Novo medicamento mais eficaz no tratamento de doença renal rara

Estudo de ensaio clínico mostra que o medicamento Sparsentan é mais eficaz no tratamento de pacientes com glomeruloesclerose segmentar e focal, do que a atual terapia baseada em Irbesartan. A doença leva à insuficiência renal crónica.

Novo medicamento é mais eficaz no tratamento de doença renal rara
Novo medicamento é mais eficaz no tratamento de doença renal rara. Foto: DR

Um estudo mostrou, em ensaio clínico, que um medicamento experimental é duas vezes mais eficaz do que o atualmente usado como tratamento padrão na redução de um marcador de gravidade numa doença renal rara. O estudo já foi publicado, em 25 de outubro, na revista da American Society of Nephrology.

O novo estudo mostrou que doentes com GlomeruloEsclerose Segmentar e Focal (GESF) que tomaram o medicamento Sparsentan observaram uma redução de 45% na proteinúria – um excesso de proteína na urina, que indica perda de saúde renal. Em comparação com uma redução de 19% em doentes que tomam o medicamento Irbesartan, que é o correntemente prescrito para a doença.

A doença glomeruloesclerose segmentar e focal que afeta cerca de 40 mil pessoas nos Estados Unidos da América (EUA) e um número equivalente na Europa “não possui atualmente qualquer terapia aprovada” e “quase metade dos doentes afetados irá progredir para a doença renal terminal”, indicou Howard Trachtman, investigador, na Escola de Medicina, da Universidade de Nova Iorque (UNI), e diretor da divisão de nefrologia pediátrica no Hassenfeld Children’s Hospital da UNI Langone

Sobre os resultados do primeiro “ensaio clínico de larga escala de um tratamento projetado especificamente para a GESF”, o investigador referiu que “não só o Sparsentan pode tornar-se parte da terapia para os doentes com GESF”, mas também para “qualquer paciente com doença renal caracterizada pela proteinúria – incluindo a nefropatia por IgA, a mais comum que afeta centenas de milhares de pessoas em todo o mundo.”

Os nefrologistas usam a proteinúria como medida, ou marcador, da saúde de pacientes com GESF. Quando estão saudáveis, os rins filtram o sangue, desviam os resíduos para a urina e devolvem as proteínas úteis à corrente sanguínea. No caso dos doentes com GESF, e com outras doenças renais mais comuns, as unidades de filtragem do rim são danificadas, e as proteínas passam e entram na urina causando cicatrizes nos túbulos renais, levando à insuficiência renal crónica.

Sem tratamentos aprovados para a GESF, têm vindo a ser ministrados medicamentos desenvolvidos para o tratamento de outras doenças, indicou o investigador, incluindo Bloqueadores dos Recetores da Angiotensina II (BRA), como o Irbesartan.

Os BRA foram inicialmente desenvolvidos para tratar a hipertensão arterial, mas são ​​atualmente usados com uma terapia de GESF. Estes medicamentos atuam diminuindo a pressão arterial dentro das unidades filtrantes do rim e desta forma reduzem a cicatrização dos rins.

Nova abordagem terapêutica

Para o novo estudo, os investigadores inscreveram 109 pacientes com GESF, com idades dos 8 aos 75 nos EUA e com 18 a 75 anos na Europa, num estudo aleatório, duplo-cego, ativo-controlado, em 44 locais, para avaliar a eficácia e segurança do medicamento Sparsentan. Os Pacientes receberam doses crescentes de Sparsentan (200, 400 ou 800 mg por dia) ou do medicamento Irbesartan em doses de 300 mg por dia durante oito semanas. Depois de completar o período de tratamento duplo-cego de oito semanas, os pacientes puderam continuar a receber Sparsentan por um período de tratamento aberto.

O medicamento do estudo, o Sparsentan, funciona tanto como um bloqueador do recetor da angiotensina II, como o Irbesartan, como um bloqueador da ação de uma segunda proteína, o recetor de Endotelina Tipo A (ETA). Os autores do estudo colocaram a hipótese que as duas ações juntas limitariam a produção de moléculas que levam às cicatrizes nos rins mais do que o mecanismo único do Irbesartan.

O Sparsentan foi mais eficaz, e também teve muito poucos efeitos colaterais sérios, como – baixa pressão de sangue, vertigem e inchação – semelhante em ambos os grupos. Os investigadores descobriram que combinar efeitos numa única molécula aumentava a probabilidade de os pacientes fazerem o tratamento porque reduzia o número de comprimidos.

Os investigadores consideram serem ainda necessários mais estudos para determinar os efeitos a longo prazo do Sparsentan na preservação da função renal. Um estudo clínico de fase III vai permitir determinar se o Sparsentan provoca uma redução sustentada da proteinúria.

“A prevalência da GESF está em ascensão, e essa terapia combinada pode vir a oferecer uma nova esperança para os pacientes com esse raro distúrbio renal” que enfrentam o desafio “de doença renal terminal, diálise ou transplante”, referiu Howard Trachtman.