Tsunami na Indonésia explicado por cientistas

Tsunami ocorrido, dia 22 de dezembro, na Indonésia, provocou, até esta data, mais de quatro centenas de mortos e milhares de feridos e desaparecidos. O Tsunami que ocorreu após a erupção do vulcão Anak Krakatoa é explicado por cientistas da União Europeia de Geociências.

Tsunami na Indonésia explicado por cientistas
Tsunami na Indonésia explicado por cientistas. Anak Krakatau, janeiro de 2016. Foto: © Tyke

O tsunami que ocorreu na Indonésia, no dia 22 de dezembro, provocou até agora mais de quatro centenas de mortos e milhares de feridos e desaparecidos. O tsunami apanhou a população desprevenida dadas as dificuldades das autoridades locais em emitir um pré-aviso concreto de alerta. Cientistas não descartam a possibilidade de novos tsunamis devido ao vulcão Anak Krakatoa.

Cientistas da União Europeia de Geociências (UEG) deram algumas explicações para algumas das questões que continuam a preocupar as populações sobre as origens do tsunami, como ocorreu o evento e sobretudo sobre a possibilidade de novas ocorrências na região.

O que causou o tsunami? Qual o efeito da erupção do vulcão Anak Krakatau no deslizamento de terra?

Mike Burton, Presidente da Divisão em Geoquímica, Mineralogia, Petrologia e Vulcanologia da União Europeia de Geociências referiu que não se conhece a origem “mas as imagens iniciais de satélite sugerem um colapso significativo no flanco do vulcão”

Raphaël Paris, investigador do Laboratório de Magmas e Vulcões, Aubière, França, explicou: “O que sabemos até agora é que o vulcão Krakatoa estava numa fase de atividade reforçada. As imagens do (satélite) Sentinel confirmaram que 64 hectares do flanco ocidental do vulcão desabaram no mar, e este colapso foi provavelmente a causa do tsunami que atingiu as costas de Java (após cerca de 30 minutos de viagem em águas rasas do estreito de Sunda e Sumatra).”

O especialista acrescentou: “Não há sistema de alerta de tsunamis disponível para o Krakatoa. Em 2012, publicamos um estudo sobre um possível colapso do Anak Krakatoa e simulamos numericamente o tsunami relacionado (com o colapso). O volume do colapso simulado foi maior do que o ocorrido no sábado, (felizmente), e nosso cenário pode ser considerado como o pior cenário possível. No entanto, há uma grande incerteza sobre a estabilidade do cone vulcânico e talvez não negligenciável a probabilidade de futuros colapsos e tsunamis”.

Como é que as erupções vulcânicas podem desencadear tsunamis?

Mike Burton explicou como as erupções vulcânicas podem desencadear tsunamis e como é comum que isso aconteça, indicando que “existem vários processos que levam uma erupção vulcânica a desencadear um tsunami. Grandes volumes de fluxos piroclásticos que entram no mar, explosões submarinas e colapso do flanco. Os vulcões podem crescer rapidamente através dos fluxos de lava, e esse crescimento pode criar instabilidades, de tal forma que uma pequena erupção pode desencadear um colapso / deslizamento lateral, e o deslizamento de terra desloca a água criando um tsunami.”

“Um pequeno deslizamento subaerial pode gerar um maior deslizamento submarino. Esse foi o caso na erupção de Stromboli, na Itália, em 2002, por exemplo, em que provocou o tsunami e este causou danos na própria ilha e nas zonas vizinhas. Estudo publicado em 2015, na revista Marine and Petroleum Geology relata quatro tsunamis causados ​​por colapso do flanco (do vulcão) no século XX. O último antes de Anak Krakatoa (assumindo que este é o mecanismo para o Anak, como parece provável, mas ainda não foi categoricamente demonstrado) foi o de Stromboli 2002, que foi provavelmente 10 vezes menor”, explicou o investigador.

