Uso de saliva no diagnóstico de COVID-19 está em estudo no IGC

Estudo no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, mostra que a saliva pode ser usada com eficácia na deteção das pessoas infetadas com COVID-19, em substituição do recurso a amostras de nasofaríngea e orofaríngea, colhidas por zaragatoa.

Uso de saliva no diagnóstico de COVID-19 está em estudo no IGC
Uso de saliva no diagnóstico de COVID-19 está em estudo no IGC.

Investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em parceria com o Hospital Dona Estefânia e o Hospital Prof. Doutor Fernando da Fonseca, Amadora Sintra, estudam a viabilidade da utilização de saliva na deteção de pessoas infetadas com COVID-19, em adultos e crianças.

O IGC indicou que até ao momento, o método foi validado em cerca de 80 pessoas hospitalizadas onde, entre outros, se comparou a eficácia da saliva face à amostra nasofaríngea, e que os resultados obtidos foram muito promissores.

O trabalho dos investigadores no IGC parte de que a única forma de reduzir a transmissão do vírus SARS-CoV-2 e deter a sua circulação é recorrer ao método tradicional no controlo epidemiológico: a rápida identificação de potenciais infetados, a sua rede de contactos, testagem e isolamento das mesmas.

Os investigadores sabem que o vírus SARS-CoV2 pode infetar pessoas sem que estas apresentem sintomas, mas que mesmo assim transmitem ativamente o vírus. Esta transmissão, muitas vezes silenciosa, apela a testar em massa a população para identificar pessoas infetadas e conter a propagação do vírus.

Para detetar as pessoas infetadas são usadas amostras de nasofaríngea e orofaríngea, que são colhidas por zaragatoa, um método que, além de invasivo, requer uma logística complexa que envolve profissionais de saúde especializados na colheita com associado risco de exposição ao vírus.

No estudo que os investigadores do IGC estão envolvidos está previsto testar um total de 300 pessoas, sendo 33% destes infetadas, e de todas as faixas etárias. Para Mónica Bettencourt Dias, Diretora do IGC “a ciência tem um papel crucial na identificação de novas soluções para fazer face à pandemia que vivemos”.

A cientista referiu, citada em comunicado do IGC, que “o método de testagem atual é extremamente invasivo, principalmente para as crianças, envolve uma logística grande e dispendiosa e por isso é estratégico encontrar opções com claras vantagens para a população, pacientes e para o sistema nacional de saúde.”

A investigadora Maria João Amorim, que lidera o estudo, explicou que “muitos artigos têm referido a saliva como alternativa de amostragem eficaz e, neste momento, decorrem estudos piloto no Reino Unido, Estados Unidos e Japão”.

“Estamos a recorrer a amostras de casos positivos da doença COVID-19 e a confirmar que a saliva pode ser usada eficazmente no rastreio de SARS-CoV-2 em todas as faixas etárias, podendo aumentar a testagem e aproximarmo-nos de uma situação de autoavaliação em casa, que seria um cenário ideal para diminuir a circulação do vírus”, referiu Maria João Amorim, citada no comunicado do IGC.

O estudo do IGC incide na análise de amostras de adultos e crianças, mas são os mais novos que recebem maior atenção, pois esta nova alternativa de teste seria indolor e muito mais rápida.

Maria João Brito, Médica Responsável da Unidade de Infeciologia do Hospital Dona Estefânia, explicou que “a utilização de zaragatoas para o diagnóstico da infeção pelo SARS_Cov_2 é uma técnica desconfortável para a criança e adolescente e exige pessoal experiente com treino, pelo que nem sempre é fácil de realizar”.

Este trabalho em curso no IGC “é fundamental para validar se as colheitas das amostras da saliva podem ser uma alternativa para todos os grupos etários pediátricos, desde o recém-nascido até aos 18 anos. Se se demonstrar eficaz pode ser no futuro uma forma de colheita fácil de realizar e claro está, muito menos desagradável para o doente. Adicionalmente pode permitir alargar a capacidade de testagem nas diferentes faixas etárias e ajudar a caracterizar a prevalência e a doença na idade pediátrica.”

José Delgado Alves, Diretor do Serviço de Medicina 4 do Hospital Fernando Fonseca, afirmou que “a logística necessária para a realização de testes na modalidade atual é muito pesada, não só pela estrutura física a que obriga como pela necessidade de alocar profissionais a esta atividade. Uma solução como esta vem ajudar-nos a aumentar o número de testes sem consumir tantos recursos humanos e financeiros”.

O IGC recorda que a estrutura (drive through) para recolha de amostras para testes COVID19 em regime ambulatório no Hospital Fernando Fonseca processa cerca de 150 amostras diárias, às quais se juntam as colheitas realizadas no serviço de urgência e nas várias enfermarias.

Para os investigadores os resultados promissores do estudo vão permitir diminuir a logística associada à colheita de amostras, quer por reduzir o número de profissionais de saúde e equipamento de proteção pessoal, quer por eliminar a necessidade de recurso a zaragatoas.