Gaza: palestinianos são mortos quando recuperam cadáveres – relato de 22 de janeiro

Palestinianos agredidos e mortos quando tentam recuperar cadáveres, após bombardeamentos. Ambulâncias impedidas de socorrer vitimas. Vítimas de ataques morrem nas ruas sem socorro. Cadáveres são exumados nos cemitérios.

Gaza: palestinianos são mortos quando recuperam cadáveres – relato de 22 de janeiro
Gaza: palestinianos são mortos quando recuperam cadáveres – relato de 22 de janeiro. Foto: © OMS

O 22 de janeiro não foi diferente dos dias precedentes na Faixa de Gaza mantendo-se os intensos bombardeamentos israelitas aéreos, terrestres e marítimos, que provocaram mais vítimas civis, destruição e deslocação da população. Da mesma forma continuaram a ocorrer operações militares terrestres e combates entre forças israelitas e grupos armados palestinianos, como é relatado pelo Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

Entre as tardes de 21 e 22 de janeiro, os dados do Ministério da Saúde de Gaza indicam que mais 190 palestinianos foram mortos e que mais 340 pessoas ficaram feridas. De acordo com a mesma fonte, entre 7 de outubro de 2023 e as 12h00 de 22 de janeiro de 2024, pelo menos terão sido mortos em Gaza 25.295 palestinianos e que 63.000 palestinianos ficaram feridos.

Dados divulgados melos militares israelitas apontam que entre 21 e 22 de janeiro, três soldados israelitas terão sido mortos em Gaza. Dados da mesma fonte indicam que desde o início da operação terrestre israelita na Faixa de Gaza e até 22 de janeiro, terão sido mortos 196 soldados e 1.222 soldados terão ficado feridos.

Desde a noite de 19 de janeiro, as comunicações telefónicas móveis – que estavam indisponíveis desde 12 de Janeiro – foram gradualmente restauradas na maior parte da Faixa Gaza, com exceção de alguns serviços no norte. No entanto, a Internet continua inoperante em toda a Faixa de Gaza. O corte das telecomunicações restringe o acesso das pessoas a informações que permitem uma diminuição do risco de vida e impede outras formas de resposta humanitária.

Em 22 de janeiro, as operações terrestres, os combates e os ataques intensificaram-se na área de Khan Younis, destruindo várias casas residenciais, edifícios, torres e praças residenciais, tendo alegadamente matado pelo menos 45 palestinianos, incluindo deslocados internos, mulheres e crianças.

Em 22 de janeiro, a Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (PRCS) informou que as forças israelitas cercaram o quartel-general das ambulâncias em Khan Younis; impedindo a saída das ambulâncias para apoio na zona. As forças israelitas terão atacado as proximidades do hospital Al Amal e do quartel-general das ambulâncias, e correram intensos combates na área, levando a dezenas de vítimas. Pacientes, feridos e cerca de 13.000 pessoas deslocadas que se abrigaram no Hospital Al Amal e na sede do PRCS não puderam sair dos locais.

Informações transmitidas pelos vários agentes humanitários que estavam no local indicam que as pessoas nas proximidades e na área de Al Kheir, a leste de Al Mawasi, perderam o acesso às instalações de saúde, ficando sem qualquer assistência médica.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que os ataques aos cuidados de saúde continuam a aumentar. Na Faixa de Gaza, foram verificados mais de 300 ataques desde o início das hostilidades, em 7 de outubro. Também na Cisjordânia, a OMS reporta um aumento significativo nos ataques contra os serviços de cuidados de saúde, com mais de 330 ataques notificados desde 7 de outubro.

Os agentes humanitários de saúde relatam uma grave escassez de pessoal médico em alguns hospitais em Gaza. Apenas 12 médicos ainda trabalham no hospital de Al Aqsa, o que representa cerca de dez por cento dos médicos que operaram antes do início das hostilidades. O Hospital Nasser registou uma diminuição significativa no número de funcionários e de pacientes, uma vez que mais de 50% do pessoal saiu e apenas 400 dos 750 pacientes permaneceram, alguns procurando cuidados noutro local ou refugiaram noutros locais.

Para além dos encerramentos das telecomunicações, a capacidade das agências humanitárias poderem operar, de forma segura e eficaz, em qualquer parte de Gaza, mantém-se fortemente comprometida, dada a recusa dos militares israelitas em permitir o acesso ao norte, bem como pelas restrições à importação de equipamento crítico e pela intensidade das hostilidades, entre outros fatores.

Hostilidades e vítimas na Faixa de Gaza

Entre alguns dos incidentes mais mortais relatados em 21 e 22 de janeiro, estão os seguintes:

Em 22 de janeiro, quatro palestinianos teriam sido agredidos e mortos enquanto tentavam recuperar cadáveres, na sequência de fortes bombardeamentos na área de Al Balad, em Khan Younis.

No dia 21 de janeiro, dois palestinianos teriam derramado sangue até à morte na sequência de ataques anteriores e foram deixados durante dias nas ruas.

Em 22 de janeiro, por volta das 8h30, dez palestinos teriam sido mortos quando a Escola Al Mawasi foi atingida no oeste de Khan Younis.

No dia 21 de janeiro, por volta das 16h00, três mulheres teriam sido mortas por projéteis de artilharia que atingiram uma casa no bairro de Al Rimal, na cidade de Gaza.

No dia 21 de janeiro, por volta das 16h30, quatro palestinianos teriam sido mortos, incluindo uma mulher e uma criança, no campo ocidental de An Nuseirat, em Deir Al Balah.

No dia 21 de janeiro, por volta das 19h45, três palestinianos teriam sido mortos, incluindo uma mulher e duas crianças, quando um edifício residencial que alojava deslocados internos foi atingido no campo An Nuseirat, Deir Al Balah.

No dia 22 de janeiro, por volta das 10h30, as forças israelitas alegadamente exumaram sepulturas no cemitério Khan Younis, no sul de Gaza.

Deslocação da população na Faixa de Gaza

Em 20 de janeiro, os dados da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente, apontavam para cerca de 1,7 milhões de pessoas deslocadas internamente na Faixa de Gaza. Muitos deslocados diversas vezes, pois as famílias foram forçadas a mudar-se repetidamente na procura de segurança. Devido aos contínuos combates e às ordens de evacuação, algumas famílias afastaram-se dos abrigos onde foram inicialmente registadas. A província de Rafah é o principal refúgio para os deslocados, com mais de um milhão de pessoas comprimidas num espaço extremamente sobrelotado, na sequência da intensificação das hostilidades em Khan Younis e Deir al Balah e das ordens de evacuação dos militares israelitas.