Anticorpos contra o coronavírus da COVID-19 mantêm-se até sete meses após infeção

Investigação portuguesa mostra que uma pessoa infetada com COVID-19 pode manter anticorpos detetáveis e neutralizantes contra o coronavírus SARS-CoV-2 até sete meses após infeção. A investigação foi liderada pelo iMM, em Lisboa.

Anticorpos contra o coronavírus da COVID-19 mantêm-se até sete meses após infeção
Anticorpos contra o coronavírus da COVID-19 mantêm-se até sete meses após infeção.

Investigação liderada por Marc Veldhoen, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM), em Portugal, mostrou que os anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2 persistem durante meses nas pessoas que foram infetadas. Neste novo estudo foram detetados anticorpos até sete meses após a infeção, em 90% dos indivíduos analisados.

O estudo que envolveu uma equipa interdisciplinar de médicos e investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) e colaboradores do Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST), mostrou que a gravidade da doença influencia os níveis de anticorpos produzidos, uma influência que não acontece com a idade.

As investigadoras Patrícia Figueiredo-Campos e Birte Blankenhaus, primeiras autoras do artigo publicado na revista científica European Journal of Immunology, começaram a configurar um teste de serologia para a COVID-19 sensível, específico e versátil, desde o início do estudo em março de 2020. O Serology4COVID teve a otimização e validação do ensaio enquadrada pelo consórcio de 5 institutos de Lisboa e Oeiras.

Os investigadores, em colaboração com médicos do campus do Hospital de Santa Maria, monitorizaram os níveis de anticorpos de 300 pacientes de COVID-19 e profissionais de saúde da unidade hospitalar e mais de 200 voluntários que contraíram COVID-19.

Marc Veldhoen explicou, citado em comunicado do iMM: “O nosso sistema imunitário produz anticorpos em resposta a qualquer coisa que não faça parte do nosso corpo, como um vírus, e que nos ajuda a combatê-lo. Os resultados deste estudo transversal de mais de seis meses, até ao 7º mês depois da infeção, mostram um padrão clássico de resposta imunitária, com um rápido aumento dos níveis de anticorpos nas primeiras três semanas após os sintomas da COVID-19 e uma redução subsequente”.

O investigador acrescentou: “Na fase inicial de resposta, os nossos resultados mostram que em média os homens produzem mais anticorpos do que as mulheres, mas os níveis equilibram-se durante a fase de resolução e são semelhantes entre os sexos nos meses após a infeção por SARS-CoV-2″.

Na fase aguda da resposta imunitária, a equipa de investigação observou níveis mais elevados de anticorpos em indivíduos com piores sintomas e maior gravidade da doença. Mas também observou que não havia diferenças significativas de anticorpos em diferentes faixas etárias. Globalmente, a presença de anticorpos foi detetada em 90% dos indivíduos até sete meses após a infeção.

Os investigadores avaliaram se os anticorpos detetados tinham uma atividade neutralizante contra o vírus SARS-CoV-2. O trabalho realizado em colaboração com o Instituto Português do Sangue e Transplantação permitiu analisar, que embora se tenha “observado uma redução nos níveis de anticorpos, os resultados dos nossos ensaios de neutralização mostraram uma atividade robusta até ao sétimo mês depois da infeção numa grande proporção de indivíduos previamente testados positivamente para a COVID-19”.

Marc Veldhoen indicou: “O nosso trabalho fornece informações detalhadas para os ensaios utilizados, facilitando uma análise posterior e longitudinal da imunidade protetora contra o SARS-CoV-2. É importante salientar que este estudo mostra um nível contínuo de anticorpos neutralizantes circulantes na maioria das pessoas com infeção por SARS-CoV-2 confirmada”.

Mas “os próximos meses serão essenciais para avaliar a robustez da resposta imunitária à infeção por SARS-CoV-2 e encontrar pistas para algumas questões em aberto, como a duração desta resposta imunitária ou se existe a possibilidade de reinfeção”, concluiu o investigador.