“Repouso do Caminhante” – um albergue no Caminho da Geira em edifício de 200 anos

Sóbrio e acolhedor, o albergue “Repouso do Caminhante” em Beariz, no Caminho da Geira e dos Arrieiros, é obra do escritor, filósofo e Cavaleiro da Ordem de Santiago, José Balboa Rodríguez. Lugar com o espirito do peregrino. Funciona com donativos dos peregrinos.

“Repouso do Caminhante” - um albergue no Caminho da Geira em edifício de 200 anos
“Repouso do Caminhante” - um albergue no Caminho da Geira em edifício de 200 anos. Foto: DR

Os peregrinos a Santiago que seguem pelo Caminho da Geira passam a dispor de um albergue de acolhimento tradicional, “Repouso do Caminhante”, localizado em Beariz, na província galega de Ourense. O Caminho da Geira e dos Arrieiros passa a dispor, a partir de agora, de três albergues.

Este terceiro albergue é resultado da reabilitação de uma casa já com 200 anos, mas que após algumas obras, que duraram os últimos quatro meses, passou a poder receber até seis pessoas em três beliches. Mas como num albergue existe sempre espaço para mais um descansar, então podem ser acolhidas mais seis peregrinos com recurso a colchões e sacos-cama.

Trata-se de um projeto do escritor, filósofo e Cavaleiro da Ordem de Santiago, José Balboa Rodríguez, que explicou como surgiu a ideia: “Encantei-me pela casa e pensei que seria ideal para montar uma biblioteca, com cerca de quatro mil livros meus, onde eu e outras pessoas pudéssemos passar tempo com tranquilidade. No entanto, mudei de ideias e embarquei nesta aventura”.

José Balboa Rodríguez, já nos seus 87 anos, adquiriu o edifício que estava em ruinas, mas sempre com a ideia de, com o apoio da esposa, Lorena, dar-lhe um destino, que de biblioteca pessoal passou para albergue. Uma decisão em que espiritualidade do Caminho e a luta contra a desertificação foram duas das razões. “Acredito que o Caminho é um autêntico cordão umbilical para que as aldeias e o mundo rural por onde passa possam progredir ou renascer”, afirmou o escritor.

O edifício possui dois pisos, – uma casa de habitação e um curral – e está pronto a receber a partir de 20 de março de 2024 os primeiros peregrinos, mesmo que existam alguns “pormenores por concluir”, como o telhado que “será substituído mais tarde”.

O “Repouso do Caminhante” para além beliches, possui instalações sanitárias com duche, uma cozinha equipada com o essencial, incluindo fogão, frigorífico, louça e talheres, e uma área para estender roupa.

Para José Balboa Rodríguez o albergue será “um lugar onde os peregrinos possam descansar com toda a tranquilidade” e dessa forma “um estímulo, que contagie outros” peregrinos de Santiago. Para o escritor trata-se um projeto não económico, que funcionará com base em donativos dos peregrinos. Como refere o filósofo e Cavaleiro da Ordem de Santiago, se os peregrinos “deixarem um donativo para pagar a eletricidade e outras despesas, bendito seja Deus. E se não deixarem, bom caminho de qualquer maneira”.

Para além de na proximidades do albergue, a menos de 200 metros, se localizar uma farmácia, banco, lavandaria, talho, mercearia e um restaurante. José Balboa Rodríguez lembra que é conveniente que os peregrinos façam a reserva da estadia com dois ou três dias de antecedência para haver um melhor acolhimento.

Os peregrinos do Caminho da Geira e dos Arrieiros passam a ter ao dispor, além do “Repouso do Caminhante”, os albergues público de Santiago de Caldelas, no concelho de Amares, e o privado de Couso-Pontevea (donativo).

O Caminho da Geira, que possui 239 quilómetros, começa na Sé de Braga e passa pelos municípios de Amares, Terras de Bouro e Melgaço, entrando na Galiza pela Portela Homem. Para o verão de 2024, está previsto iniciar a reabilitação da aldeia de Varziela, em Castro Laboreiro, que incluirá um albergue.

Entretanto, está em desenvolvimento outro projeto, na zona da fronteira, que também prevê prestar apoio a peregrinos. A localidade de Béran, onde se encontra o Km 100 deste caminho, deverá igualmente dispor de um albergue a curto prazo.

O Caminho foi apresentado em 2017 em Ribadavia (Galiza) e Braga, reconhecido pela Igreja em 2019 e em publicações da associação de municípios transfronteiriços Eixo Atlântico (2020) e do Turismo do Porto e Norte de Portugal (2021). Dados indicam que nos últimos seis anos o Caminho foi percorrido por quase quatro mil peregrinos, sobretudo de Portugal e Espanha, mas também de outros 13 países europeus, e do Afeganistão, Aruba, Austrália, Azerbeijão, Bahamas, Belize, Brasil, China, Colômbia, EUA, Japão, México, Palestina ou Uruguai.

Um Caminho em que o percurso possui um traçado que liga diretamente à Catedral de Santiago de Compostela e que incluiu patrimónios únicos no mundo: a Geira, via do género mais bem conservada do antigo império ocidental romano, e a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés.