Leucemia pediátrica pode ter ‘supermedicamento’ nos próximos anos

Investigadores do Northwestern Medicine, EUA, acabam de publicar as conclusões de um estudo que aponta para a possibilidade de um “supermedicamento” para o tratamento da leucemia pediátrica. Testes em ratos mostraram sucesso.

Leucemia pediátrica pode ter 'supermedicamento' nos próximos anos
Leucemia pediátrica pode ter 'supermedicamento' nos próximos anos. Ilustração da expressão de gene © Northwestern University

Num quarto estudo, cientistas da Northwestern Medicine, EUA, descobriram duas terapias que retardaram a progressão da leucemia pediátrica em ratos. Os estudos publicados nos últimos dois anos analisaram as principais proteínas da leucemia.

Quando uma proteína-chave responsável pela leucemia, (leucemia de linhagem mista – LLM), é estabilizada, a progressão da leucemia diminui, concluiu o estudo agora divulgado. O próximo passo dos investigadores deve passar por combinar as terapias descobertas nos últimos dois anos de investigação num “supermedicamento” para a leucemia pediátrica a usar num ensaio clínico em pessoas.

A taxa de sobrevivência é de apenas 30% nas crianças diagnosticadas com leucemia por translocação LLM, um cancro que afeta o sangue e a medula óssea. Os pacientes com leucemia têm uma percentagem muito baixa de glóbulos vermelhos, tornando-os anémicos, e têm aproximadamente 80 vezes mais glóbulos brancos do que pessoas sem cancro.

“Esses glóbulos brancos infiltram muitos dos tecidos e órgãos dos indivíduos afetados e é uma das principais causas de morte em pacientes com leucemia”, referiu Ali Shilatifard, investigador sénior e diretor do Simpson Querrey Center for Epigenetics da Northwestern, e acrescentou: “Este é um cancro monstruoso com o qual estamos a lidar há muitos anos, em crianças.”

Existem vários tipos de leucemia. Esta investigação concentrou-se nos dois mais comuns que se encontram em bebés e até a adolescentes, a leucemia mieloide aguda (LMA) e leucemia linfocítica aguda (LLA).

Nos últimos 25 anos, Ali Shilatifard tem vindo a estudar a função molecular do LLM dentro de seu complexo conhecido como COMPASS (Complex Proteins Associated with Set). Mais recentemente, os investigadores mostraram que os componentes do COMPASS são uma das mutações mais frequentemente identificadas no cancro. O próximo passo do estudo deve levar a um medicamento para ensaio clínico, que espera-se ocorra nos próximos três a cinco anos.

“Eu tenho trabalhado nesta translocação por mais de duas décadas, e estamos finalmente no ponto em que, dentro de cinco a dez anos, podemos conseguir um medicamento para crianças que pode ser eficaz”, referiu Ali Shilatifard. “Se pudermos aumentar a taxa de sobrevivência para 85%, é uma grande conquista”.

Trabalhos anteriores de Ali Shilatifard publicados na Cell em 2018 identificaram compostos que poderiam retardar o crescimento do cancro interrompendo um processo de transcrição de genes conhecido como “Complexo de Super Alongamento”.

Este processo de estabilização do LLM pode potencialmente funcionar em cancros com tumores sólidos, como cancro da mama ou da próstata, referiu o primeiro autor do estudo Zibo Zhao.

“Isto abre uma nova abordagem terapêutica não apenas para a leucemia, que é tão importante para muitas crianças que são diagnosticadas com este terrível cancro, mas também para outros tipos de cancro que assolam a população”, referiu o investigador.

Os primeiros três estudos foram publicados na revista Cell, e o último foi publicado, em 20 de dezembro, na revista Genes & Development.