Risco de defeito cardíaco congénito no bebé

Aumento de nível de açúcar no sangue, no início da gravidez, aumenta risco de defeito cardíaco congénito no bebé, mesmo entre as mães que não têm diabetes, concluiu estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford.

A glicémia deve ser medida no início da gravidez, em todas as mulheres grávidas
A glicémia deve ser medida no início da gravidez, em todas as mulheres grávidas. Foto: Rosa Pinto

Os médicos sabem, há muito tempo, que as mulheres com diabetes enfrentam um risco acrescido de dar à luz bebés com defeitos cardíacos. No caso de mulheres não diabéticas alguns estudos têm vindo a indicar possível ligação entre os níveis de açúcar no sangue e o risco de defeito cardíaco nos bebés.

Agora um novo estudo liderado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, nos EUA, e já publicado no Journal of Pediatrics, examinou pela, primeira vez a ligação entre níveis de açúcar no sangue, na fase inicial da gravidez, quando o coração do feto está em formação, e risco de defeito cardíaco nos bebés.

Os resultados da investigação levou James Priest, autor sénior do estudo a referir que “a maioria das mulheres que tem uma criança com doença cardíaca congénita não é diabética”, e acrescentou: “Descobrimos que nas mulheres grávidas que não têm diabetes ou que desenvolvem diabetes durante a gravidez, podemos medir o risco da criança vir a ter doença cardíaca congénita, observando os valores de glicose durante o primeiro trimestre de gravidez”.

O desafio da investigação

O desafio associado à realização da investigação foi o facto da glicemia no sangue não ser medida por rotina em mulheres grávidas não diabéticas. As mulheres normalmente fazem um teste de tolerância oral à glicose ao meio do tempo da gravidez para determinar se têm diabetes gestacional, neste caso o teste é realizado muito depois do coração do feto estar formado.

Os investigadores estudaram registos médicos de 19.107 mães e dos seus bebés nascidos entre 2009 e 2015. Os registos incluíam detalhes do atendimento pré-natal das mães, como resultados do exame de sangue e diagnósticos cardíacos feitos aos bebés durante a gravidez ou após o nascimento. Os bebés com certas doenças genéticas, os que nasceram de gravidezes múltiplas e os de mães que apresentaram medidas extremamente baixas ou altas do índice de massa corporal não foram incluídos no estudo. Do total dos bebés do estudo, 811 foram diagnosticados com doença cardíaca congénita.

Os cientistas analisaram os níveis de glicose no sangue de amostras de sangue recolhidas das mães nas quatro semanas antes da data estimada da conceção e no final da 14ª semana gestacional, logo após o primeiro trimestre da gravidez. As medidas precoces de glicose no sangue estavam disponíveis para 2.292, ou seja, 13% das mulheres do estudo. Os investigadores também analisaram os resultados dos testes de tolerância oral à glicose realizados às 20 semanas de gestação, e que, neste caso, estavam disponíveis para 9.511, ou seja, para quase metade das mulheres.

Quando o risco é elevado

Depois de excluir as mulheres que tiveram diabetes antes da gravidez ou que a desenvolveram durante a gravidez, os resultados mostraram que o risco de dar à luz uma criança com defeito cardíaco congénito foi elevado em 8% por cada aumento de 10 miligramas por decilitro nos níveis de glicose no sangue, nos estágios iniciais da gravidez.

A glicémia deve ser medida no início da gravidez, em todas as mulheres grávidas

O próximo passo na investigação é realizar um estudo prospetivo que siga um grande grupo de mulheres durante a gravidez para ver se os resultados são confirmados, referiu James Priest. Os investigadores consideram que a glicémia deve ser medida no início da gravidez, em todas as mulheres grávidas, “para ajudar a determinar quais mulheres que correm maior risco de vir a ter um bebé com defeito cardíaco.”

O investigador considera que as informações sobre glicémia permitem selecionar as mulheres para as quais um rastreio do coração do feto poderia ser útil, dado que a moderna tecnologia de imagem pré-natal permite diagnósticos detalhados de muitos defeitos cardíacos congénitos antes do nascimento. “Conhecer os defeitos o mais cedo possível, no período pré-natal, vai permitir que as mães possam receber cuidados especializados que aumentem as possibilidades dos bebés serem mais saudáveis ​​após o nascimento”.

Este estudo da Universidade de Stanford insere-se na designada medicina de precisão, que tem como objetivo antecipar e prevenir doenças a partir de diagnósticos precisos e precoces.