Eurodeputados pedem intervenção da Autoridade Bancária Europeia no caso Luanda Leaks

Parlamento Europeu aprova resolução que apela à Autoridade Bancária Europeia para que realize inquérito sobre revelações do caso Luanda Leaks, e às autoridades nacionais que realizarem investigações sobre as revelações que foram conhecidas.

Eurodeputados pedem intervenção da Autoridade Bancária Europeia no caso Luanda Leaks
Eurodeputados pedem intervenção da Autoridade Bancária Europeia no caso Luanda Leaks. Foto: © Rosa Pinto

Para o Parlamento Europeu (PE) as revelações feitas nos últimos anos, incluindo os Panama Papers, o Lux Leaks, os Paradise Papers e o Luanda Leaks, “evidenciam a necessidade de a União Europeia (UE) continuar a dar prioridade à luta contra o branqueamento de capitais e atualizar o seu quadro legislativo”.

Estes escândalos “abalaram repetidamente a confiança dos cidadãos nos nossos sistemas financeiros e fiscais”, referiu o PE, e por isso pediu para que sejam tomadas medidas para restabelecer a confiança pública, assegurar a existência de regimes de tributação equitativos e justos e garantir a justiça fiscal.

Intervenção da Autoridade Bancária Europeia no Luanda Leaks

Num dos pontos da resolução aprovada hoje pelo PE é feito um pedido à Autoridade Bancária Europeia para que esta realize um inquérito sobre as revelações do caso Luanda Leaks, em particular para “avaliar se tiveram lugar violações da legislação nacional ou da UE e analisar as medidas tomadas pelos supervisores financeiros”.

Os eurodeputados exortam a Autoridade Bancária Europeia a formular recomendações às autoridades competentes com vista à “realização de reformas e à adoção de medidas”. Os parlamentares instam também as autoridades nacionais a iniciarem ou a prosseguirem as investigações sobre as revelações do caso Luanda Leaks e a intentarem ações contra as partes interessadas que violem as normas em matéria de luta contra o branqueamento de capitais.

O Parlamento Europeu pede ainda que o Banco Central Europeu (BCE) esteja habilitado a retirar as licenças a quaisquer bancos operantes na área do euro que violem as obrigações em matéria de luta contra o branqueamento de capitais, “independentemente da avaliação das autoridades nacionais responsáveis”.

Melhorar a supervisão e a aplicação das regras europeias

Na resolução, o PE saúda o plano de ação apresentado pela Comissão Europeia no dia 7 de maio para reforçar a luta contra o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo, que define as sucessivas etapas e as propostas que deverão ser apresentadas nos próximos 12 meses.

Os eurodeputados reiteram que a luta contra o branqueamento de capitais e a corrupção “deve começar na própria UE” e que esta tem de “abordar seriamente os seus próprios problemas internos, nomeadamente no que diz respeito às suas jurisdições com segredo bancário e tributação reduzida”.

O PE faz uma série de recomendações para melhorar a aplicação e execução da legislação europeia em vigor, intensificar a cooperação entre as autoridades administrativas, judiciais e policiais dos Estados-Membros, facilitar o congelamento e a recuperação de bens de origem criminosa, reforçar a supervisão e estabelecer um conjunto mais harmonizado de sanções a nível da UE.

O alerta para crimes relacionados com a COVID

Na resolução o PE insta os Estados-Membros a investigarem de forma “exaustiva e transparente” todos os casos revelados de branqueamento de capitais e crimes conexos e a estarem atentos a crimes relacionados com a COVID-19, como a fraude, a cibercriminalidade e o desvio e a utilização abusiva dos fundos públicos e da assistência financeira internacional.

A exclusão de acesso a meios financeiros da UE – incluindo apoios criados no âmbito da resposta às consequências económicas e sociais da COVID-19 – por parte de entidades sediadas em paraísos fiscais é outra das medidas defendidas nesta resolução.

O PE relembra também o apelo que endereçou aos Estados-Membros para que “ponham termo gradual, o mais rapidamente possível”, a todos os regimes em vigor de cidadania pelo investimento ou de residência pela atividade de investimento, Para minimizar a ameaça, muitas vezes conexa, de branqueamento de capitais.

Cerca de 1% (160 mil milhões de euros) do produto interno bruto anual da UE está ligado a atividades financeiras suspeitas, como o branqueamento de capitais relacionado com a corrupção, o tráfico de armas e de seres humanos, o tráfico de droga, a evasão e a fraude fiscais, o financiamento do terrorismo e outras atividades ilícitas, segundo dados da Comissão Europeia.