Sobreviventes de cancro infantil têm risco elevado de meningiomas

Cientistas em tumores cerebrais descobriram o gene que causa o desenvolvimento de meningiomas em pessoas tratadas com radiação, que sobreviveram a cancro infantil. Deteção precoce dos meningiomas é crítica.

Gelareh Zadeh, cientista, neurocirurgiã, Princess Margaret Cancer Center, Canadá
Gelareh Zadeh, cientista, neurocirurgiã, Princess Margaret Cancer Center, Canadá. Foto: University Health Network

Neurocientistas no Canadá descobriram a base genética que está no facto de muitos sobreviventes de cancro infantil terem, décadas após o tratamento com radiação craniana, desenvolvido meningiomas, o tumor cerebral adulto mais comum.

Os resultados da investigação já se encontram publicados na revista ‘Nature Communications‘, na sua versão online, e mostram que a radiação a que são submetidas as crianças com cancro causa rearranjos genéticos no ADN levando ao aparecimento de meningiomas.

Os investigadores compararam e contrastaram a biologia dos meningiomas induzidos por radiação (RIM, sigla em inglês) com os que aparecem esporadicamente na população em geral. Gelareh Zadeh, neurocirurgiã, investigadora na Universidade de Toronto e coautora do estudo, referiu que “os meningiomas induzidos por radiação aparecem da mesma forma na ressonância magnética, na patologia, e no microscópio operacional.”

O que há de diferença nestes meningiomas é que “são mais agressivos, tendem a repetir-se e a invadir o cérebro, causando limitações significativas ou deficiências, e a morte, para os indivíduos que sobreviveram após a radiação da infância”.

A equipa de investigadores analisou os RIM de pacientes que receberam radiação crânio-espinhal, e verificaram que a maioria dos pacientes, cerca de 74%, tinha sobrevivido a leucemia ou cancro do cérebro pediátrico.

O estudo mostrou que as RIM desenvolveram-se, independentemente da dose de radiação. Compreendida a biologia, “o objetivo é identificar uma estratégia terapêutica que possa ser implementada no início da radiação de uma criança, com cancro, para prevenir, em primeiro lugar, a formação dos tumores”.

Para Ken Aldape, neuropatologista e investigador, trata-se de “um problema clínico importante porque apresenta um dilema paradoxal de que, enquanto a radiação crânio-espinhal é necessária para curar muitos cancros de infância, tem como consequência infeliz passados 10 a 15 anos, que alguns sobreviventes desenvolvem meningiomas.

Ken Aldape referiu que a investigação permitiu identificar “um rearranjo específico envolvendo o gene NF2 que causa meningiomas induzidos por radiação”, no entanto, o investigador considera que “há provavelmente outros rearranjos genéticos que ocorrem como resultado da radiação induzida”.

Para o neuropatologista um “dos próximos passos é identificar o que o a radiação faz com o ADN das meninges”, mas a grande urgência é “identificar o subconjunto de pacientes que tiveram cancro infantil e que estão em grande risco de desenvolver meningioma para que possam ser seguidos para que haja uma deteção e gestão precoce”.