Em 31 de março, 789 pacientes COVID-19 estavam em tratamento no Hospital Vall d’Hebron, em Barcelona, 168 deles na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI). De entre todos os pacientes foram analisados os números respeitantes a pacientes com doença renal terminal (DRT) (pacientes em diálise e transplantados) e o prognóstico.
Na Conferência de Abertura do Congresso da Associação Europeia de Nefrologistas – ERA-EDTA, Maria Jose Soler Romeo, Nefrologista e Membro do Conselho da ERA-EDTA, apresentou os dados recolhidos no Hospital Vall d’Hebron. Dos 400 pacientes em diálise no Vall d’Hebron, como hospital de referência, 21 destes pacientes ou seja, 5% apresentaram infeção por coronavírus.
Em toda a Espanha, 238.000 dos 47 milhões de pessoas (cerca de 0,5%) haviam contraído a doença naquele momento. Os números obtidos no Hospital Vall d’Hebron sobre a incidência de COVID-19 não são representativos, dado ser apenas um centro, mas indicam uma taxa de infeção significativamente mais alta em pacientes em diálise.
Dos 21 pacientes em diálise que contraíram a COVID-19, 15 receberam alta, um estava na UCI no momento da investigação e cinco já tinham morrido. A taxa de mortalidade neste centro foi de 24%. Essa alta taxa de mortalidade entre pacientes em diálise infetados também foi verificada numa análise do Registo Espanhol de Diálise / Transplantados, que incluiu um total de 1572 pacientes com DRT, incluindo 998 pacientes em hemodiálise, 51 pacientes em DP e 523 pacientes em transplante renal.
A taxa de mortalidade entre os pacientes em hemodiálise foi superior a 27% em toda a Espanha, mas também foi superior a 23% nos pacientes transplantados renais. Os pacientes com diálise peritonial tiveram uma taxa de mortalidade significativamente menor de 15%, mas seu número é tão pequeno na proporção que é quase impossível fazer declarações estatisticamente válidas sobre esse grupo de pacientes, mas também foi superior a 23% em pacientes transplantados renais.
A nefrologista espanhola referiu que a alta taxa de mortalidade entre pacientes em diálise também foi verificada num estudo que monitorou o curso da doença em 36 pacientes em hemodiálise entre 12 de março e 10 de abril no Hospital Gregorio Marañón, em Madrid. A taxa de mortalidade verificada foi de 30,5%, mas o que é particularmente interessante neste estudo é que analisou preditores de mortalidade.
A conclusão do estudo indica que, além da idade avançada do paciente e da pneumonia, existem três fatores que influenciam significativamente a taxa de mortalidade entre pacientes em diálise infetados com o coronavírus:
■ número de anos em diálise (diálise vintage);
■ linfopenia, que descreve um número baixo de glóbulos brancos especiais (linfócitos) que protegem o corpo de infeções;
■ níveis elevados de LDH, um substituto para danos nos tecidos.
“O que aprendemos com os nefrologistas, em Espanha, é que os pacientes em diálise são mais suscetíveis ao vírus, e que o risco de morte é muito alto, com uma taxa de 1 em 4. Estes pacientes precisam de proteção especial”, referiu Maria Jose Soler Romeo.
A nefrologista acrescentou: “Muitos estudos demonstraram que mesmo pessoas sem sintomas ou assintomáticos podem transmitir o vírus. Nas unidades de diálise, portanto, não podemos confiar se somos capazes de detetar pacientes infetados e se os podemos isolar a tempo. Para proteger os nossos pacientes altamente vulneráveis, é essencial que todos os pacientes e funcionários sejam testados regularmente, para minimizar o risco de infeção em surtos de COVID-19”.
“Devemos lembrar-nos continuamente que, em quatro pacientes em diálise infetados com coronavírus, um não sobreviverá. Os surtos em unidades de diálise devem ser impedidos a todo custo”, afirmou a nefrologista Maria Jose Soler Romeo.
A Espanha é um dos países europeus, além do Reino Unido e da Itália, que foi particularmente afetado em março deste ano pela pandemia de COVID-19. No início, não era possível prever a extensão do surto. O primeiro caso conhecido em Espanha foi um turista alemão que terá levou o vírus para La Gomera, nas Ilhas Canárias, no final de janeiro. Um conhecido segundo caso, foi de um turista britânico, identificado em Maiorca, em 10 de fevereiro. Três dias depois, o primeiro paciente na Espanha morreu de COVID-19, mas só foi diagnosticado posteriormente após a morte, a seguir sucederam-se de forma crescente as mortes.
No fim de março, havia mais de 238.000 casos confirmados de infetados pelo novo coronavírus e 29.000 mortes em Espanha, numa população total de quase 47 milhões. Por sua vez o Reino Unido, com uma população total de 66 milhões, teve 38.000 mortes na mesma época, enquanto a Itália, com 60 milhões, teve mais de 33.000 mortes.
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