Mosca da fruta pode levar à cura de Cancros pelo VPH

Mosca da fruta pode ser a chave para a cura do cancro cervical causado pelo Vírus do Papiloma Humano (VPH). Cientistas criaram um modelo de mosca da fruta para estudo do cancro provocado pelo Vírus.

Mosca da fruta pode levar à cura de Cancros pelo VPH
Mosca da fruta pode levar à cura de Cancros pelo VPH. Foto: André Karwath

O Vírus do Papiloma Humano é uma das infeções sexualmente transmissíveis mais comuns nos Estados Unidos e em muitos outros países. O VPH tem sido identificado como a causa principal do cancro cervical em mulheres.

O VPH atinge a pele e as mucosas, e tem a caraterística de possuir uma transmissibilidade muito alta. O vírus infeta as camadas basais do epitélio penetrando através de microtraumatismos.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o VPH é considerado o segundo carcinogéneo mais importante, logo a seguir ao tabaco, dado que é responsável por cerca de 5% dos cancros em geral e por 10% dos cancros em mulheres, podendo subir aos 15% nos países em vias de desenvolvimento.

Para além do VPH ser o principal responsável pelo cancro cervical é também responsável pelo cancro do colo do útero, um cancro que assume grande relevância dado que constitui, indicam cientistas, a segunda causa de morte por cancro nas mulheres com menos de 44 anos.

Uma equipa internacional de investigadores, liderados pela Universidade de Missouri, desenvolveu em moscas da fruta uma condição que imita uma forma de cancro induzido por VPH.

Os modelos de mosca da fruta desenvolvidos pela equipa de cientistas podem ajudar a compreender o mecanismo que leva o vírus a causar o cancro, bem como identificar potenciais medicamentos para tratamento.

“Este é o primeiro modelo de um cancro induzido por VPH em moscas da fruta”, refere Bing Zhang, investigador do College of Arts and Science da Universidade de Missouri (EUA). “Este novo modelo vai ajudar os cientistas a entender as vias moleculares e os bioquímicos envolvidos no crescimento do tumor, e a malignidade causada pelo VPH, bem como servir de alvo para potenciais medicamentos”.

Estudos realizados anteriormente em células humanas e em ratos mostraram que o vírus entra no corpo através da pele e produz várias oncoproteínas, ou seja, proteínas que podem transformar uma célula normal numa célula de tumor. Uma destas oncoproteínas virais, a E6, desempenha um papel importante durante as fases posteriores da formação de tumores e metástases.

No estudo, liderado por Mojgan Padash, da Universidade de Missouri, e já publicado na revista ‘PLoS Pathogens’, os investigadores indicam que introduziram uma oncoproteína viral E6 e uma proteína humana, que é necessária para o cancro induzido E6, na mosca da fruta. As proteínas causaram anomalias graves no epitélio ou pele, das células da mosca da fruta.

Os investigadores mostram também níveis reduzidos do mesmo conjunto de proteínas E6 em seres humanos. Outras experiências feitas em linhas celulares humanas, com a versão da proteína E6 usada na mosca da fruta, produziram resultados semelhantes, tornando assim evidente que a E6 funciona de igual modo nas moscas como nos humanos.

Embora tenham resultado anormalidades celulares, os cientistas verificaram que as proteínas E6 não foram suficientes para causar tumores nas moscas. Considera-se que as mutações na oncoproteína humana Ras, mediada pela E6, é que podem contribuir para o desenvolvimento do tumor em seres humanos.

Os investigadores introduziram esta terceira proteína (Ras) nas moscas. Com todas as três proteínas presentes, as moscas desenvolveram tumores malignos metastáticos.

Mojgan Padash refere que “as moléculas fundamentais que estão na base do cancro do VPH mediados por E6, em seres humanos, fazem as mesmas coisas em moscas”.

“Em termos práticos”, acrescenta o investigador, “agora podemos utilizar este modelo de mosca para identificar outros componentes essenciais que contribuem para a tumorigénese mediada por E6. Um modelo que tem o potencial para o desenvolvimento de terapias para cancros induzidos por VPH”.

“O modelo desenvolvido pode ser usado para identificar outras vias que contribuem para a malignidade conduzida por E6”, refere Lawrence Banks, responsável de Virologia do Tumor no Centro Internacional de Engenharia Genética e Biotecnologia, em Trieste, Itália, e coautor do estudo. “O poder deste modelo é que pode ser agora usado para o rastreio de inibidores de outras vias, que têm o potencial de se traduzir em terapias para o cancro originado pelo VPH”.