Nova técnica permite estudar resistência das bactérias a antibióticos

Estudo liderado pelo investigador português André Nogueira Mateus, no European Molecular Biology Laboratory (EMBL), permitiu adaptar uma técnica ao estudo da resistência das bactérias aos medicamentos.

Bactérias E. coli coloridas em gradiente de calor
Bactérias E. coli coloridas em gradiente de calor. Imagem: © Aleksandra Krolik / EMBL

A resistência aos antibióticos está a espalhar-se por todo o mundo pelo que há uma grande necessidade de novas tecnologias para o estudo de bactérias. Investigadores do European Molecular Biology Laboratory (EMBL) adaptaram uma técnica já existente para estudar o comportamento de fusão das proteínas, para ser usada no estudo de bactérias. Os resultados foram publicados na Molecular Systems Biology, no dia 6 de julho, permitindo que os investigadores de todo o mundo possam usar a técnica.

A técnica Thermal proteome profiling (TPP) foi desenvolvida em 2014 e permite aos cientistas comparar o comportamento de fusão de todas as proteínas numa célula ou organismo antes e depois de uma perturbação, como a administração de um fármaco. Ao adaptar a TPP às bactérias, esta pode ser agora usada para estudar a atividade e a arquitetura da maioria das proteínas num célula de bactéria enquanto está viva. André Nogueira Mateus, investigador português, pós-doc, a trabalhar nos grupos de Mikhail Savitski e Typas no EMBL, liderou o estudo.

Bactérias e ação ao calor

Enquanto o corpo humano deixa de funcionar a uma temperaturas acima de 42° C, as bactérias E. coli ainda crescem regularmente até 45° C. “Descobrimos que as proteínas no meio de uma célula de bactéria são menos tolerantes ao calor do que as que se encontram à superfície da célula”, referiu Mikhail Savitski, e acrescentou: “Surpreendentemente, a localização de uma proteína é mais preditiva para o seu comportamento de fusão do que com as outras proteínas com as quais interage.”

Com a TPP, os investigadores também podem investigar os efeitos de fármacos em bactérias. As interações proteína-fármaco tipicamente aumentam a tolerância das proteínas ao calor, resultando em pontos de fusão mais altos. Assim, comparar a tolerância ao calor de células de bactérias sujeitas a fármacos e não sujeitas a fármacos ajuda a identificar alvos de drogas antimicrobianas, mas também a decifrar como a célula da bactéria sucumbe à droga ou tenta contornar sua ação.

Mecanismos de resistência a medicamentos

“Num caso particular, fomos capazes de elucidar um novo mecanismo de resistência a medicamentos”, referiu André Mateus, e esclareceu: “As células usam proteínas para bombear os antibióticos para fora da célula. Depois de remover geneticamente uma dessas bombas de efluxo do seu cromossoma, as bactérias tornaram-se mais sensíveis a muitas drogas, mas curiosamente mais resistentes a um antibiótico específico chamado aztreonam. Usando a TPP, descobrimos que isso se devia aos níveis dramaticamente reduzidos de uma porina específica – uma proteína que age como um poro – usada pelo aztreonam para entrar na célula.”

Em comparação com outras técnicas, a TPP permite aos cientistas investigar os efeitos de perturbações em milhares de proteínas individuais num curto espaço de tempo.

Os investigadores consideram que a maioria dos insights obtidos – como as mudanças na atividade de proteínas in vivo – seria impossível com outras técnicas convencionais e com tantas proteínas simultaneamente, o que mostra o potencial da TPP para estudar as bactérias em detalhe.