Cientistas descobriram como parar a proliferação das células cancerígenas

Cientistas da Universidade de Montreal descobriram como impedir as células do cancro de se multiplicarem. Um mecanismo simples e direto basta interromper a composição dos ribossomos. Os cientistas ficaram surpreendidos com a descoberta.

Trabalhos de laboratório (imagem de arquivo)
Trabalhos de laboratório (imagem de arquivo). Foto: Rosa Pinto

Cientistas canadianos descobriram um novo e direto mecanismo molecular para impedir que as células de cancro proliferem. No estudo já publicado na revista Nature Cell Biology, os investigadores da Universidade de Montreal (UdeM) mostram que a interrupção do bom equilíbrio na composição dos ribossomos, as moléculas gigantes que traduzem o código genético em proteínas, resulta num bloqueio da proliferação de células cancerígenas, desencadeando um processo chamado senescência.

“Os ribossomos são máquinas complexas compostas de ácidos ribonucleicos (ARN) onde são produzidas todas as proteínas necessárias para o crescimento das células”, explicou Gerardo Ferbeyre, professor de bioquímica da UdeM e autor sénior do estudo. “As células cancerígenas crescem e proliferam implacavelmente e, portanto, exigem uma enorme quantidade de ribossomos”, sendo que as “células em crescimento devem coordenar a produção de ambos os ARN ribossomais e proteínas ribossómicas, para uma produção em conjunto em estrita proporção entre si.

Gerardo Ferbeyre referiu: “Ficamos surpreendidos ao descobrir que, se a produção das proporções de ARN-proteína ribossómica for desequilibrada numa célula cancerígena, a proliferação pode ser interrompida de maneira muito simples e direta.”

A investigação foi conduzida pelo investigador de bioquímica da UdeM, Frédéric Lessard, e realizada em colaboração com Marlene Oeffinger, professora de bioquímica do Montreal Clinical Research Institute.

Gerardo Ferbeyre e respetiva equipa de investigadores descobriram um novo mecanismo que separa o ARN ribossómico da síntese proteica ribossómica para parar a proliferação de células portadoras de mutações oncogénicas. A equipa demonstrou uma síntese de ARN ribossómico desequilibrado e de proteína ribossómica durante a senescência induzida por oncogene, é uma resposta que previne a formação de cancro.

Em laboratório, as células senescentes interromperam a síntese de ARN ribossómico, mas continuaram a produzir proteínas ribossómicas. A equipe mostrou então que cópias em excesso de uma proteína ribossómica chamada RPS14 poderiam agora ligar-se e inibir uma proteína-chave-quinase-4 dependente de ciclina, ou CDK4, necessária para estimular a proliferação celular.

Frédéric Lessard observou implicações terapêuticas imediatas da descoberta da equipa, e indicou que “um fármaco que interrompa a biogénese do ARN ribossómico levaria imediatamente a um acumular de proteínas ribossómicas fora dos ribossomas, e como as células tumorais produzem mais, elas seriam preferencialmente afetadas por esses tipos de fármacos”,

Marlene Oeffinger acrescentou: “A interação física de RPS14 com CDK4 é a ligação mais direta entre a síntese de ribossomas e as vias regulatórias de proliferação celular descobertas até o momento. Portanto, é provável que uma forma muito específica de progressão do cancro possa ser parada”.