Gaza: Intervenção militar israelita em Rafah pode levar uma catástrofe aos palestinianos

Aumento de combates em Rafah, no sul de Gaza, como anunciado pelas autoridades israelitas, onde se concentram mais de um milhão de palestinianos deslocados, pode levar a uma catástrofe em perda de vidas e na ajuda humanitária.

Gaza: Intervenção militar israelita em Rafah pode levar uma catástrofe aos palestinianos
Gaza: Intervenção militar israelita em Rafah pode levar uma catástrofe aos palestinianos. Foto: © OMS

Continuam a verificarem-se intensos bombardeamentos israelitas aéreos, terrestres e marítimos em grande parte da Faixa de Gaza, particularmente em Khan Younis e arredores que resultam em mais vítimas civis, deslocações e destruição de infraestruturas civis. Do mesmo modo também não se verificam tréguas nas operações terrestres e nos combates entre as forças israelitas e os grupos armados palestinianos por quase todo o território. Apenas se verificou em 7 de fevereiro, entre as 10h00 e as 14h00, no bairro ocidental de Rafah e para fins humanitários, uma suspensão temporária e tática das atividades militares pelas forças israelitas.

Entre as tardes de 6 e 7 de fevereiro, terão sido mortos 123 palestinianos e 169 palestinianos ficaram feridos, relatou o Ministério da Saúde de Gaza. Assim, entre 7 de outubro de 2023 e as 13h30 de 7 de Fevereiro de 2024, pelo menos 27.708 palestinianos foram mortos em Gaza e 67.147 palestinianos ficaram feridos.

Entre as noites de 6 e 7 de fevereiro, os militares israelitas relataram que um soldado israelita morreu devido a uma complicação de saúde após ser ferido em Gaza. Desta forma e até 7 de fevereiro, terão sido mortos em Gaza 225 soldados e 1.304 soldados terão ficado feridos em desde o início da operação terrestre.

Os palestinianos no norte de Gaza, cerca de 300 mil, estão numa situação grave de fome, depois de terem vindo a ser privadas de assistência durante vários dias. O Programa Mundial de Alimentação (PMA) adverte que a ajuda humanitária que chega à cidade de Gaza “não é suficiente para evitar a fome”, sendo extremamente urgentemente o “acesso mais rápido e sustentado”.

A última vez que a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês) conseguiu realizar uma distribuição de alimentos no norte de Wadi Gaza foi em 23 de Janeiro. Em 4 de fevereiro, com o apoio da Força Aérea Real Jordana e da Força Aérea Holandesa, foram realizados lançamentos aéreos utilizando para-quedas guiados por GPS para entregar ajuda humanitária ao Hospital de campanha jordano no norte de Gaza.

A parceria global da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar previu que toda a população da Faixa de Gaza enfrentaria crises ou piores níveis de fome no período entre 8 de Dezembro e 7 de fevereiro, incluindo uma em cada quatro famílias que enfrentaria condições de fome catastróficas.

Os cuidados de saúde em Gaza continuam extremamente precários devido aos contínuos bombardeamentos e hostilidades, à falta de abastecimentos e de pessoal médico, às restrições de acesso e à rápida deterioração das condições de saúde.

Em 7 de fevereiro, a UNRWA relatou uma “alarmante propagação de doenças devido à falta de saneamento e de água potável”. Além disso, resultados recentes de exames de desnutrição realizados por parceiros do Grupo de Nutrição indicam um aumento acentuado na taxa global de desnutrição aguda entre crianças de 6 a 59 meses, com a taxa no norte de Gaza de 16,2% acima o limite crítico da Organização Mundial da Saúde (OMS) que é de 15%.

No entanto, as missões para apoiar hospitais e instalações críticas que prestam serviços de água, higiene e saneamento às áreas a norte de Wadi Gaza têm vindo a não ser autorizadas pelas autoridades israelitas. Até 7 de fevereiro, não havia hospitais em funcionamento em Gaza, enquanto 36% dos hospitais e 17% dos centros de cuidados de saúde primários estavam apenas parcialmente funcionais, indicou a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Continuam os intensos combates perto dos hospitais Nasser e Al Amal, em Khan Younis, e a pôr em risco a segurança do pessoal médico, dos feridos e dos doentes, bem como dos deslocados internos que procuraram refúgio nestes hospitais.

