Investigação da UC melhora sintomas da doença de Huntington

Investigadores do CNC da UC mostraram que a ativação de uma enzima envolvida na energia das células melhora os sintomas da doença de Huntington. Os compostos ativantes podem ser usados clinicamente e a enzima apresenta-se como alvo terapêutico.

Teresa Cunha-Oliveira, Ana Cristina Rego e Luana Naia (da esquerda para a direita), investigadoras do CNC
Teresa Cunha-Oliveira, Ana Cristina Rego e Luana Naia (da esquerda para a direita), investigadoras do CNC. Foto: DR

Estudo de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra (UC), liderado por Ana Cristina Rego, mostrou ser possível melhorar os sintomas da doença de Huntington através da ativação da enzima desidrogenase do piruvato.

A doença de Huntington é uma doença neurodegenerativa hereditária que afeta o movimento e não possui cura. Vários grupos de investigação de diferentes instituições, incluindo o do CNC, têm vindo a mostrar que as fábricas da energia das células (as mitocôndrias) desempenham um papel importante na perda neuronal e neurodegenerescência que ocorre doença e em outras doenças neurodegenerativas.

A equipa de investigadores do CNC verificou que o funcionamento da desidrogenase do piruvato (uma enzima envolvida na energia das células) era melhorado quando era bloqueada a atividade de outro grupo de enzimas, desacetilases das histonas, que regulam a expressão dos genes.

O aumento da atividade da desidrogenase do piruvato permitiu melhorar a produção de energia da célula (através da função das mitocôndrias que são a “fábrica” de energia das células) e recuperar a função motora, neste caso em ratinhos de laboratório com a doença, indicou a UC.

Ana Cristina Rego, citada em comunicado da UC, esclareceu que “a doença apresenta alterações na transcrição de genes, um processo muito importante para que as células possam funcionar normalmente.”

“Utilizámos compostos que afetam a epigenética da célula, ou seja, a forma como a célula regula a transcrição de genes importantes para o seu funcionamento. Os compostos inibem a atividade das desacetilases das histonas, aumentando os níveis de transcrição de genes, levando à ativação da desidrogenase do piruvato”, indicou a investigadora.

Os investigadores compararam células e ratinhos de laboratório com a doença de Huntington e células e ratinhos de controlo sem doença, e verificaram que os grupos com doença tratados com compostos que induzem a ativação da desidrogenase do piruvato, através do aumento da transcrição de genes, apresentaram uma melhoria da função das mitocôndrias e de sintomas motores que se aproximavam dos grupos de controlo (sem a doença).

O estudo, já foi publicado na revista científica ‘The Journal of Neuroscience”, da Sociedade Americana de Neurociências, conclui que a ativação da enzima desidrogenase do piruvato melhora a saúde das células mutantes presentes na doença de Huntington através de compostos específicos.

Para Ana Cristina Rego “os compostos poderão ser usados clinicamente para atrasar a progressão da doença de Huntington”. E a investigadora indicou “que a enzima desidrogenase do piruvato parece ser um alvo terapêutico muito promissor”, pelo que “poderão ser encontradas outras formas de tratar a disfunção desta enzima”.

Para o desenvolvimento da investigação a equipa do CNC teve a colaboração do Centre for Molecular Medicine and Therapeutics, Child and Family Research Institute, University of British Columbia de Vancouver, no Canadá, que cedeu os ratinhos transgénicos estudados.

O estudo teve financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, do COMPETE, Programa Operacional Fatores de Competitividade, QREN, da União Europeia (FEDER, Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional), Programa Operacional Potencial Humano, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa através da primeira edição do prémio Mantero Belard e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).