Comer gafanhotos em algumas partes do México, uma comida que há algum tempo era exclusiva de pessoas pobres, mas atualmente é considerada uma iguaria por turistas, nomeadamente os oriundos dos Estados Unidos.
A mudança na perceção dos chapulines – insetos comestíveis de gafanhotos usados na culinária mexicana na região de Oaxaca – mostra como a comida e o seu significado mudam ao longo do tempo, explicou Jeffrey H. Cohen, autor do livro “Comendo gafanhotos: Chapulines e as mulheres que os vendem”.
No livro, Jeffrey H. Cohen, professor de antropologia na Universidade Estadual de Ohio, explora os chapulines e seu papel na cultura, na tradição e na sobrevivência do povo mexicano. O antropólogo passou anos a investigar, no estado de Oaxaca, no sul do México, onde os chapulines são uma iguaria sazonal que aparece com o início da estação chuvosa em maio.
Jeffrey H. Cohen esclareceu que “para os turistas, os gafanhotos são vistos como uma iguaria ou uma novidade. Mas para os moradores locais, é apenas comida”, que “faz parte das refeições há milhares de anos.”
Uma refeição fácil de preparar, sendo os gafanhotos mergulhados em água a ferver, o que os deixa com uma cor vermelha intensa. Em seguida, são colocados numa superfície de sobre o fogo com alho, limão, pimenta e outros temperos, e em poucos minutos ficam prontos para comer.
Há séculos que os gafanhotos têm sido uma importante fonte de proteína para as populações locais, mas seu status mudou após a conquista espanhola, quando foram introduzidos novos alimentos na região.
“Os espanhóis achavam que comer gafanhotos (saltamontes em espanhol) era algo absurdo – não era algo que realmente fosse de comer”, disse Jeffrey H. Cohen.
Nas décadas de 1920 e 1930, o governo mexicano impulsionou uma nova agenda alimentar, em que as autoridades incentivavam os moradores locais a comer o que eles consideravam ser “alimentos nutritivos mais modernos”, substituindo os pratos locais favoritos, como tortilhas por pão e chapulines por outros tipos de proteína, como carne bovina e suína.
Embora muitos mexicanos incorporassem outros alimentos às suas refeições, comer gafanhotos nunca desapareceu do cardápio mexicano. Os gafanhotos encontravam-se facilmente nos campos ao redor das casas e por isso mais um acesso mais barato do que outras opções alimentares.
Recolher, preparar e vender chapulines tornou-se um trabalho importante e muitas vezes vital para muitas mulheres, dado que, referiu Jeffrey H. Cohen, “as mulheres que vendiam gafanhotos nos mercados locais tornaram-se importantes ganha-pão das suas famílias, com remunerações que podem superar as dos profissionais nas cidades”.
Durante a pandemia de COVID-19, quando os mercados fecharam, as chapulineras – as mulheres que vendem chapulines – encontraram maneiras inovadoras de vender os gafanhotos. Elas criaram uma economia sem contato usando o WhatsApp e outros serviços de mensagens para se conectar com os clientes, deixando os produtos comprados do lado de fora das casas para serem recolhidos. Algumas também ofereceram empréstimos sem juros para pessoas que não tinham condições de pagar os pedidos.
O significado e o valor dos chapulines mudaram novamente, recentemente, já que Oaxaca tornou-se um popular destino turístico.
“Para muitos apreciadores da gastronomia e outros turistas, provar chapulines torna-se uma forma de vivenciar o passado, de sentir que estão conectados a uma longa história exótica”, disse Jeffrey H. Cohen, e as chapulineras “sabem como conquistar os apreciadores da culinária. Elas falam sobre a tradição de 3.000 anos e como ela remonta aos seus ancestrais que aí viveram”. Mas, também usam “discursos mais modernos”, enfatizando “a nutrição e o alto teor de proteína”, o que leva a “uma conexão com os turistas”.
Mas mulheres sabem atrair turistas para o manjar de gafanhotos, mas também sabem que não é suficiente para uma remuneração, que só o mercado de alimentar os moradores locais lhe dão o ganho, e não os turistas apreciadores da boa comida que param para saborear o passado.
Jeffrey H. Cohen referiu: “A maneira como as mulheres me descreveram foi que se um turista passa e compra um saco de gafanhotos, isso é ótimo, mas eles vão-se embora e nunca mais voltarão a ser vistos”, e “o que é preciso fazer é vender gafanhotos por quilo para as pessoas que moram no local, e se não se fizer isso, não se ganha dinheiro suficiente.”
Embora a cultura e o significado dos chapulines tenham mudado ao longo dos séculos, seu apelo perdurou, e é improvável que isso mude, e referiu Jeffrey H. Cohen, “ainda me surpreende o quanto os chapulines continuam fazendo parte da vida quotidiana em Oaxaca, e o quão incrivelmente importantes são para a economia e para a cultura da região”.














