Gaza: ataques impedem ajuda médica e humanitária – relato de 18 de janeiro

ONG “Ajuda Médica aos Palestinianos” e Equipa Internacional de Resgate sofrem ataque com míssil. Militares israelitas retiram cadáveres de cemitério e fazem explodir Universidade que terão usado como base militar e centro de detenção de palestinianos.

Gaza: ataques impedem ajuda médica e humanitária – relato de 18 de janeiro
Gaza: ataques impedem ajuda médica e humanitária – relato de 18 de janeiro. Foto: © OMS

No 18 de janeiro mantiveram-se, em grande parte da Faixa de Gaza, os intensos bombardeamentos israelitas aéreos, terrestres e marítimos, que resultaram em mais vítimas civis e destruição. Da mesma forma houve continuidade no disparo indiscriminado de rockets por grupos armados palestinianos a partir de Gaza, relata o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês).

Também foi relatada a continuidade de operações terrestres e de combates entre forças israelitas e grupos armados palestinianos em grande parte de Gaza.

Em 17 de janeiro, o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) repetiu o seu apelo a um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza.

Entre as tardes de 17 e 18 de janeiro, o Ministério da Saúde em Gaza indicou que 172 palestinianos foram mortos e outras 326 pessoas ficaram feridas. Entre 7 de outubro de 2023 e as 12h00 de 18 de janeiro de 2024, os números apontam para pelo menos 24.620 palestinianos mortos em Gaza e 61.830 palestinianos feridos.

Entre 17 e 18 de janeiro, não foi relatado nenhum soldado israelita morto em Gaza. De acordo com os números indicados pelos militares israelitas, desde o início da operação terrestre, terão sido mortos 191 soldados e terão ficado feridos 1.178 soldados ficaram feridos, em Gaza.

Em 18 de janeiro, os serviços de telecomunicações em Gaza mantiveram-se inoperacional, uma situação que acontece pelo sexto dia consecutivo, ou seja, desde 12 de janeiro, levando a que haja poucas atualização da situação real na Faixa de Gaza.

A falta das telecomunicações impede que as pessoas em Gaza tenham acesso a informações que lhes permitiria salvarem a vida, como seja, chamar socorro, para além de outras formas de resposta humanitária.

Em Gaza a disponibilidade de água para beber e para uso doméstico continua a diminuir para níveis críticos. Atualmente, apenas uma das três condutas israelitas está funcional, produzindo menos de metade (22.000 metros cúbicos por dia) do que estaria disponível se todas as linhas estivessem a funcionar.

No dia 18 de janeiro, a organização não-governamental Ajuda Médica aos Palestinianos (AMP) informou: “Esta manhã, por volta das 6 horas da manhã, o complexo em Gaza que alojava membros do pessoal da Equipa Médica de Emergência da AMP e da Equipa Internacional de Resgate (EIR) estava severamente danificado em resultado de um ataque de míssil. Vários membros da equipa e o guarda de segurança do complexo sofreram ferimentos sem risco de vida.”

A equipa tem vindo a realizar cirurgias e outros tratamentos médicos, apoiando a sobrecarregada equipa médica do hospital Nasser. Após o ataque, a equipa foi evacuada e impossibilitando a continuação do trabalho no hospital. Este ataque e a subsequente transferência de pessoal comprometem ainda mais a capacidade já frágil do sobrelotado hospital.

Até 18 de janeiro, o Ministério da Saúde em Gaza declarou que tinham sido registados mais de 8.000 casos de hepatite A viral resultantes da sobrelotação em abrigos. Prevê-se que o número de casos de hepatite duplique em abrigos sobrelotados. Além disso, devido à falta de acesso aos hospitais, 60 mil mulheres grávidas correm o risco de não receber cuidados adequados em caso de complicações. Centenas de casos de abortos espontâneos e nascimentos prematuros foram relatados desde o início das hostilidades.

Em 18 de janeiro, os militares israelitas confirmaram que haviam removido cadáveres de um cemitério em Khan Younis, por suspeitarem que lá poderiam ter sido enterrados reféns. Isto segue-se a relatos de 17 de janeiro, por volta das 7h00, quando as forças israelitas se retiraram das proximidades do Hospital Nasser, em Khan Younis e relatórios subsequentes e imagens de vídeo mostraram que grande parte do cemitério de An Namsawi tinha sido destruída e que cadáveres teriam desaparecido das sepulturas.

A 18 de janeiro, o Diretor Executivo Adjunto da UNICEF, Ted Chaiban, afirmou: “Quando a ajuda entra na Faixa de Gaza, a nossa capacidade de a distribuir torna-se uma questão de vida ou morte. É essencial levantar as restrições de acesso, garantir comunicações terrestres fiáveis ​​e facilitar a circulação de fornecimentos humanitários para garantir que aqueles que estiveram sem assistência durante vários dias recebam a assistência tão necessária. Temos de fazer com que o tráfego comercial flua em Gaza, para que os mercados possam reabrir e as famílias fiquem menos dependentes da ajuda humanitária.”

Hostilidades e vítimas na Faixa de Gaza

A falta de comunicações limitou o acesso aos acontecimentos, no entanto, relatamos alguns dos incidentes mais mortais em 17 de janeiro:

No dia 17 de janeiro, por volta das 15h30, três deslocados internos palestinianos, incluindo uma criança, teriam sido mortos quando um grupo foi atingido a oeste de Rafah.

No dia 17 de janeiro, por volta das 23h00, 19 palestinianos, incluindo pelo menos oito crianças e seis mulheres, terão sido mortos quando uma casa foi atingida perto da área da Mesquita Al Bahabsa, no bairro de Al Geneina, a leste de Rafah.

Em 17 de janeiro, as forças israelitas detonaram explosivos e destruíram a Universidade Israa em Madinat Az Zahraa, cidade do sul de Gaza. Um edifício que durante os últimos 70 dias foi utilizado pelos militares israelitas como base militar e centro de detenção ad hoc para interrogar detidos palestinianos antes da sua transferência para um local desconhecido.

Deslocação da população na Faixa de Gaza

Em 18 de janeiro, segundo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA na sigla em inglês), estimava-se que 1,7 milhões de pessoas estavam deslocadas internamente. Muitos deles foram deslocadas diversas vezes, pois as famílias foram forçadas a mudar-se repetidamente na procura de segurança.

A província de Rafah é o principal refúgio para os deslocados, com mais de um milhão de pessoas comprimidas num espaço extremamente sobrelotado, na sequência da intensificação das hostilidades em Khan Younis e Deir al Balah e das ordens de evacuação dos militares israelitas.