Doentes de febre do feno podem duplicar na Europa

Número de pessoas a sofrer de febre dos fenos, por pólen de plantas, pode duplicar até 2050, devido às alterações climáticas. São conclusões do estudo do projeto europeu ‘Atopica’, que aponta a ambrósia como uma das plantas a combater.

As alterações climáticas podem causar uma nova vaga de febre dos fenos e afetar milhões de pessoas em toda a Europa, de acordo com o relatório do projeto ‘Atopica’ desenvolvido no âmbito do 7º programa quadro da União Europeia.

Os resultados da investigação revelam que o número de pessoas que sofrem de febre dos fenos, por serem alérgicas ao pólen de ervas, poderá duplicar em apenas 35 anos, e os investigadores acreditam que as mudanças climáticas serão responsáveis por dois terços deste aumento.

O pólen de ambrósia vai aumentar, bem como a sua concentração. Um aumento que associado ao alto nível alergénico irá agravar os sintomas, dado que as populações europeias são suscetíveis a este tipo de pólen.

A ambrósia ou ambrosia artemisiifolia é uma erva proveniente da América do Norte, e é considerada altamente invasora em várias partes do mundo. A ambrósia caracteriza-se por causar graves problemas para as pessoas devido ao pólen altamente alergénico. Os custos associados com a invasão da ambrósia na Europa estão estimados em 4,5 mil milhões de euros por ano.

Em Portugal, a espécie encontra-se dispersa pelo Alto Alentejo e Douro Litoral, mas pode vir a distribuir-se rapidamente por outras regiões, dado que o terreno e o clima lhe são propícios.

A febre dos fenos é uma condição alérgica comum que afeta 40% dos europeus num determinado momento ao longo da vida, e é causada por uma alergia ao pólen. Durante a primavera, por pólen de árvores, no fim da primavera e início de verão, por pólen de gramíneas, e no final do outono, por pólen de plantas daninhas.

Iain Lake, investigador da School of Environmental Sciences da Medical University of Vienna, refere que a “alergia ao pólen é um importante problema de saúde pública em todo o mundo, mas até agora não se conheciam os tipos de impacto que poderão ter as mudanças climáticas nestas doenças”.

“Este é o primeiro estudo a quantificar as consequências das alterações climáticas sobre a alergia ao pólen”, indica o investigador. A equipa de investigação estudou os potenciais impactos das mudanças climáticas na distribuição da planta ambrósia, a produtividade da planta, produção de pólen e dispersão, e os impactos em alergias na Europa.

A equipa de investigadores criou mapas de quantidades de pólen de ambrósia ao longo do período em que é produzido e combinou essas quantidades com os locais onde as pessoas vivem e os níveis de alergia manifestados pela população.

Os investigadores calculam que o número de pessoas afetadas por pólen de ambrósia na Europa será provavelmente mais do dobro em 2050, devendo atingir 77 milhões de pessoas.

Michelle Epstein, coordenador do projeto ‘Atopica’ da Medical University of Vienna, refere que: “a alergia ao pólen de ambrósia vai tornar-se um problema de saúde comum em toda a Europa, expandindo por áreas onde atualmente é pouco persistente”.

“O problema irá aumentar nos países onde a ambrósia já mantém uma larga presença, como na Hungria e na Croácia. Mas haverá aumentos a ocorrer na Alemanha, Polónia e em França”, reforça o investigador.

A investigação indica que “maiores concentrações de pólen de ambrósia numa época aumentam a gravidade dos sintomas. E as projeções desenvolvidas sugerem que o pólen da ambrósia irá persistir a partir de meados de setembro a meados de outubro na maior parte da Europa”.

“Os custos económicos anuais da doença alérgica na União Europeia são estimados entre os 55 mil milhões e os 151 mil milhões de euros, um número que poderá até vir a ser superior”, indica Michelle Epstein.

Com uma “gestão da planta invasora, poder-se-á reduzir o número de pessoas afetadas a cerca de 52 milhões, e se o atual cenário se mantiver, e em face da rápida invasão das plantas, o número de pessoas afetadas pode vir a ser de 107 milhões”. Assim, os investigadores chamam a atenção para a necessidade do controlo das ervas com impacto na saúde pública e como estratégia de adaptação contra os impactos das mudanças climáticas.

Os investigadores indicam ainda que “as consequências das alterações climáticas não se restringem à ambrósia, dado que há uma série de outras espécies que produzem pólen alergénico e que são suscetíveis de ser afetadas”.