Falta de cultura em saúde: O AVC como principal causa de morte

“Estou certa que se os portugueses tomassem melhor conta da sua saúde, o AVC não seria o flagelo que é na nossa sociedade,” afirma a médica especialista, Ana Paiva Nunes. Ao assinalar o Dia Mundial do AVC a médica faz algumas recomendações.

Ana Paiva Nunes, Medicina Interna, Coordenadora da Unidade Cerebrovascular do Centro Hospitalar de Lisboa Central, Membro da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa do AVC
Ana Paiva Nunes, Medicina Interna, Coordenadora da Unidade Cerebrovascular do Centro Hospitalar de Lisboa Central, Membro da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa do AVC. Foto: DR

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) continua a ser a principal causa de morte e incapacidade no nosso país. É fundamental que a população perceba que o mais importante para evitar ter um AVC é cuidar bem da sua saúde modificando o seu estilo de vida para hábitos de vida saudáveis que incluam uma alimentação equilibrada com pouco sal e gorduras, a prática regular de exercício físico, não fumar, evitar bebidas alcoólicas e tomar sem falhas os medicamentos prescritos pelo médico assistente. A população portuguesa tem taxas de hipertensão arterial e níveis altos de colesterol muito elevadas, assim como uma percentagem muito baixa de pessoas a fazer exercício físico com regularidade. Estou certa que se os portugueses tomassem melhor conta da sua saúde, o AVC não seria o flagelo que é na nossa sociedade.

Outro problema em Portugal é a falta de cultura em saúde, embarcando os portugueses com frequência em comportamentos não comprovados pela ciência que não têm benefícios e que, por vezes, têm inclusivamente malefícios. É fundamental saber que aos primeiros sinais de um AVC – boca ao lado, dificuldade em falar, falta de força num braço – se deve ligar imediatamente o 112, para que o CODU possa orientar a pessoa para o hospital que está mais perto e que está organizado para tratar o doente com AVC. Muitos hospitais em Portugal não têm esta capacidade, portanto é fundamental deixar que seja o CODU a orientar o doente para o hospital que tem capacidade para tratar. O tratamento emergente é fundamental porque a recuperação do doente está diretamente relacionada com a rapidez do tratamento. Quanto mais depressa o doente iniciar tratamento, melhor será a sua evolução.

É importante que se perceba que mais do que a própria morte, o que o AVC traz é uma incapacidade muitas vezes para a vida toda, com repercussão tanto na vida pessoal, familiar, profissional e social. Embora a vida na sua plenitude não acabe após um AVC, a adaptação é frequentemente muito difícil especialmente por não termos em Portugal cuidados de reabilitação com capacidade para abranger com qualidade todos os doentes. Seria muito importante que os portugueses exigissem o acesso a estes cuidados.

Portanto, neste Dia Mundial do AVC, as minhas recomendações para todos nós são:

  • Cuidar da nossa própria saúde!
  • Perante sinais de alerta de AVC (3F – FACE: boca ao lado, FALA: dificuldade em falar, FORÇA: falta de força num braço) devemos ligar imediatamente o 112!
  • Exigir cuidados de reabilitação de qualidade!

 

Autora: Ana Paiva Nunes, Coordenadora-adjunta do Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral da SPMI