Reduzir mortes de crianças por doença cardiovascular é crucial

A morte de crianças por doença cardiovascular pode ser prevenida. Um estudo, associado a um projeto em curso no Brasil, indica que a prevenção pode ser feita com recurso a mudanças de hábitos alimentares e de exercício físico.

Reduzir mortes de crianças por doença cardiovascular é crucial
Reduzir mortes de crianças por doença cardiovascular é crucial. Foto: © Rosa Pinto/arquivo

Incentivar a prática de atividades físicas e melhorar a dieta de crianças é crucial para a redução de mortes por doenças cardiovasculares. Este é o objetivo de um projeto de uma escola, em São Paulo, Brasil. Os primeiros resultados acabam de ser apresentados no Congresso da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC 2019).

“A aterosclerose, que consiste do entupimento das artérias, começa na infância e tem maior probabilidade de se desenvolver em pessoas com estilo de vida sedentário e maus hábitos alimentares”, referiu Karine Turke, da Faculdade de Medicina do ABC, Santo André, São Paulo, e autora do estudo.

A investigadora, citada em comunicado, acrescentou: “A exposição a esses comportamentos ao longo da vida aumenta o risco de ataques cardíacos e derrames, e por isso a prevenção deve começar na infância. No entanto, as crianças estão passando mais tempo sentadas e consumindo alimentos processados, tornando a obesidade algo comum.”

É conhecido que as doenças cardiovasculares lideram o ranking de mortalidade mundial, sendo responsáveis por 17,9 milhões de mortes por ano. Só no Brasil morrem por ano cerca de 370.000 pessoas de doenças cardiovasculares. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que o número de crianças e bebés com sobrepeso ou obesidade aumentou globalmente de 32 milhões em 1990 para 41 milhões em 2016. E cerca de 3,2 milhões de mortes por ano são devidas ao sedentarismo.

O projeto na escola brasileira pretende recrutar 3.000 monitores (entre professores e alunos) para receberem educação cardiovascular. Estes monitores irão ensinar a 63 mil alunos, com idades dos 6 aos 18 anos de idade, de 210 escolas públicas do estado de São Paulo.

A educação cardiovascular vai abordar sete fatores de risco: inatividade física, obesidade, tabagismo/outras drogas, dislipidemia, pressão alta, diabetes e stress), e dois fatores de prevenção: alimentação saudável e atividade física regular. Os responsáveis pelo projeto esperam que as escolas promovam exercícios e bons hábitos alimentares. As informações serão transmitidas por meio de várias disciplinas, contando com a presença de cardiologistas, enfermeiros, professores e psicólogos.

O projeto-piloto apresentado no congresso mostra os resultados de referência referentes aos primeiros 433 alunos. A idade média foi de 13 anos e 51% eram do sexo masculino. O tempo médio dedicado a atividades físicas leves, moderadas e intensas ao longo de uma semana foi de 40, 60 e 60 minutos, respetivamente. O tempo médio sentado foi de 360 minutos por semana.

“A atividade física está muito abaixo do nível recomendado pela OMS, que é de 300 minutos por semana para crianças e adolescentes”, indicou Karine Turke. “Estilos de vida modernos promovem a interação por telemóvel e os videogames”. Há menos espaços adequados e tradicionais nas ruas, para as crianças poderem brincar fora de casa, no entanto “o programa incentiva menos tempo sedentário e encontrar maneiras de se movimentar mais.”

Dados do estudo indicam que em relação aos alimentos, 53% consumiram vegetais folhosos no dia anterior, 69% frutas, 91% carboidratos como arroz ou massas, 70% leguminosas, 79% carne/frango, 42% refrigerantes, 39% chocolates, 39% misturas de bebidas em pó, 42% salsichas e 49% doces, incluindo chocolates e rebuçados.

A investigadora indicou que “muitos tinham comido alimentos processados, que são de preparo mais fácil do que cozinhar a partir de ingredientes frescos”, agora os alunos vão aprender “a classificar alimentos como frescos, minimamente processados, processados e ultraprocessados, bem como a melhorar os alimentos frescos e minimamente processados”.

O estudo conclui que “defender a escolha de alimentos saudáveis e maior atividade física é essencial para parar a crise de obesidade no Brasil e no mundo e diminuir o número de mortes causadas por ataque cardíaco e derrame”.

Dalton Précoma, chefe da divisão de pesquisa da SBC 2019, referiu: “A queda da mortalidade por doenças cardiovasculares no Brasil estagnou, sugerindo a necessidade de novas estratégias para combater essas condições. Mais da metade da população está com peso a mais. Para prevenir doenças cardiovasculares, crianças e adolescentes são aconselhados a praticar atividade física moderada a intensa todos os dias e a limitar o tempo sedentário. Os pais devem criar um ambiente que promova esses comportamentos e serem modelos a seguir. Devem ser incentivados hábitos alimentares saudáveis ao longo da vida, como refeições em família, tomar café da manhã e limitar o consumo de fast-foods”.

Carlos Aguiar, diretor do programa da ESC na SBC 2019, referiu: “Melhorar os estilos de vida das crianças é uma responsabilidade coletiva. Os legisladores devem restringir a comercialização de junk foods e bebidas açucaradas para crianças. As escolas podem fornecer água potável fresca e alimentos saudáveis em bares e nas máquinas de venda automática, além de promover intervalos de atividade física regulares. As comunidades precisam de parques e jardins”. Um percurso que tem de ser feito “para reduzir os eventos cardiovasculares em longo prazo.”