Investigadoras da UA fazem descobertas no domínio Doença de Alzheimer

Um potencial novo diagnóstico precoce e um novo tratamento para a Doença de Alzheimer pode ter resultado da descoberta de investigadoras da Universidade de Aveiro. Estudos prosseguem para eventual solução clinica.

Investigadoras da UA fazem descobertas no domínio Doença de Alzheimer
Investigadoras da UA fazem descobertas no domínio Doença de Alzheimer. Foto: DR

Equipa de investigadoras da Universidade de Aveiro (UA) e a colaboração de investigadores de Universidades da Alemanha e dos EUA chegaram a método que permite um diagnóstico mais precoce da Doença de Alzheimer (DA) e, ao mesmo tempo, uma possível alternativa terapêutica para a demência.

O trabalho foi centrado no estudo das modificações químicas em moléculas de um tipo específico de RNA, os RNAs de transferência (tRNAs), essenciais para a síntese de proteínas, o que abre caminho a uma das doenças que está a afetar cada vez mais a população.

“Descobrimos que a expressão de uma enzima chamada ELP3, responsável por fazer alterações químicas específicas em moléculas de tRNA, se encontra reduzida no cérebro de pacientes com DA, assim como em modelos animais e celulares da doença”, explicam as investigadoras da UA, citadas em comunicado pela Universidade.

Esta redução da expressão da enzima “leva concomitantemente a uma redução no nível das modificações químicas que esta enzima cataliza, em tRNAs específicos”. Esta hipomodificação dos tRNAs provoca, consequentemente, problemas na produção de proteínas.

A chave pode estar na manipulação dos níveis de tRNAs e das suas modificações

As investigadoras descobriram que aumentando os níveis de tRNAs afetados pela diminuição da ELP3 é possível restaurar a produção normal de proteínas em células neuronais. “Estes resultados sugerem que as modificações nos tRNAs podem desempenhar um papel importante na progressão da DA, abrindo novas possibilidades de abordagens de diagnóstico e terapêutica para esta condição neurodegenerativa devastadora”, descrevem as investigadoras.

Os resultados obtidos até o momento, “têm implicações significativas tanto no diagnóstico quanto no tratamento da DA”.

No diagnóstico, “a identificação da redução da expressão da enzima modificadora de tRNA, ELP3, e das suas correlações com modificações específicas de tRNA, pode servir como um biomarcador potencial para a doença, mesmo em fases iniciais”. A deteção precoce desta doença é crucial, “uma vez que permite intervenções terapêuticas mais eficazes antes que os sintomas se tornem severos”.

No que diz respeito ao tratamento, “os resultados sugerem que a manipulação das modificações de tRNA, por meio da modulação da expressão de ELP3, pode representar uma nova e promissora estratégia terapêutica para a DA”.

Corrigir essas anomalias na síntese proteica, esperam as investigadoras, “pode contribuir para a restauração da homeostase proteica neuronal, comprometida na doença, potencialmente preservando a função neuronal e retardando a progressão dos sintomas”.

Ainda há caminho a percorrer

A equipa de investigadoras pretende validar estas descobertas iniciais e compreender melhor todos os mecanismos envolvidos. Dado que qualquer terapia derivada de investigação “precisa de passar por extensos testes pré-clínicos e ensaios clínicos para garantir sua eficácia e segurança”.

“É difícil prever um prazo exato” da descoberta se tornar num uso clínico, “mas, se bem-sucedidos, estes resultados podem eventualmente levar a avanços significativos no diagnóstico e tratamento da DA”.

A UA indica que no seguimento da investigação, a equipa recebeu já um reconhecimento significativo pela Alzheimer’s Association com o financiamento do projeto AD-EpiMark. Este financiamento permitirá prosseguir com a investigação nesta área, contribuindo para o desenvolvimento de novas terapias e ferramentas de diagnóstico para a DA. Este projeto abre ainda portas para parcerias com outros investigadores e instituições que trabalham na área da DA, “ampliando assim o alcance e a influência do projeto e que certamente trará esperança para muitos afetados pela doença e para as suas famílias”.

O estudo foi publicado na revista científica Biochimica et Biophysica Acta (BBA) – Molecular Basis of Disease, tendo o trabalho sido coordenado pelo grupo de investigação tRED, do Instituto de Biomedicina (iBiMED) da Universidade de Aveiro (IBIMED), através das cientistas Marisa Pereira, Diana Ribeiro e da líder do grupo Ana Raquel Soares, e contou ainda com a colaboração da Universidade de Frankfurt (Alemanha), da Universidade de Stanford (EUA) e da Universidade de Indiana (EUA).