Nova diretiva sobre poluição do ar na União Europeia pode salvar milhares de vidas

Comissão Europeia propõe novas regras sobre poluição do ar para diminuir mortes e doenças graves. As pessoas afetadas pela falta do cumprimento das normas sobre os níveis de poluição do ar passam a poder pedir indemnização.

Nova diretiva sobre poluição do ar na União Europeia pode salvar milhares de vidas
Nova diretiva sobre poluição do ar na União Europeia pode salvar milhares de vidas

A poluição do ar, na União Europeia (UE), é responsável por cerca de 300.000 mortes prematuras por ano e por um número significativo de doenças, como: asma; cardiovasculares e cancro do pulmão. Os piores poluentes são as partículas, o dióxido de nitrogénio e o ozono.

Embora a poluição do ar afete todos as pessoas, o maior impacto é nos grupos mais vulneráveis ​​e sensíveis, como: crianças, pessoas com problemas de saúde, idosos e aqueles que vivem em condições socioeconómicas mais pobres, pois geralmente habitam ou trabalham em áreas com maiores níveis de poluição do ar.

A poluição do ar ameaça o meio ambiente através da acidificação, eutrofização e por poluentes percursores de ozono, que causam danos às florestas, outras floras e ecossistemas. Quando os ecossistemas já sofrem com níveis excessivos de nitrogénio na água, a deposição de nitrogénio do ar aumenta a poluição. Hoje, a eutrofização excede as cargas críticas em dois terços das áreas de ecossistemas, em toda a UE. O que tem um impacto significativo na biodiversidade e nos serviços que esta nos presta.

A última atualização das Diretivas Europeias sobre Qualidade do Ar Ambiente foi em2008. Desde aí surgiram novas evidências científicas sobre os impactos da poluição do ar na saúde. A revisão das Diretrizes, publicadas em setembro de 2021, já recomendam nos padrões mais rigorosos de qualidade do ar.

Uma avaliação sobre o impacto das diretivas sobre a qualidade do ar ambiente mostra que contribuíram para reduzir a poluição atmosférica, e que em comparação com a década de 1990, há cerca de 70% menos mortes prematuras atribuíveis à poluição do ar. No entanto, também se verifica que o ar na UE continua muito poluído, com enorme impacto negativo na saúde da população e no ambiente.

Mudanças propostas para a qualidade do ar

A nova diretiva poderá reduzir, em dez anos, o número de mortes prematuras atribuíveis ao principal poluente atmosférico, as partículas finas (PM 2,5), em mais de 75%. Também é espetável que possa reduzir a quantidade e a gravidade de doenças causadas ou agravadas pela poluição do ar, como as doenças respiratórias e as cardiovasculares. Neste caso beneficiará particularmente as populações mais sensíveis e vulneráveis.

Os novos padrões de qualidade do ar na UE para 2030, são alinhados com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), podendo contribuir para que a UE possa atingir poluição do ar, zero, até 2050, em sinergia com os esforços para a neutralidade climática.

Por exemplo, o valor limite anual para partículas finas (PM 2,5) será reduzido em mais da metade até 2030, de 25 µg/m³ para 10 µg/m³ em 2030.

A Comissão Europeia propõe que a nova revisão da diretiva garanta que as pessoas que venham a sofrer de doenças motivadas ​​pela poluição do ar tenham direito a serem indenizadas, em caso de violação das regras de qualidade do ar, imposta pela diretiva.

A diretiva também considera o direito das vítimas da poluição do ar serem representados por organizações não-governamentais através de ações coletivas de pedidos indemnizatórios pelos dados sofridos. Neste caso a proposta da Comissão irá trazer mais clareza sobre o acesso à justiça, penalidades efetivas e melhor informação pública sobre a qualidade do ar.

Uma melhoria nas regras de monitorização e modelação da qualidade do ar permitirá verificar mais de perto o cumprimento das normas, incluindo aos níveis de concentração de particulares, nomeadamente sobre as prejudiciais, e apoiar uma ação mais eficiente e eficaz para prevenir e resolver as violações das normas.

A Comissão Europeia também refere que a legislação proposta apoiará melhor as autoridades locais na obtenção de um ar mais limpo. Além de abordar as excedências dos padrões de qualidade do ar, a proposta exige planos preventivos de qualidade do ar quando houver risco de exceder um valor-limite em 2030.

A revisão também agilizará e simplificará as leis atuais, fundindo as duas atuais diretivas de qualidade do ar em apenas uma.

A proposta não prescreverá medidas específicas a serem tomadas, mas estabelecerá padrões de qualidade do ar a serem alcançados em todos os lugares. Os Estados-Membros continuarão a ser responsáveis ​​pela escolha das medidas mais adequadas para atingir as normas de qualidade do ar e pela sua adaptação às circunstâncias nacionais e locais.

Custos da poluição do ar para a sociedade

Os impactos da poluição do ar custam à sociedade cerca de 231 a 853 mil milhões de euros por ano, incluindo 8 mil milhões de euros por dias de trabalho perdidos. A economia da UE também é diretamente afetada, com danos a edifícios, ecossistemas, colheitas e florestas que chegam a dezenas de milhares de milhões de euros por ano.

A Comissão Europeia indica que os custos para alcançar os novos padrões de qualidade do ar permaneçam abaixo de 0,1% do PIB, e os benefícios para a economia e a sociedade superam os custos em pelo menos um fator de 7. Outros benefícios são de grande importância, em políticas, como: ação climática e a redução substancial do custo da melhoria da qualidade do ar. Espera-se que a produção da indústria e a produção agrícola aumentem, enquanto os custos para respeitar os novos padrões devem diminuir ao longo do tempo.

Até 2030, os benefícios brutos totais para a sociedade são estimados pela Comissão Europeia em 42 a 121 mil milhões de euros por ano, em comparação com um custo total de 5,7 mil milhões de euros por ano para medidas de mitigação e custos administrativos relacionados.

Base das metas para 2030

Os padrões propostos para 2030 são baseados em uma avaliação dos impactos na saúde, viabilidade técnica e impactos socioeconómicos. A Comissão levou em consideração as contribuições de novas políticas relacionadas existentes e propostas, como clima, energia, transporte e meio ambiente, nomeadamente o pacote climático “Fit for 55” com suas ações sobre eficiência energética e energia renovável, “RePowerEU”, a “ Methane Strategy”, o “Sustainable and Smart Mobility Strategy”, a “Biodiversity Strategy” e a iniciativa “Farm to Fork”.