Molécula usada no tratamento de hipertensão pode curar tumores cerebrais malignos

Investigação realizada pelo Laboratório de Neurociências Paris-Seine, em colaboração internacional, permitiu verificar que a molécula prazosina apresenta eficácia no tratamento dos tumores cerebrais malignos, os gliomas.

Laboratório

Investigadores, coordenados por Marie-Pierre Hervé e Junier Chneiweiss, testaram sobre os gliomas os princípios ativos de medicamentos usados ao longo do tempo noutros tratamentos e com patente já no domínio público. Uma estratégia de reposicionamento de medicamentos, em vez de tentar descobrir novas moléculas.

Os testes, com a coleção de moléculas, permitiram identificar a molécula prazosina que, não só parece ser eficaz para este tipo de cancro, mas que atua sobre um canal de sinalização comum para outros tipos de cancro. Os resultados da investigação, que parecem ser promissores, foram publicados na revista EMBO Molecular Medicine.

Os gliomas são os tumores malignos mais comuns e frequentes que se desenvolvem a partir de células do cérebro, e são a quarta principal causa de morte por cancro em adultos e a segunda em crianças.

Verifica-se que os atuais tratamentos são ineficazes. Com efeito, refere o estudo, “um glioma pode resistir e ressurgir a partir de um número muito pequeno de células tumorais, células iniciadoras de glioma (GIC), com características e propriedades semelhantes às das células estaminais”. É nestas células que os investigadores têm vindo a manter o foco.

O método usado pelos investigadores permitiu, com menor custo e num período de tempo mais reduzido, chegar a resultados, em vez de tentar descobrir novas moléculas. Neste caso foram testadas 1200 moléculas em células estaminais neurais normais humanas, e sobre as células iniciadoras de tecidos de glioma de diferentes tumores agressivos.

De acordo com comunicado do Laboratório de Neurociências Paris-Seine, “doze das moléculas apresentaram um efeito tóxico sobre o GIC, sem nenhum efeito sobre as células estaminais neurais normais”.

A molécula mais eficaz, a prazosina, foi testada em ratinhos portadores de células iniciadores de glioma. Neste teste os investigadores verificaram “uma acentuada diminuição dos tumores e uma sobrevivência prolongada dos ratinhos em mais de 50%”.

A molécula prazosina foi utilizada “durante muitos anos para tratar a hipertensão arterial. É um inibidor de recetores alfa-adrenérgicos (α-AR)”. Agora, “as experiências dos investigadores mostraram que este tipo de recetores não existe nas células iniciadoras de glioma. A molécula agiu então através de um mecanismo ‘fora do alvo’, isto é, por uma outra via que não a interação clássica”.

“Os investigadores identificaram, também, uma molécula de sinalização intracelular, a PKCδ, sobreexpressa na GIC, em relação às células estaminais neurais normais. Na presença de prazosina, é clivada apenas nas GIC, o que leva à sua morte”, refere o Laboratório de Neurociências.

“Para confirmar os resultados, os ensaios clínicos irão começar dentro de um ano, indica o Laboratório, e “se forem bem-sucedidos, a molécula poderá rapidamente ser utilizada como complemento às terapias atuais e melhorar o atendimento de pacientes com cancro no cérebro”.

“Os Investigadores já identificaram outras células cancerosas que têm uma sinalização deficiente dos PKCδ, como o cancro do colo rectal, do pâncreas ou do fígado. Compreender o mecanismo de ação da prazosina deixa igualmente antever novas pistas de tratamento para outros tipos de cancro”, é referido pelo Laboratório de Neurociências Paris-Seine.