Células Estaminais promissoras no tratamento do Lúpus

Andreia Gomes, Diretora Técnica e de Investigação e Desenvolvimento e Inovação da BebéVida
Andreia Gomes, Diretora Técnica e de Investigação e Desenvolvimento e Inovação da BebéVida. Foto: DR

O Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) é uma doença autoimune em que o sistema imune ataca o próprio corpo em vez de o proteger. Este processo desencadeia uma inflamação, resultando em dor, calor, vermelhidão e inchaço. O LES é uma doença crónica que pode afetar vários órgãos e manifestar-se de diversas formas ao longo da vida.

Estatísticas e Manifestações Clínicas

As idades mais comuns para o início da doença estão entre 18 e 55 anos, abrangendo uma faixa etária ampla. Para além disso, o sexo feminino é oito a dez vezes mais afetado pelo LES.

Na Europa, estima-se que 40 em 100.000 pessoas sofrem de LES, com uma variação significativa nessa estimativa. Esses números destacam a importância de compreender e tratar adequadamente essa doença. Em Portugal e segundo a Sociedade Portuguesa de Reumatologia, cerca de 0,07% da população é afetada pelo LES, sendo tipicamente mulheres em idade reprodutiva. Isso resulta em aproximadamente quatro mil casos registados no país. Essa prevalência indica a necessidade de estratégias eficazes de tratamento e gestão do LES.

A doença pode evoluir de forma constante ao longo de vários anos ou de forma rápida, intercalando-se com períodos de remissão. Essa variabilidade na progressão da doença requer uma abordagem individualizada no tratamento e acompanhamento dos pacientes. Os sintomas variam, com possíveis complicações graves que exigem atenção urgente. Em cerca de 90% dos casos existem manifestações cutâneas e/ou articulares. No entanto, alguns doentes podem apresentar manifestações de maior gravidade, particularmente alterações renais (37%) ou neuropsiquiátricas (18%).

É fundamental que os profissionais de saúde estejam atentos aos sinais de agravamento da doença e tomem medidas adequadas para evitar complicações.

O papel das Células Estaminais Mesenquimais do Tecido do cordão umbilical no LES

Células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical têm propriedades imunorreguladoras e demonstraram efeitos terapêuticos em diversas doenças autoimunes, incluindo o Lúpus. Essas células têm o potencial de modular a resposta imune e reduzir a inflamação associada ao LES.

Vários ensaios clínicos têm investigado o efeito do transplante dessas células no tratamento do LES, mostrando um perfil de segurança promissor. Essas pesquisas têm como objetivo avaliar a eficácia e a segurança dessa abordagem terapêutica inovadora.

Pode-se destacar um estudo recente que avaliou a segurança e os efeitos das células estaminais mesenquimais de cordão umbilical em doentes com LES, sugerindo que essas células podem representar uma nova abordagem terapêutica com um perfil de segurança melhor em comparação com as terapias atuais. Esses resultados preliminares são encorajadores e indicam a necessidade de estudos adicionais para confirmar esses achados. As células estaminais do cordão umbilical parecem ser seguras e apresentam efeitos benéficos no combate ao Lúpus, exercendo efeitos em algumas células, o que sugere novos mecanismos de combate à doença. Essas descobertas abrem caminho para uma compreensão mais aprofundada dos mecanismos envolvidos no LES e para o desenvolvimento de terapias mais eficazes. Os autores concluem as células estaminais do tecido do cordão umbilical são muito seguras e também apresentarem efeitos benéficos no combate ao Lúpus.

Um outro ensaio clínico demonstrou que o transplante de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical é promissor no tratamento de LES uma vez que resultados impressionantes. Os autores verificaram taxa de sobrevida global de 92,5%, uma diminuição significativa na atividade da doença do LES, melhorias em vários sistemas de órgãos afetados pelo LES, incluindo os sistemas renal, hematopoiético e cutâneo. Esta melhoria abrangente destaca o potencial das células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical nas diversas manifestações do LES, podendo oferecer aos pacientes uma chance de melhor qualidade de vida. No entanto, alguns pacientes apresentaram recidiva da doença após 6 meses, podendo levar à necessidade aplicação de mais doses. Mais pesquisas são necessárias para entender e lidar com esse desafio.

Comparação com Terapia Atual

A terapia atual para o LES visa induzir a remissão e controlar rapidamente a atividade da doença, usando fármacos anti-inflamatórios, corticosteróides e imunossupressores. Embora essas abordagens tenham sido eficazes no controlo dos sintomas, elas também podem apresentar efeitos colaterais significativos e não são adequadas para todos os pacientes.

As células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical apresentam características promissoras, como baixa imunogenicidade, capacidade de migração para locais de inflamação e propriedades imunomodulatórias, tornando-as um excelente alvo terapêutico para doenças autoimunes, incluindo o Lúpus Eritematoso Sistémico.

Estudos adicionais são necessários para avaliar a eficácia das células estaminais mesenquimais do cordão umbilical no tratamento do LES, bem como determinar a melhor forma de administração e dosagem. Além disso, é importante considerar os potenciais efeitos colaterais e interações medicamentosas antes de implementar essa terapia como opção de tratamento padrão. No entanto, os resultados já verificados são muito encorajadores e sugerem que as células estaminais mesenquimais podem desempenhar um papel importante no tratamento do LES, melhorando sua qualidade de vida e/ou reduzindo a progressão da doença nos pacientes com LES.

Autora: Andreia Gomes, Diretora Técnica e de Investigação e Desenvolvimento e Inovação da BebéVida