Medicamento para cancro pode melhorar pacientes com COVID-19 grave

Medicamento bevacizumab, usado contra o cancro, mostra potencial terapêutico em pacientes com a COVID-19 grave, com redução da mortalidade e aceleração da recuperação, dos pacientes.

Medicamento para cancro pode melhorar pacientes com COVID-19 grave
Medicamento para cancro pode melhorar pacientes com COVID-19 grave. Yihai Cao, Departamento de Microbiologia, Tumor e Biologia Celular, Instituto Karolinska. Foto: Ulf Sirborn

O tratamento de pacientes com COVID-19 grave com o medicamento bevacizumab, conhecido pelo nome comercial Avastin, usado contra o cancro, pode reduzir a mortalidade e acelerar a recuperação, conclui estudo clínico realizado em Itália e na China e conduzido por investigadores do Instituto Karolinska, na Suécia, entre fevereiro e abril de 2020.

Os resultados do estudo publicados na Nature Communications mostram que em média, os níveis de oxigénio no sangue, temperatura corporal e marcadores inflamatórios melhoraram significativamente nos pacientes tratados com uma única dose de bevacizumab, além do tratamento padrão.

“Para reduzir a mortalidade pela COVID-19, pretendemos desenvolver um paradigma terapêutico eficaz para o tratamento de pacientes com COVID-19 grave”, disse o autor correspondente Yihai Cao, professor de biologia vascular do Departamento de Microbiologia, Tumor e Biologia Celular do Instituto Karolinska.

O investigador acrescentou: “Os nossos resultados sugerem que o bevacizumab mais o tratamento padrão é altamente benéfico para pacientes com COVID-19 grave e deve ser considerado como um potencial regime terapêutico de primeira linha para este grupo.”

O bevacizumab é um medicamento usado desde 2004 para tratar vários tipos de cancro. O medicamento age retardando a formação de novos vasos sanguíneos, inibindo o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF). Muitos pacientes com COVID-19 grave têm níveis elevados de VEGF, bem como sintomas associados a esse marcador, incluindo excesso de fluido e vasos sanguíneos desorganizados nos pulmões. Neste contexto, os investigadores desenvolveram um ensaio clínico para investigar o efeito da combinação de bevacizumab com o tratamento padrão em pacientes com COVID-19 grave.

O estudo envolveu vinte e seis pacientes em dois hospitais na China e Itália entre meados de fevereiro e início de abril de 2020. Os pacientes tinham COVID-19 confirmado e sintomas como dificuldade para respirar, níveis baixos de oxigénio no sangue e pneumonia. Para efeito de controlo foram comparados retrospetivamente com 26 pacientes de características semelhantes que receberam o tratamento padrão nos mesmos hospitais e aproximadamente no mesmo período de tempo.

Os pacientes receberam o tratamento padrão mais uma única dose baixa de cerca de 7,5 mg / kg de bevacizumab, e verificou-se uma melhoria significativa dos níveis de oxigénio no sangue em 24 horas, em comparação com o grupo de controlo. No final do período de acompanhamento de 28 dias, 92% dos pacientes tratados com bevacizumab já não precisavam do mesmo nível de suporte de oxigénio usado no início do estudo, em comparação com uma taxa de melhora de 62% nos pacientes do grupo de controlo.

Nenhum dos pacientes tratados com bevacizumab morreu e 17 (65%) melhoraram significativamente o que permitiu deixarem o hospital dentro do período de acompanhamento. No grupo de controlo, três morreram e apenas 46% tiveram alta em 28 dias. O bevacizumab também encurtou a duração do suporte de oxigénio em média no tempo de nove dias, em comparação com a media de 20 dias no grupo que recebeu apenas o tratamento padrão.

Os resultados mostram também que o medicamento reduziu febre, aumentou os glóbulos brancos e reduziu acentuadamente os níveis de proteína C reativa, que é um marcador inflamatório. Não se tendo sido detetada nenhuma preocupação grave de segurança.

“Muitos pacientes com COVID-19 grave necessitam de suporte significativo de oxigénio durante longos períodos de internamento, o que representa um desafio global enquanto suprimento médico”, referiu o investigador Yihai Cao. “O nosso estudo mostra que o bevacizumab pode ajudar a reduzir a necessidade de suporte de oxigénio e reduzir os dias de internamento, melhorando assim o resultado para o paciente individual enquanto diminui a pressão sobre os recursos médicos.”

O estudo apresenta algumas limitações que incluem a natureza não randomizada do estudo, o curto período de acompanhamento e a pequena dimensão do grupo de pacientes envolvidos. Os investigadores estão a projetar estudos randomizados e controlados por placebo, envolvendo um grande número de pacientes, e assim poder ter uma avaliação mais aprofundada dos potenciais benefícios do bevacizumab como tratamento isolado e em combinação com outras terapias, como antivirais e anti-inflamatórios.