionou o estudo em conjunto com Beat Imhof, ambos investigadores da Universidade de Genebra, refere que também se verificou uma diminuição da proliferação das células tumorais que já se tinham instalado no sistema linfático, e em experiências em ratos “observou-se o desaparecimento quase-completo das células tumorais já presentes nos órgãos”.

Este avanço científico vem na linha de outros no domínio da imunoterapia do cancro, uma área de estudo que se concentra na conceção de tratamentos com base no sistema imunitário humano. Agora, com a identificação e descrição da função do marcador JAM-C, os investigadores de Genebra lançaram as bases para uma nova estratégia terapêutica contra o linfoma.