Procedimento médico previne AVC em doentes com fibrilhação auricular

Medicamentos anticoagulantes são usados para prevenir AVC em doentes de risco com fibrilhação auricular, mas estes medicamentos aumentam o risco de hemorragia, e são em muitos casos desaconselháveis. Eduardo Infante de Oliveira apresenta, neste seu artigo, uma alternativa.

Eduardo Infante de Oliveira, médico, membro da direção da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular
Eduardo Infante de Oliveira, médico, membro da direção da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular. Foto: DR

A fibrilhação auricular é uma perturbação do ritmo cardíaco (arritmia) que se associa ao risco de acidente vascular cerebral (AVC). Nesta arritmia, o coração perde a capacidade de contração das aurículas. A estagnação de sangue nestas cavidades proporciona a formação de coágulos (trombos) que poderão deslocar-se e migrar para a circulação cerebral e provocar um AVC. O AVC continua a ser a principal causa de morte e incapacidade em Portugal e a fibrilhação auricular é responsável por cerca de um terço dos casos.

Os medicamentos anticoagulantes contrariam a formação de coágulos e são a primeira linha na prevenção do AVC na fibrilhação auricular. Contudo, os anticoagulantes aumentam o risco de sangramento (hemorragia) e estima-se que cerca de 1 em cada 4 doentes não tolere ou apresente contraindicação para a toma destes fármacos. Para este grupo de doentes, a cardiologia de intervenção oferece uma alternativa. Através de um cateter introduzido na região femoral, é possível alcançar o coração e implantar um dispositivo que encerra o local onde a formação de coágulos é mais provável. Esse local é o apêndice auricular esquerdo, uma pequena extensão da aurícula esquerda que é responsável pela formação de cerca de 90% dos trombos associados à fibrilhação auricular.

O encerramento do apêndice auricular esquerdo através de cateter representa uma importante evolução na prevenção do AVC, oferecendo uma alternativa não-inferior à anticoagulação em doentes que não toleram ou apresentam elevado risco de sangramento. Este procedimento não é uma cirurgia, pode ser oferecido em múltiplas unidades públicas e privadas de norte a sul do país e geralmente implica apenas um dia de internamento.

São múltiplos os desafios na prevenção do AVC associado à fibrilhação auricular. Esta arritmia é frequentemente silenciosa, dificultando o seu diagnóstico. Estima-se que cerca de metade dos doentes com fibrilhação auricular não estejam devidamente identificados e protegidos. Recomendamos que palpe o seu pulso e procure o seu médico. Um pulso irregular poderá corresponder a fibrilhação auricular.

A adesão terapêutica é outro obstáculo. É frequentemente difícil motivar um doente com fibrilhação auricular para a adesão a um regime terapêutico prolongado, particularmente quando não tem sintomas associados. É necessário que a população compreenda que na presença de fibrilhação auricular o risco anual de AVC vai até 20% (1 em cada 5 doentes). Os doentes deverão estar devidamente protegidos, procurando cuidados médicos e mantendo a adesão terapêutica.

Autor: Eduardo Infante de Oliveira, médico, membro da direção da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC).

Nota: O Dia Mundial do AVC assinala-se a 29 de outubro.