Menos de 0,5% dos doentes têm acesso a Reabilitação Respiratória

A Reabilitação Respiratória é um pilar fundamental no tratamento das doenças respiratórias crónicas. Mas, em Portugal, menos 0,5% dos doentes têm acesso a programas de Reabilitação Respiratória. O alerta é da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.

Menos de 0,5% dos doentes têm acesso a Reabilitação Respiratória
Menos de 0,5% dos doentes têm acesso a Reabilitação Respiratória

Menos de 0,5% dos doentes com indicação para Reabilitação Respiratória (RR) têm acesso a esses cuidados de saúde, indicam dados publicados no Observatório Nacional das Doenças Respiratórias, de um inquérito realizado pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), em 2014.

Importância da Reabilitação Respiratória

Os benefícios dos programas de RR são inúmeros para o doente, para a sua família e para a sociedade em geral, lembram as especialistas Susana Clemente e Inês Faria, da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.

A Reabilitação Respiratória é considerada como uma terapêutica basilar na abordagem dos doentes respiratórios, com inúmeras vantagens e não é substituível por medicação, e como referem as médicas pneumologistas: “Apesar de não recuperar a função respiratória, permite a melhoria sintomática e da qualidade de vida relacionada com a saúde e da tolerância ao esforço. Contribui, igualmente, para a redução dos episódios de agravamento da doença respiratória, dos custos relacionados com a saúde e, possivelmente, da mortalidade”.

No caso da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), a Reabilitação Respiratória “é uma terapêutica com uma excelente relação custo-eficácia, melhor do que a própria terapêutica farmacológica, sendo apenas ultrapassada pela cessação tabágica e vacinação antigripal. No doente cirúrgico, esta intervenção no período peri-operatório diminui a ocorrência de complicações pulmonares pós-operatórias, a duração de internamento e os custos relacionados com a saúde”, acrescentaram as pneumologistas.

Acesso a programas de Reabilitação Respiratória

“O financiamento insuficiente e o grande desconhecimento sobre as mais-valias desta terapêutica por parte dos profissionais de saúde, dos sistemas de saúde/seguradoras, dos doentes e da população em geral são as principais barreiras. Acresce, ainda, uma diminuta disponibilidade de programas face ao elevado número de candidatos” referem as pneumologistas.

Para as pneumologistas a melhoraria do acesso dos doentes à RR passa por aumentar o conhecimento e a formação dos profissionais, dos doentes, e por uma melhoraria da acessibilidade aos programas, nomeadamente em aspetos como o transporte, acesso à internet, financiamento e reembolsos, bem como no aumento da oferta dos programas em todos os setores do sistema de saúde.

Os cuidados de saúde primários desempenham um papel fundamental no tratamento dos doentes respiratórios, o que passa pela necessidade da sensibilização para a terapêutica da RR. Para as pneumologistas da SPP uma solução para a escassez de programas de RR passa pela “criação de programas de base comunitária, estabelecendo parcerias com os cuidados de saúde primários”.

Influência da pandemia da COVID-19

Para além de todos os constrangimentos verifica-se que nos últimos dois anos, devido à pandemia da COVID-19, a acessibilidade dos doentes aos programas de RR foi agravado, com o encerramento temporário da maioria dos serviços que prestam o tratamento ou pela diminuição da sua capacidade de resposta, acresceu que devido “aos cuidados a doentes com COVID-19”, houve “também ao aumento dos candidatos a programas de RR que passaram a incluir doentes com incapacidade funcional por COVID-19”, lembram as pneumologistas.

No momento em que se assinala o Dia Nacional da Reabilitação Respiratória, a 21 de abril, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, lembra aos doentes, suas famílias e profissionais de saúde os benefícios da RR e que há ainda muito trabalho a ser desenvolvido em conjunto por vários setores da saúde para que a oferta desta terapêutica seja adequada às necessidades daqueles que dela necessitam.