
Após a lesão de um ataque cardíaco, as células imunitárias chamadas neutrófilos libertam um peptídeo que perfura as células cardíacas em stress e destabiliza a sua atividade elétrica. Isto desencadeia arritmias fatais, mostra estudo já publicado na revista “Science”.
Os resultados do estudo oferecem potencial para a decisão de alvo terapêutico para estes eventos cardíacos fatais.
A doença cardíaca isquémica, que é uma lesão cardíaca provocada pelo estreitamento das artérias coronárias, está entre as principais causas de morte no mundo. Pode levar a ataques cardíacos e a morte cardíaca súbita.
Como descrevem os investigadores quando uma artéria coronária fica bloqueada, os cardiomiócitos sofrem privação de oxigénio, levando à interrupção da capacidade de gerir iões como o sódio e o cálcio, e assim, a uma perigosa instabilidade elétrica e a arritmias fatais, que para as quais existem poucas opções de tratamento além da desfibrilhação.
A maioria das arritmias ocorre nos primeiros 2 dias após um ataque cardíaco, o que coincide com a resposta inflamatória celular característica à lesão cardíaca. Sabe-se que os neutrófilos, recrutados em grande número durante a resposta, interferem com a condução elétrica celular normal e estão implicados em danos teciduais não intencionais. Embora isto destaque os neutrófilos como um alvo potencial para futuras terapias, no entanto, para os investigadores o seu papel completo na promoção de arritmias ainda não está totalmente esclarecido.
A investigadora Nina Kumowski e a equipa de investigadores envolvidos no estudo utilizaram modelos murinos de lesão isquémica, juntamente com estudos com tecidos e células humanas, e verificaram que a molécula γ semelhante à proteína resistina como um fator-chave derivado de neutrófilos que promove arritmias após um ataque cardíaco.
Nina Kumowski descreve que o RELMy – um peptídeo antimicrobiano formador de poros – destabiliza o ritmo cardíaco ligando-se e atacando os cardiomiócitos em stress. Uma vez ligado, o peptídeo perfura as membranas dos cardiomiócitos, criando poros que alteram o fluxo iónico celular, desencadeando uma despolarização retardada, a morte celular e a formação de anomalias teciduais que promovem a arritmia.
Usando modelos murinos, os investigadores verificaram que a remoção de RELMγ dos neutrófilos reduziu a arritmia ventricular em 12 vezes, o que confirma que o peptídeo causa instabilidade elétrica no coração lesado.
O homólogo humano deste peptídeo, a resistina (RETN), foi detetada em amostras de tecido miocárdico humano de infarto, e níveis circulantes mais elevados de RETN correlacionaram-se com piores resultados para os doentes, destacando a sua potencial relevância clínica.













