Cientistas alertam para a pandemia licenciosa da resistência antimicrobiana

Cientistas alertam para a pandemia licenciosa da resistência antimicrobiana
Cientistas alertam para a pandemia licenciosa da resistência antimicrobiana

O sucesso da medicina moderna reside na capacidade de controlar infeções. No entanto, décadas de uso excessivo de antibióticos, em hospitais, comunidades e na veterinária alimentaram um aumento global de micróbios resistentes. As “superbactérias” prosperam onde os antibióticos são usados ​​livremente e mal regulamentados, disseminando-se silenciosamente entre humanos, animais e no meio ambiente.

O monitoramento internacional revelou diferenças acentuadas entre os países, impulsionadas por políticas de medicamentos e sistemas de saúde distintos. Em regiões em desenvolvimento, a vigilância deficiente e a venda de antibióticos sem receita agravaram a crise. Diante desses desafios, investigadores voltaram-se para uma questão urgente: como o mundo pode conter a resistência antimicrobiana (RAM) antes que ela ultrapasse a medicina moderna?

Uma equipa de investigadores da Universidade de Jilin e do Hospital do Peking Union Medical College publicou uma revisão abrangente no “Medical Journal of Peking Union Medical College Hospital”. O estudo integra dados de monitoramento global e insights clínicos para mapear a disseminação de bactérias e fungos resistentes. Ao revelar os mecanismos moleculares e os desafios do tratamento da resistência antimicrobiana (RAM), o estudo fornece uma base científica para ações globais e destaca como o uso estratégico de antibióticos pode desacelerar o avanço da resistência.

Os investigadores examinaram dados de programas internacionais de vigilância, como CARS, SENTRY e One Health Trust–ResistanceMap, revelando variações globais impressionantes. Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae continuam a ser os principais agentes causadores, com estirpes produtoras de Betalactamases disseminadas na Ásia e variantes resistentes a Carbapenemas em ascensão na Europa e nas Américas.

As notórias Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa são particularmente difíceis de tratar, apresentando níveis de resistência superiores a 70% em algumas regiões. Em contraste, o norte da Europa registra taxas de um dígito, refletindo uma gestão antimicrobiana eficaz.

No que diz respeito aos fungos, Candida auris emergiu como um patógeno quase pan-resistente, enquanto Aspergillus fumigatus está desenvolvendo resistência a azóis, em parte impulsionada pelo uso de fungicidas agrícolas. A revisão analisa as vias genéticas, como a expansão da Betalactamases, a evolução da carbapenemases e a superexpressão da bomba de efluxo, que estão na base dessas ameaças.

Em resposta, os investigadores recomendam o tratamento individualizado guiado por dados farmacocinéticos e farmacodinâmicos, incluindo o uso de inibidores da Betalactamases, tigeciclina e combinações à base de polimixinas. A mensagem é clara: a prescrição criteriosa e a cooperação global são tão vitais quanto o desenvolvimento de novos medicamentos no combate à resistência.

A resistência antimicrobiana representa uma pandemia de evolução lenta“, afirmou Xuesong Xu, autor principal do estudo. “A nossa revisão mostra que os padrões de resistência estão em constante mudança, moldados pelo comportamento humano, pelos sistemas de saúde e por fatores ambientais. Nenhum país pode travar a batalha sozinho. O que é necessário é uma estratégia unificada de Saúde Única que integre medicina, agricultura e ecologia. Somente fortalecendo a vigilância, otimizando o uso de antibióticos e fomentando a inovação poderemos evitar um futuro em que infeções comuns voltem a ser fatais.”

As descobertas ressaltam uma verdade fundamental: a resistência antimicrobiana não é apenas uma questão médica, mas um desafio sistémico global. Os investigadores do estudo defendem a vigilância internacional coordenada, controlos de prescrição mais rigorosos e o uso responsável de antibióticos na agricultura.

Os hospitais devem adotar diagnósticos genómicos e sistemas de decisão assistidos por inteligência artificial para personalizar terapias em tempo real. O investimento em antimicrobianos de nova geração e inibidores de Betalactamases é igualmente urgente. Além dos medicamentos, a educação e a reforma das políticas públicas são essenciais para preservar a eficácia dos tratamentos existentes. Se a colaboração global for bem-sucedida, a maré da resistência ainda poderá ser revertida, garantindo os alicerces da medicina moderna para as gerações futuras.