Medicamento de cessação tabágica aumenta risco de acidentes cardiovasculares

Varenicline, um dos mais comuns medicamentos, prescrito para ajudar as pessoas a parar de fumar, pode levar a um maior risco de acidente cardiovascular, de acordo com estudo publicado no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine.

Medicamento de cessação tabágica aumenta risco de acidentes cardiovasculares
Medicamento de cessação tabágica aumenta risco de acidentes cardiovasculares. Foto: ATS

Investigadores, no Canadá, referem que verificaram que os pacientes prescritos com vareniclina, para cessação tabágica, com nome comercial Chantix, nos EUA, e Champix, no Canadá e na Europa, apresentaram 34% de maior probabilidade de ter necessidade de ir a um serviço de emergência ou de ser hospitalizado, devido a um evento cardiovascular durante a toma do medicamento. No caso de pacientes que nunca tinham experimentado um evento cardiovascular, o aumento da incidência foi de apenas 12%.

Os investigadores estimaram que, entre todos os pacientes, tenha havido 3,95 eventos cardiovasculares adversos por cada 1.000 pessoas que tomaram vareniclina, para cessão tabágica, que podem ser atribuídos ao medicamento. Os investigadores referem que os médicos devem informar os doentes da possibilidade de a toma de vareniclina poder aumentar os riscos.

Os investigadores referem que encontraram um pequeno aumento nas visitas às emergências e hospitalizações por sintomas neuropsiquiátricos, no entanto indicam a descoberta não é robusta e clinicamente significativa.

Andrea S. Gershon, da Universidade de Toronto referiu que “estudos anteriores sobre a segurança da vareniclina não foram conclusivos e que a maioria examinou pessoas com características e origens relativamente semelhantes em ambientes altamente controlados”, e acrescentou: “Nós queríamos estudar a vareniclina entre todos os tipos de pessoas no mundo real.”

Os investigadores analisaram os registos médicos de 56.851 novos utilizadores de vareniclina, entre setembro de 2011 e fevereiro de 2015, residentes em Ontário. Os registos estudados envolveram os de um ano antes à data em que a vareniclina foi prescrita. Durante esse período, 4.185 e 4.720 pacientes tiveram um ou mais eventos cardiovasculares ou neuropsiquiátricos, respetivamente, e resultaram numa visita ao serviço de emergência ou a hospitalização.

A vareniclina é geralmente tomada por 12 semanas. Essas semanas foram consideradas como intervalo de risco e foram comparadas às semanas antes do início do tratamento e após o tratamento ter terminado. Os investigadores excluíram o período de controlo das seis semanas antes da vareniclina ser prescrita para evitar resultados de polarização, incluindo pacientes que acabaram de sofrer um evento cardiovascular e iniciaram vareniclina para reduzir o risco de outro evento.

Os eventos cardiovasculares incluíram ataque cardíaco, acidente vascular cerebral, arritmias, angina instável e doença vascular periférica, entre outros. Entre os eventos neuropsiquiátricos, os investigadores incluíram depressão, ansiedade, psicose, alucinações, insónia e automutilação.

Como o estudo é observacional, não permitiu determinar causa e efeito. Os investigadores indicaram que o estudo foi limitado por vários outros fatores, incluindo por não terem informações sobre se os pacientes deixaram de fumar, se tomaram outros medicamentos para ajudar a parar de fumar e se a retirada de nicotina representou alguns dos eventos neuropsiquiátricos relatados.

De acordo com os investigadores, outros estudos descobriram que a vareniclina triplica a probabilidade de uma pessoa deixar de fumar. Esse benefício de saúde a longo prazo deve ser levado em consideração, ao considerar os riscos potenciais de tomar vareniclina durante 12 semanas.

“A interrupção do consumo de tabaco reduz consideravelmente as possibilidades e uma pessoa desenvolver doenças cardíacas e cancro, e tem muitos outros benefícios para a saúde”, referiu Andrea S. Gershon. As atuais “descobertas não devem ser usadas para sugerir que as pessoas não tomem vareniclina. As descobertas devem ser usadas para ajudar as pessoas a tomar uma decisão informada sobre se devem tomar vareniclina com base em informações precisas sobre seus riscos e seus benefícios”.

Andrea S. Gershon acrescentou que a descoberta do estudo também sugere que os médicos devem monitorar os pacientes que tomam vareniclina para detetar a ocorrência de eventuais eventos adversos.