Eucalipto modificado geneticamente não invade ecossistemas nativos

Para limitar que os eucaliptos invadam os ecossistemas, uma equipa de cientistas apresenta como solução a modificação genética com eliminação do LEAFY, o gene mestre envolvido na formação de flores, para impedir a reprodução por semente.

Eucalipto modificado geneticamente não invade ecossistemas nativos
Eucalipto modificado geneticamente não invade ecossistemas nativos. Foto: © Rosa Pinto

O eucalipto, uma árvore perene, resistente a pragas, valorizada pela sua madeira resistente e óleo que promove o bem-estar, pode ser geneticamente modificado para não invadir os ecossistemas nativos. A modificação reside na impossibilidade de reprodução sexuada ou seja na reprodução por semente.

O investigador Steve Strauss, da Oregon State University, liderou uma colaboração internacional que mostrou que a técnica de edição de genes CRISPR Cas9 poderia ser usada, com quase 100% de eficiência, para eliminar o LEAFY, o gene mestre responsável pela formação de flores.

“As flores nunca se desenvolveram a ponto de se observarem óvulos, pólen ou sementes férteis. E não houve efeito negativo detetável no crescimento ou forma da árvore”, disse Steve Strauss.

O investigador acrescentou: “Um estudo de campo deve ser o próximo passo para dar uma observação mais cuidadosa na estabilidade das características de esterilidade vegetal e floral, mas com a mutação física do gene esperamos alta confiabilidade ao longo da vida das árvores.”

Imagem de um conjunto modificado de botões florais de eucalipto que não se desenvolvem para tornar viável pólen ou sementes (imagem principal e inferior direita), em comparação com botões de flores de tipo selvagem (canto superior direito) e flor aberta (centro direito).
Imagem de um conjunto modificado de botões florais de eucalipto que não se desenvolvem para tornar viável pólen ou sementes (imagem principal e inferior direita), em comparação com botões de flores de tipo selvagem (canto superior direito) e flor aberta (centro direito). Foto: OSU College of Forestry

O estudo, já publicado no Plant Biotechnology Journal e liderado Steve Strauss, envolveu a Estefania Elorriaga e a assistente de investigação Cathleen Ma, num trabalho com cientistas da Universidade do Colorado, da Universidade Florestal de Pequim e da Universidade de Pretória.

Um estudo foi sobre um híbrido de duas espécies, Eucalyptus grandis e E. urophylla, que são amplamente plantadas no Hemisfério Sul. Existem mais de 700 espécies de eucalipto, a maioria delas nativas da Austrália.

“Aproximadamente 7% das florestas do mundo são plantações e 25% dessa área de plantação contém espécies não nativas e híbridos”, disse Estefania Elorriaga, investigadora de pós-doutoramento no Estado da Carolina do Norte. “O eucalipto é um dos géneros florestais mais amplamente plantados, que incluem 5,7 milhões de hectares de eucalipto no Brasil, 4,5 milhões de hectares na China e 3,9 milhões de hectares na Índia”.

Para os cientistas, estas plantações podem levar a uma invasão indesejável dos ecossistemas nativos. Assim, se for eliminada a capacidade dessas árvores de se reproduzirem por semente sem afetar outras características seria uma forma eficaz de reduzir muito o potencial de disseminação invasiva em áreas onde isso é considerado um problema ecológico ou económico importante.

“Esta foi a primeira aplicação bem-sucedida do CRISPR para resolver um problema comercial em árvores florestais”, disse Estefania Elorriaga. “A investigação com CRISPR em árvores florestais para modificar características diferentes está em curso em muitos laboratórios em todo o mundo. O aquecimento global está a ter grandes impactos em florestas de todos os tipos, e a edição de genes pode ser uma nova e importante ferramenta de melhoramento para complementar os métodos convencionais.”

Steve Strauss lembrou que, apesar das descobertas promissoras, as árvores geneticamente modificadas, como foram nesta investigação não poderiam ser plantadas legalmente no Brasil, um país com um dos maiores valores económicos do cultivo de eucalipto.

“A característica não poderia ser usada devido às leis contra a modificação da reprodução de plantas com métodos de ADN recombinante”, disse o investigador. “Também não seria permitido para investigação de campo ou uso comercial sob a certificação de gestão florestal sustentável em muitas partes do mundo – algo que levou os cientistas a fazer uma severa critica nos últimos anos”.

Há pouco mais de dois anos, Steve Strauss fazia parte de um conjunto de investigadores florestais para pedir uma revisão do que consideram políticas excessivamente restritivas em relação à investigação em biotecnologia.

“Esperançosamente, estudos como este, que mostram o que a tecnologia é precisa e segura na modificação de características, e que ajudam a promover a segurança ecológica, possam ajudar a mudar os regulamentos e regras de certificação”, disse o investigador, e acrescentou: “Felizmente, essas discussões estão bem encaminhadas em muitos países.”