Em 7 de fevereiro, a Sociedade do Crescente Vermelho Palestiniano (PRCS) informou que veículos militares israelitas posicionados em frente ao Hospital Al Amal disparavam diretamente contra o edifício, resultando em dois feridos. No mesmo dia, a PRCS também informou que um paciente de 77 anos morreu devido à falta de oxigénio no hospital Al Amal. Atualmente, cerca de 100 funcionários médicos e voluntários, bem como pacientes idosos e pessoas com deficiência, que não puderam ser deslocados, permaneceram no hospital.

Os intensos combates em torno de Khan Younis continuam a levar milhares de pessoas para a cidade de Rafah, no sul, que já acolhe mais de metade da população de Gaza. No dia 7 de fevereiro, o Subsecretário-Geral para os Assuntos Humanitários e Coordenador da Ajuda de Emergência, Martin Griffiths, expressou extrema preocupação com a segurança e o bem-estar das famílias que “suportaram o impensável” em busca de segurança e agora enfrentam a perspetiva das hostilidades se expandirem para Rafah.

Martin Griffiths alertou: “Mais combates em Rafah correm o risco de ceifar a vida de ainda mais pessoas. Também corre o risco de dificultar ainda mais uma operação humanitária já limitada pela insegurança, infraestruturas danificadas e restrições de acesso.”

A ONU Mulheres enfatizou que quase um milhão de mulheres e raparigas deslocadas em Gaza são frequentemente afetadas de forma desproporcional pela insegurança alimentar, bombardeamentos diários, abrigos sobrelotados e instalações de higiene inadequadas.

Continuam a ser relatados incidentes que afetam camiões de ajuda e equipas de ambulâncias. Em 7 de fevereiro, um paramédico do PRCS foi morto e outros ficaram feridos, quando uma equipa de ambulância, enviada do sul de Gaza para evacuar palestinianos feridos da cidade de Gaza, foi atingida entre o Hospital Batista Al Ahli e o Hospital Shifa.

No dia 6 de fevereiro, por volta das 16h20, seis agentes da polícia palestiniana teriam sido mortos quando um veículo da polícia que supostamente guardava um camião de ajuda humanitária na área de Khirbet Al Adas, no leste de Rafah, foi atingido. Em 5 de fevereiro, um comboio de camiões, acompanhado pela UNRWA, que transportava ajuda alimentar para o norte de Gaza foi atingido em Deir Al Balah, apesar da notificação prévia e da coordenação com as partes no conflito.

Hostilidades e vítimas na Faixa de Gaza

Entre os incidentes mortais relatados entre as tardes de 6 e 7 de fevereiro estão os seguintes:

No dia 6 de fevereiro, por volta das 17h00, dez palestinianos terão sido mortos e outros dez terão ficado feridos, quando um edifício residencial no leste do campo de Jabalya, no norte de Gaza, foi atingido.

No dia 6 de fevereiro, três palestinianos, incluindo um jornalista, a sua mãe e a sua irmã, terão sido mortos, e vários outros ficaram feridos, num ataque a uma casa no oeste de Rafah.

No dia 7 de fevereiro, cerca das 9h30, quatro corpos teriam sido recuperados em Jourat Al Lot, em Khan Younis, e transferidos para o Hospital Europeu de Gaza, também em Khan Younis.

No dia 7 de fevereiro, por volta das 17h40, dois palestinianos (mãe e filha) terão sido mortos, quando um edifício residencial no bairro de Az Zuhur, no norte de Rafah, foi atingido.

Deslocação da população na Faixa de Gaza

Perto de dois milhões de palestinianos estão abrigados nas instalações da UNRWA e em abrigos públicos, em locais informais, nas proximidades dos abrigos e locais de distribuição de ajuda humanitária da UNRWA, ou em comunidades de acolhimento. Todos enfrentam uma escassez aguda de alimentos, água, abrigo e medicamentos.