Comunicar com o doente: um passo para deixar de fumar

Deixar de fumar é um processo de difícil concretização. João Araújo Correia, médico internista, refere, neste seu artigo, que é possível vencer a doença com um plano de cessação tabágica adaptado a cada indivíduo.

João Araújo Correia, médico internista e Presidente da SPMI
João Araújo Correia, médico internista e Presidente da SPMI. Foto: DR

O tabagismo, caraterizado pelo consumo e/ou dependência de tabaco, é uma doença crónica que afeta mais de 20% da população portuguesa, sendo também uma das principais causas de morte no nosso país.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, este hábito nefasto para a saúde pública tem vindo a aumentar drasticamente a nível mundial, estimando-se que entre 2025 e 2030 o número de mortes por ano se fixe em cerca de 10 milhões. Este cenário requer uma preocupação acrescida dos profissionais de saúde, dado que o consumo de tabaco pode implicar que o indivíduo desenvolva diversas complicações de saúde.

No que respeita ao sistema respiratório, estão associados ao tabagismo o cancro do pulmão, a asma, a bronquite, o enfisema e, principalmente, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC). Além destes, o consumo tabágico fomenta igualmente o desenvolvimento da doença coronária, acidente vascular cerebral, doença aterosclerótica cardiovascular, osteoporose, úlcera, infertilidade, e muito outros.

Com a finalidade de melhorar a sua qualidade de vida e longevidade, muitos são os indivíduos que tentam deixar de fumar. Contudo, a cessação tabágica demonstra ser um processo de difícil concretização: somente 25% das tentativas de abstinência com ajuda médica conseguem ultrapassar uma semana de tratamento.

É, por isso, essencial que os especialistas de Medicina Interna, em conjunto com profissionais de psicologia, pneumologia, nutrição e enfermagem definam um plano de cessação tabágica adaptado a cada indivíduo, de forma a assegurar o sucesso do tratamento e, por sua vez, reduzir a probabilidade de ocorrerem recaídas.

Importa inclusive que o internista esteja sensibilizado para o papel da comunicação com o doente. Dado o impacto psicológico que este processo acarreta, muitas vezes associado ao aumento dos níveis de stress e ansiedade, é crucial que o médico transmita confiança e empatia com o paciente, através do aconselhamento e acompanhamento ao longo do tratamento, assim como através da consciencialização para os riscos do tabaco e para os benefícios de deixar de fumar.

Entre os benefícios a médio-prazo estão o aumento da esperança e qualidade de vida, a melhoria da saúde cardiovascular, a diminuição da falta de ar, tosse e obstrução brônquica, o aumento da probabilidade de ter filhos mais saudáveis, e muito mais. Já a curto prazo, os resultados são diversos: segundo a agência norte-americana de Centros de Controlo e Prevenção de Doenças, 20 minutos após deixar de fumar, a frequência cardíaca e a pressão arterial do indivíduo normalizam os seus níveis; já 10 anos depois, o risco de desenvolver cancro do pulmão reduz para metade.

Desta forma, a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, em conjunto com os seus núcleos de estudo, tem investido em campanhas de sensibilização junto da população e, principalmente, na formação de internistas e outros profissionais de saúde, de forma a que estejam preparados para responder às necessidades e especificidades de cada doente. Só assim poder-se-á contribuir para uma sociedade mais saudável, mais ativa e com maior esperança de vida.

Dia Nacional do Não Fumador assinala-se a 17 de novembro

Autor: João Araújo Correia, médico internista e Presidente da SPMI

A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) é uma associação científica, fundada em 1951. Tem como finalidade promover o desenvolvimento da Medicina Interna ao serviço da saúde da população portuguesa. Promove ainda a investigação e o estudo de problemas científicos, bem como a organização de atividades educacionais, no âmbito da formação contínua, dirigidas aos médicos e à população em geral, no campo da Medicina Interna.