Medicamentos antituberculose podem aumentar risco de reinfeção

Medicamentos usados para combater a tuberculose podem alterar a microbiota intestinal, e assim, aumentar o risco de reinfeção pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, ou seja, de reinfeção.

Medicamentos antituberculose podem aumentar risco de reinfeção
Medicamentos antituberculose podem aumentar risco de reinfeção. Foto: © Rosa Pinto

Os atuais tratamentos para combater a tuberculose (TB) são eficazes no controlo da infeção por tuberculose causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis (Mtb), no entanto, nem sempre previnem a reinfeção. Uma questão há muito tempo no campo da investigação sobre TB.

Mas qual a causa que leva o nosso corpo a não adquira imunidade permanente contra a tuberculose – a principal doença infeciosa fatal do mundo? Agora, uma equipa de investigadores do Instituto de Pesquisa do Centro de Saúde da Universidade McGill e da Universidade McGill pode ter encontrado a resposta à questão, no intestino.

Num estudo publicado recentemente na Mucosal Immunology, os investigadores mostraram que os fármacos para tratar a tuberculose causam alterações na microbiota intestinal, ou seja, a colónia de bactérias que vive nos nossos intestinos, e aumentam a suscetibilidade à infeção por TB.

A microbiota intestinal desempenha um papel crucial para nos mantermos saudáveis, pois ajuda a digerir alimentos, combater patógenos e a fortalecer nosso sistema imunológico. Estudos recentes mostraram que o uso crónico de antibióticos leva ao rompimento dessa colónia, e assim, a uma possível rutura do sistema imunológico. No entanto, os investigadores não podem afirmar com certeza que as mudanças na composição da microbiota dos nossos intestinos afete a infeção por TB.

Impacto dos medicamentos antituberculose na microbiota

Para descobrir se mudanças na composição de micróbios que vivem em nossos intestinos afetam a infeção por TB, Irah King e Maziar Divangahi, dos Laboratórios Meakins-Christie do Centro de Saúde da Universidade McGill, em colaboração com colegas da Universidade McGill, recorreram a ratos tratados com os medicamentos antiTB mais usados, como a isoniazida, rifampicina e pirazinamida. Os investigadores verificaram que os três medicamentos alteraram significativamente a composição do microbioma intestinal dos ratos, mas os tratados com isoniazida combinada com pirazinamida apresentaram maior suscetibilidade à infeção por TB.

Para garantir se a maior suscetibilidade à infeção por tuberculose era devida à microbiota intestinal alterada, os investigadores examinaram as fezes dos ratos. Usaram as fezes dos ratos que tinham haviam sido tratados com medicamentos antituberculose e transplantaram-nas nos ratos não tratados e não infetados. Neste caso os investigadores verificaram que os ratos que receberam as fezes passaram a ter a imunidade comprometida contra o Mtb.

Relação existente entre a microbiota intestinal e os pulmões

Irah King e seus colegas também avaliaram o sistema de comunicação entre os microrganismos que vivem no intestino e os pulmões para saber qual o papel que poderia desempenhar na Infeção por tuberculose e na imunidade, para isso avaliaram um número de células pulmonares conhecidas por desempenhar um papel importante na resistência à infeção por TB. Após o tratamento antituberculose, a capacidade dos macrófagos alveolares (um tipo de célula imune localizada nas vias aéreas de ratos e humanos) de matar a infeção por TB foi comprometida.

O investigador referiu que a investigação vai continuar para entender o impacto do microbioma nos macrófagos alveolares, já que essas células desempenham um papel crucial no controlo da infeção por TB durante os estágios iniciais da doença, e acrescentou: “Também precisamos identificar os mecanismos moleculares que intervêm na ligação entre intestinos e pulmões.”

“Os tratamentos para TB têm sido incrivelmente eficazes no controlo da epidemia de TB; eles reduziram as taxas de morbidade e mortalidade associadas a essa doença”, referiu Irah King, e acrescentou: “O trabalho que acabamos de fazer agora fornece uma base para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas que exploram a ligação intestino-pulmonar na infeção por TB.”

Os investigadores pretendem acompanhar os pacientes em tratamento da tuberculose para verificar como a microbiota intestinal muda ao longo do tempo e quando o tratamento é interrompido. A ideia será controlar as mudanças do microbioma em combinação com os medicamentos usados para matar as bactérias Mtb.