Novo conhecimento sobre esclerose múltipla pode levar a novas terapêuticas

Oligodendrócitos, um tipo de células do cérebro, são heterogéneos. Este novo conhecimento abre portas a novas terapêuticas para doenças em que estas células desempenham um papel crucial, como é o caso da esclerose múltipla.

Sueli Marques, Sten Linnarsson, Gonçalo Castelo-Branco
Sueli Marques (à esquerda), Sten Linnarsson (ao centro), Gonçalo Castelo-Branco (à direita). Foto: Ulf Sirborn, Instituto Karolinska.

Investigadores no Instituto Karolinska, na Suécia, verificaram que os oligodendrócitos, um tipo de células existentes no cérebro, são heterogéneos, ao contrário do que antes os investigadores pensavam. O estudo encontra-se já publicado na revista Science.

Para os investigadores envolvidos no estudo, entre os quais se encontram os portugueses Sueli Marques e Gonçalo Castelo-Branco, os resultados da investigação vêm aumentar o conhecimento e a compreensão sobre doenças que envolvem os oligodendrócitos, abrindo “novas pistas para futuras estratégias terapêuticas”, indica o Instituto Karolinska (IK).

Os oligodendrócitos são responsáveis pela produção da mielina, uma membrana protetora que isola as células nervosas, permitindo a rápida transmissão dos sinais elétricos no cérebro. A esclerose múltipla é caracterizada pela perda desta mielina.

No caso da “esclerose múltipla e em outras doenças neurológicas do mesmo género, os sinais elétricos no cérebro são propagados mais lentamente”. Esta “redução na velocidade de fluxo de informação no cérebro contribui para sintomas como o entorpecimento dos membros, a perda de equilíbrio, dificuldades locomotivas e visão turva”.

No Instituto Karolinska, os investigadores, liderados por Gonçalo Castelo-Branco e Sten Linnarsson, recorreram a uma técnica recente para sequenciar o ARN de células individuais. O método permitiu aos investigadores obter uma ‘fotografia’ da atividade dos genes em cada célula individual.

Com a utilização da nova técnica “foi possível revelar diferenças entre células, que não seriam visíveis usando métodos mais clássicos”.

Os investigadores Sueli Marques e Amit Zeisel, autores principais do estudo, “analisaram mais de cinco mil oligodendrócitos de várias regiões do cérebro e espinal medula de ratinhos adolescentes e adultos, o que lhes permitiu observar a diversidade destas células com um detalhe e clareza sem precedentes”.

“Revelámos uma diversidade inesperada dentro da população de oligodendrócitos”, disse Sten Linnarsson, citado pelo IK, e acrescentou que “neste estudo, identificámos doze subclasses de oligodendrócitos e um novo tipo de células distinto dos oligodendrócitos que está localizado nos vasos sanguíneos”.

Os investigadores verificaram durante o estudo “que nas fases iniciais de maturação dos oligodendrócitos, estes são semelhantes em varias áreas do sistema nervoso do ratinho jovem, enquanto diferentes subgrupos de oligodendrócitos maduros estão presentes em regiões específicas dos cérebros dos murganhos adultos”.

“A descoberta desta inesperada heterogeneidade de oligodendrócitos poderá trazer novas pistas para perceber os mecanismos de degeneração e regeneração em doenças onde a mielina é degradada, tais como a esclerose múltipla”, referiu Gonçalo Castelo-Branco.

O Instituto Karolinska indica que “a investigação foi apoiada pelo Conselho de Investigação Sueco, pela Fundação Sueca para o Cérebro (Hjärnfonden), pela Sociedade Sueca de Medicina, pelas fundações Åke Wiberg, Clas Groschinsky, Petrus e Augusta Hedlunds e pela União Europeia, entre outros”.