As alterações climáticas globais representam uma ameaça significativa à produtividade agrícola. O aumento das temperaturas e os padrões imprevisíveis de precipitação interrompem o crescimento de culturas tradicionais.
O cultivo da videira, vital para a produção de vinho e uvas de mesa, é particularmente vulnerável, com as alterações climáticas a potenciar a redução da adequação das regiões de cultivo atuais.
As espécies de videiras silvestres, no entanto, têm demonstrado maior resiliência aos stress climáticos, e oferecem esperança para a futura adaptação das culturas. Os parentes silvestres fornecem diversidade genética crítica que pode aumentar a resiliência climática das uvas cultivadas por meio de programas de melhoramento genético e desenvolvimento de porta-enxertos.
Um estudo recente já publicado na revista Horticulture Research revela como as videiras silvestres podem ser fundamentais para ajudar a viticultura a adaptar-se às mudanças climáticas. Investigadores do Instituto de Genómica Agrícola de Shenzhen, da Academia Chinesa de Ciências Agrícolas, e outros investigadores de instituições como o University College Dublin e a Universidade Florestal de Pequim, utilizaram o modelo de máxima entropia para prever a distribuição futura de espécies de videiras cultivadas e silvestres sob dois futuros cenários climáticos.
Os resultados reforçam a necessidade de integrar espécies de videiras silvestres em programas de melhoramento genético para garantir a sustentabilidade do cultivo da videira sob stress climático. A investigação destaca a adaptabilidade de espécies de videiras silvestres da América do Norte e do Leste Asiático, que podem ser essenciais para futuras estratégias de viticultura.
Utilizando modelos climáticos avançados, os pesquisadores preveem que, até 2080, as regiões adequadas para a Vitis vinifera, a principal variedade de uva para vinho e uva de mesa, diminuirão substancialmente sob um cenário de alterações climáticas, com perdas de até 1,5 milhão de quilómetros quadrados. Em contrapartida, espera-se que videiras silvestres como a Vitis rotundifolia e a Vitis davidii prosperem, com um aumento em áreas de cultivo adequadas.

As espécies Vitis rotundifolia e a Vitis davidii demonstram excecional adaptabilidade às mudanças de temperatura, tornando-as recursos genéticos valiosos para programas de melhoramento genético voltados para o aumento da resiliência da videira. O estudo destaca que as espécies silvestres estão mais bem equipadas para lidar com condições climáticas extremas, fornecendo características vitais como tolerância à seca e ao calor.
“A resiliência das espécies de uvas selvagens às mudanças climáticas oferece um caminho promissor para garantir o futuro da viticultura. Ao utilizar a diversidade genética encontrada nesses parentes selvagens, podemos cultivar videiras mais adequadas para resistir aos desafios impostos por um clima em transformação“, afirmou Zhiyao Ma, um dos principais investigadores do estudo.
O estudo tem implicações profundas para o futuro da viticultura. Ao focar em espécies de videira silvestres para o melhoramento genético e o desenvolvimento de porta-enxertos, a indústria vitivinícola pode proteger-se contra perdas induzidas pelas mudanças climáticas. Os resultados também apontam para a importância da conservação do germoplasma de videiras silvestres e do uso de tecnologias avançadas de melhoramento genético para integrar características de resistência ao stress em variedades cultivadas. Futuras investigações deverão concentrar-se em melhorar o conhecimento genético dessas espécies silvestres, facilitando o desenvolvimento de variedades de videiras resilientes às mudanças climáticas.














