Peixes também precisam de amigos para vencer o medo

Peixes-zebra exibem menos medo numa situação de ameaça quando veem e cheiram o seu cardume. Ver o cardume é mais eficaz, e torna-o no suporte social da espécie. O peixe-zebra é um modelo para estudar os mecanismos neurais.

Ilustração de suporte social em peixe-zebra
Ilustração de suporte social em peixe-zebra. © Rodrigo Abril de Abreu

Estudo liderado por Rui Oliveira, investigador do ISPA – Instituto Universitário, do Instituto Gulbenkian de Ciência e da Fundação Champalimaud, e já publicado na revista científica ‘Scientific Reports’ demonstra que o peixe-zebra precisa de suporte social para ultrapassar situações adversas.

As conclusões do estudo abrem novos caminhos para a compreensão do comportamento social, tão determinante para o bem-estar humano e de grande relevância em certas doenças, como a depressão ou ansiedade generalizada. O peixe-zebra é um modelo de eleição para estudar este comportamento e os mecanismos neurais subjacentes.

É conhecido que “o apoio que cada indivíduo recebe por parte daqueles que o rodeiam influencia o seu comportamento e pode ajudá-lo a superar circunstâncias desfavoráveis” e “além do ser humano, outros animais sociais conseguem recuperar melhor perante um evento adverso na presença dos seus congéneres.”

Os investigadores envolvidos no estudo “procuraram identificar os mecanismos neurais subjacentes ao fenómeno do suporte social no peixe-zebra”. A escolha do peixe-zebra deve-se a ser modelo animal, “cada vez mais utilizado em investigação médica e nas Neurociências do Comportamento”, e oferecer “uma grande variedade de técnicas bem estabelecidas que podem permitir o estudo detalhado dos mecanismos neuronais na base deste comportamento.”

As primeiras experiências da equipa de investigação permitiram mostrar “que os peixes-zebra exibem menos medo perante uma situação de ameaça quando podem ver e cheirar o seu cardume, do que quando estão sozinhos, revelando a presença do fenómeno de suporte social nesta espécie.”

De seguida os investigadores procuraram conhecer qual das pistas, visual ou olfativa, tinha mais impacto na diminuição da resposta de medo em situação de ameaça. De acordo com os resultados “a visualização de um cardume é mais eficaz na diminuição da resposta de medo quando numa exposição prolongada à ameaça”, e que a mesma é independente da dimensão do cardume.

Os investigadores constataram que “o fenómeno de suporte social num peixe-zebra desencadeia um padrão específico de ativação em várias áreas cerebrais, como a área pré-ótica, amígdala, que estão também envolvidas no mesmo fenómeno em mamíferos.”

As semelhanças entre as áreas cerebrais ativadas apontam que o peixe-zebra é “um organismo modelo ideal para a investigação do suporte social, podendo reproduzir mecanismos neurais semelhantes aos dos seres humanos”.

Para Ana Faustino, investigadora e primeira autora do estudo, “apesar do comportamento de suporte social do peixe-zebra não ter a complexidade do suporte social verificado em humanos,” a investigação usando peixe-zebra irá permitir “explorar em profundidade os mecanismos neurais envolvidos no comportamento social tão central para o bem-estar e saúde mental humana, nomeadamente pela relevância que assume em determinadas doenças psicológicas, como é o caso da depressão”.