Células imunitárias neutrófilos são responsáveis pelas arritmias após ataque cardíaco

Células imunitárias neutrófilos são responsáveis pelas arritmias após ataque cardíaco
Células imunitárias neutrófilos são responsáveis pelas arritmias após ataque cardíaco. Foto: Rosa Pinto

Após a lesão de um ataque cardíaco, as células imunitárias chamadas neutrófilos libertam um peptídeo que perfura as células cardíacas em stress e destabiliza a sua atividade elétrica. Isto desencadeia arritmias fatais, mostra estudo já publicado na revista “Science”.

Os resultados do estudo oferecem potencial para a decisão de alvo terapêutico para estes eventos cardíacos fatais.

A doença cardíaca isquémica, que é uma lesão cardíaca provocada pelo estreitamento das artérias coronárias, está entre as principais causas de morte no mundo. Pode levar a ataques cardíacos e a morte cardíaca súbita.

Como descrevem os investigadores quando uma artéria coronária fica bloqueada, os cardiomiócitos sofrem privação de oxigénio, levando à interrupção da capacidade de gerir iões como o sódio e o cálcio, e assim, a uma perigosa instabilidade elétrica e a arritmias fatais, que para as quais existem poucas opções de tratamento além da desfibrilhação.

A maioria das arritmias ocorre nos primeiros 2 dias após um ataque cardíaco, o que coincide com a resposta inflamatória celular característica à lesão cardíaca. Sabe-se que os neutrófilos, recrutados em grande número durante a resposta, interferem com a condução elétrica celular normal e estão implicados em danos teciduais não intencionais. Embora isto destaque os neutrófilos como um alvo potencial para futuras terapias, no entanto, para os investigadores o seu papel completo na promoção de arritmias ainda não está totalmente esclarecido.

A investigadora Nina Kumowski e a equipa de investigadores envolvidos no estudo utilizaram modelos murinos de lesão isquémica, juntamente com estudos com tecidos e células humanas, e verificaram que a molécula γ semelhante à proteína resistina como um fator-chave derivado de neutrófilos que promove arritmias após um ataque cardíaco.

Nina Kumowski descreve que o RELMy – um peptídeo antimicrobiano formador de poros – destabiliza o ritmo cardíaco ligando-se e atacando os cardiomiócitos em stress. Uma vez ligado, o peptídeo perfura as membranas dos cardiomiócitos, criando poros que alteram o fluxo iónico celular, desencadeando uma despolarização retardada, a morte celular e a formação de anomalias teciduais que promovem a arritmia.

Usando modelos murinos, os investigadores verificaram que a remoção de RELMγ dos neutrófilos reduziu a arritmia ventricular em 12 vezes, o que confirma que o peptídeo causa instabilidade elétrica no coração lesado.

O homólogo humano deste peptídeo, a resistina (RETN), foi detetada em amostras de tecido miocárdico humano de infarto, e níveis circulantes mais elevados de RETN correlacionaram-se com piores resultados para os doentes, destacando a sua potencial relevância clínica.