O vulcanólogo esclareceu ainda que “a cada 100 anos, há grande evento, como o colapso de 1888 da Ritter Island, onde 4,2 km cúbicos de material produziram um grande tsunami, com ondas até 4,5 metros em Rabaul, a 540 km de distância. A erupção de 1883 do Krakatoa criou um tsunami muito maior do que o tsunami de dezembro de 2018, provavelmente devido a uma combinação de entrada de fluxo piroclástico no mar e de phreatomagmatism, onde a rocha quente leva a água ao vapor, gerando explosões.”

Um estudo publicado na Geological Society, Londres, janeiro de 2012, identificou o alto risco de um colapso de flanco em Anak Krakatoa e modelou um tsunami gerado para esse colapso, “que parece ser muito semelhante ao que ocorreu em 22 de dezembro. O cenário de risco foi, portanto, entendido, mas a gestão de tal perigo obviamente continua a ser um grande desafio”.

Ira Didenkulova, vice-presidente da Divisão em Perigos Naturais da UEG, referiu: “As erupções vulcânicas são conhecidas por causar tsunamis. Não são os tipos mais frequentes de origem do tsunami, mas os mais conhecidos. Eu colocaria a frequência após o terremoto, deslizamentos de terra e meteotsunamis. Há pelo menos dois mecanismos envolvidos, dependendo do tipo de vulcão e do tipo de erupção. Pode ser semelhante ao deslizamento de terra se tivermos um fluxo piroclástico na água. Se a erupção é tão forte que entra em explosão, então podemos falar sobre o mecanismo explosivo.”

Para a investigadora “também pode haver um deslizamento de terra submarino real envolvido, e a erupção do Anak Krakatoa poderia apenas acioná-lo. Neste caso, seria um tsunami de deslizamento regular, que foi desencadeado pela erupção vulcânica.”

Porque é que o tsunami foi tão devastador?

Mike Burton esclareceu que “o dano é alto por causa da proximidade de pessoas e infraestrutura no litoral, e é provável que uma maré cheia produza um impacto maior do tsunami comparado com a maré baixa.”

Há quanto tempo o Anak Krakatoa está em erupção? E como e quando se formou?

Ira Didenkulova explicou que “Anak significa criança. Então, é uma criança do grande Krakatau, que explodiu em 1883. O Anak Krakatoa cresceu principalmente após o evento de 1883, mas mesmo enquanto crescia estava ativo”.

“Anak está a crescer por erupções, por isso começou em 1927 a partir dos restos da cratera depois da grande erupção de 1883 em Krakatoa”, acrescentou Mike Burton. “E tem sido continuamente subaerial desde 1930.”

São os tsunamis e as erupções vulcânicas comuns na Indonésia?

“Há muitas evidências de que os principais impactos dos tsunamis na Indonésia resultaram principalmente dos tsunamis induzidos por terremotos, mas também da erupção induzida. Há muitos vulcões ativos na Indonésia, com 40 erupções de diferentes vulcões desde 2000”, referiu Mike Burton.

Ira Didenkulova acrescentou que sobre os tsunamis associados com as erupções do Krakatau, “o maior ocorreu em 1883 e ainda está entre os tsunamis globais mais fortes que ocorreram em todo o mundo. Ondas do tsunami dessa erupção foram registadas em todo o Oceano Índico, mas também na Europa e nos EUA. Naquela época, o processo de erupção do Krakatoa durou vários meses. Começou com uma série de erupções normais com fluxos piroclásticos, que causaram vários tsunamis de 1 a 2 metros, depois houve um tsunami mais forte de 10 metros, e tudo isso terminou com erupção explosiva de Krakatoa, quando 2/3 da ilha do vulcão foi destruída, e a altura da onda foi até 30 metros”.

Há ainda ameaça de mais tsunamis dada a atividade contínua em Anak Krakatoa?

Mike Burton esclareceu: “Embora ainda haja material significativo no edifício de Anak, existe a possibilidade de um novo colapso, mas não temos limitações (indicações) sobre essa probabilidade.”