Uso de baricitinib no tratamento da COVID-19 reduz mortalidade

Medicamento baricitinib usado para a artrite reumatoide mostra ser eficaz na redução da mortalidade quando usado em pacientes COVID-19, com a doença em estado moderado ou grave.

Uso de baricitinib no tratamento da COVID-19 reduz mortalidade
Uso de baricitinib no tratamento da COVID-19 reduz mortalidade. Na esquerda da imagem Volker M. Lauschke, Instituto Karolinska. Foto: Jannis Politidis, na direita da imagem Ali Mirazimi, Instituto Karolinska. Foto: Martin Stenmark

O medicamento baricitinib, usado no tratamento da artrite reumatoide, pode bloquear a entrada do novo coronavírus e reduzir a mortalidade em pacientes com COVID-19 moderado a grave, concluiu investigação translacional realizada por uma equipa internacional coordenada por investigadores do Instituto Karolinska, na Suécia.

Volker Lauschke do Departamento de Fisiologia e Farmacologia do Instituto Karolinska referiu que o estudo verificou “uma redução de 71% na mortalidade nos pacientes que receberam baricitinib, além do tratamento padrão”.

O investigador também acrescentou: “Os resultados são especialmente encorajadores, visto que o estudo incluiu uma grande coorte de pacientes idosos, um grupo que muitas vezes é excluído em outros estudos”.

No estudo, já publicado na revista Science Advances, 83 pacientes hospitalizados com pneumonia COVID-19, em Itália e na Espanha, foram tratados com baricitinib, além do tratamento padrão. Dos 83 pacientes, 17% sofreram um resultado adverso que resultou em morte ou ventilação mecânica invasiva. Em comparação com 35% no grupo de controlo que recebeu apenas o tratamento padrão. Os pacientes tinham uma idade média de 81 anos.

O medicamento é bem tolerado

O medicamento foi, geralmente, bem tolerado com redução da inflamação desde os primeiros dias de tratamento. Os efeitos colaterais relatados anteriormente ao uso de longo prazo de baricitinib incluíam coagulopatia e trombose, mas neste caso de utilização esses efeitos não foram evidentes em nenhum dos pacientes, possivelmente devido ao tratamento com medicamento anticoagulante.

No entanto, foram observados alguns eventos adversos, incluindo infeções bacterianas e complicações gastrointestinais e cardiovasculares, embora estes eventos também tenham sido observados no grupo de controlo, portanto, não está claro o que, se alguma coisa, pode ser atribuída ao baricitinib.

Num estudo anterior, a mesma equipa de investigadores usou a inteligência artificial (IA) para identificar o baricitinib como um candidato promissor de reaproveitamento para o tratamento da COVID-19. O estudo também mostrou como o medicamento inibiu a inflamação e reduziu a carga viral de SARS-CoV-2 no doente.

Mini fígados 3D

No atual estudo, os investigadores demonstraram que os interferons, citocinas produzidas e libertadas pelas células hospedeiras em resposta ao vírus, aumentam significativamente a expressão do recetor ACE2, que atua como um ponto de entrada para o SARS-CoV -2 em células humanas.

Embora a lesão hepática seja normalmente observada na COVID-19 grave, os mecanismos e a dinâmica das infeções por SARS-CoV-2 no fígado não foram investigados.

Ao combinar mini orgãos 3D de células hepáticas humanas, sequenciamento de ARN e microscopia de super resolução, os cientistas mostraram que o barcitinib reverteu as alterações de expressão do gene ACE2 desencadeadas por interferons e reduziu a infetividade do SARS-CoV-2.

Curiosamente, os interferons não tiveram o mesmo efeito no recetor ACE2 em organoides pulmonares, sugerindo que essas proteínas sinalizadoras afetam os órgãos pulmonares e hepáticos de maneira diferente.

Ações duplas

“As descobertas explicam as ações anticitocinas e antivirais duplas do baricitinibe e apoiam uma avaliação adicional em ensaios de controlo randomizados”, referiu Ali Mirazimi, do Departamento de Medicina Laboratorial do Instituto Karolinska e coautor do estudo.

Os investigadores observam que uma limitação do estudo foi a falta de um grupo de controlo com placebo, que está incluído nos ensaios clínicos randomizados, patrocinados pela indústria, e que estão em andamento.

O estudo clínico foi conduzido por investigadores do Imperial College London, Reino Unido, Complejo Hospitalario Universitario de Albacete, Espanha, e da Universidade de Pisa, Itália, enquanto as investigações mecanísticas em modelos 3D de tecido humano foram conduzidas no Instituto Karolinska.