Novo medicamento protege coração após enfarte do miocárdio

Estudo de investigação conclui que o fármaco LCZ696 pode prevenir rutura cardíaca e insuficiência cardíaca após enfarte agudo do miocárdio. O estudo indica que o tratamento com o novo fármaco diminui a morte cardíaca e a hospitalização.

Trabalho em Laboratório
Trabalho em Laboratório. Foto: © Rosa Pinto/arquivo

Atualmente existem vários tipos de fármacos para a insuficiência cardíaca, como é o caso do novo fármaco LCZ696 que é recomendado para tratamento de primeira linha para a insuficiência cardíaca crónica.

O LCZ696 é melhor que os fármacos convencionais na redução da morte cardíaca e na redução da necessidade de hospitalização por insuficiência cardíaca, conclui estudo desenvolvido por investigadores da Universidade de Kumamoto, no Japão.

Os investigadores concluíram que o LCZ696, com nome comercial Entresto, pode prevenir a rutura cardíaca e insuficiência cardíaca após enfarte agudo do miocárdio, que é uma das causas da insuficiência cardíaca crónica.

No mundo, as doenças cardíacas são a principal causa de morte, e a maioria das mortes são causadas por insuficiência cardíaca e enfarte agudo do miocárdio. No passado, os inibidores da enzima de conversão da angiotensina (inibidores da ECA) ou bloqueadores dos recetores de angiotensina II (ARBs) foram utilizados em combinação com outros medicamentos como terapia inicial para a insuficiência cardíaca e o enfarte agudo do miocárdio. Os inibidores da ECA e os ARBs inibem o sistema responsável pela regulação da pressão sanguínea, o sistema Renin-Angiotensin-Aldosterone (RAAS), que causa alta pressão arterial quando se torna hiperativo.

O LCZ696 é um novo fármaco que combina Valsartan, um fármaco anti-hipertensivo tradicional e o Sacubitril, que tem um efeito protetor de órgãos. O Sacubitril inibe a neprilisina, que é responsável pela degradação do Péptido Natriurético Atrial (ANP) e do Péptido Natriurético de Tipo B (BNP), envolvidos na redução da pressão arterial.

Um estudo clínico de grande escala realizado, em 2014, em pacientes com insuficiência cardíaca crónica com fração de ejeção reduzida (percentagem de sangue que sai do coração em cada contração) concluiu que o número de óbitos por paragem de coração e hospitalizações por insuficiência cardíaca foi significativamente reduzido com o tratamento com LCZ696, em comparação com os inibidores da ECA existentes. Atualmente o LCZ696 é amplamente utilizado na Europa e nos Estados Unidos como primeiro medicamento para a insuficiência cardíaca crónica.

O LCZ696 ou Entresto foi estabelecido como um tratamento crónico de insuficiência cardíaca porque suprime a ação RAAS e aumenta a função do sistema péptico natriurético, que protege o coração. No entanto, ainda não está demonstrado se é útil na fase aguda do enfarte agudo do miocárdio, que causa insuficiência cardíaca crónica. Num enfarte do miocárdio, a parede entre as áreas necrótica e não necrótica do coração é rasgada, causando rutura e sangramento no limite. Dez por cento das mortes por enfarte do miocárdio é atribuída à rutura cardíaca.

Os investigadores examinaram o efeito do LCZ696, usando um modelo de rato com enfarte do miocárdio artificial. Um dia depois do enfarte do miocárdio ter sido provocado nos ratos, os ratos foram divididos em grupos, um grupo (1) não recebeu nenhum tratamento (designado grupo controle), o grupo (2) recebeu um inibidor da ECA e os ratos do grupo (3) receberam o LCZ696. Os investigadores descobriram que a taxa de mortalidade por rutura cardíaca ocorrida dentro de uma semana após o enfarte do miocárdio foi significativamente menor no grupo (3) tratado com o LCZ696 do que nos outros dois grupos.

A expressão de genes na área do enfarte do miocárdio foi analisada para investigar o mecanismo que o LCZ696 poderia inibir para a ruptura cardíaca. Os investigadores descobriram que a expressão de genes envolvidos em citocinas relacionadas com a inflamação (IL-1β, IL-6) e na MMP-9 (ou gelatinase B) degradante de tecido, foi claramente reduzida no grupo de tratamento com LCZ696. Um aumento na função do gene MMP-9 é conhecido por estar relacionado com as causas da rutura cardíaca.

Os investigadores através de observações microscópicas do tecido patológico do coração mostraram que o número de células inflamatórias permaneceu inalterado em todos os grupos, mas a atividade de MMP-9 foi claramente reduzida no grupo sujeito ao tratamento com LCZ696. Em experiências com cultivo de macrófagos de ratos, os investigadores confirmaram que a ação inflamatória de citocinas e MMP-9 pode ser mais suprimida usando o LCZ696 em vez de usar o Valsartan ou o Sacubitril.

Masanobu Ishii, investigador da Universidade de Kumamoto referiu que o “LCZ696 é um novo fármaco que melhora o prognóstico de pacientes com insuficiência cardíaca crónica”, e acrescentou que “a cardiopatia isquémica, especialmente o enfarte do miocárdio, é uma das causas da insuficiência cardíaca crónica e o estudo revelou que o LCZ696 tem um efeito cardio-protetor contra o enfarte do miocárdio”.

Koichi Kaikita, outro dos investigadores envolvidos no estudo, referiu que o LCZ696 “melhora o prognóstico de um paciente pela supressão da ruptura cardíaca”, e acrescentou: “No futuro, espera-se que LCZ696 seja usado não só para tratar insuficiência cardíaca crónica, mas também como terapia após enfarte agudo do miocárdio”.

Os resultados da investigação foram apresentados no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia 2017, realizado em Barcelona, ​​Espanha, de 26 a 30 de agosto de 2017, e publicado online no ‘JACC; Basic to Translational Science’, em 28 agosto de 2017.