Instituto Pasteur prepara vacina e tratamento para o novo coronavírus

Instituto Pasteur fez a sequenciação do genoma do coronavírus 2019-nCoV, com base nos coronavírus recolhidos das pessoas infetadas, em França. O vírus foi isolado e os cientistas avançam para abordagens de diagnóstico, terapêuticas e profiláticas.

Instituto Pasteur prepara vacina e tratamento para o novo coronavírus
Instituto Pasteur prepara vacina e tratamento para o novo coronavírus. Foto: © Rosa Pinto

O genoma do coronavírus 2019-nCoV acaba de ser sequenciado no Instituto Pasteur, em França. O isolamento das estirpes do coronavírus 2019-nCoV detetadas em França foi totalmente feito com sucesso. Os cientistas usaram as amostras recolhidas nos primeiros casos confirmados em França.

O Coronavirus 2019-nCoV, responsável pelos casos de pneumonia que surgiram na China, é diferente dos dois outros vírus conhecidos por causar surtos respiratórios nos últimos anos: O vírus SARS-CoV, responsável pelo surto de SARS em 2003, e o MERS-CoV, responsável por um surto que surgiu em 2012 no Oriente Médio.

O Institut Pasteur esteve envolvido ativamente no combate aos dois surtos anteriores, o que permitiu adquirir um grande conhecimento sobre estes coronavírus que auxiliam na situação atual. “Para o SARS-CoV e o MERS-CoV, as células conhecidas como Vero E6 foram identificadas para cultivar os dois coronavírus”, explica Sylvie van der Werf, diretora do Centro Nacional de Referência (CNR) para vírus respiratórios do Institut Pasteur.

A cientista acrescentou: “Em janeiro de 2020, nós recuperamos os coronavírus SARS e MERS que são mantidos sob condições estritamente controladas, para estarmos prontos logo que fosse detetada uma amostra positiva para o coronavírus 2019-nCoV”.

Instituto Pasteur prepara vacina e tratamento para o novo coronavírus
Instituto Pasteur prepara vacina e tratamento para o novo coronavírus. Na imagem: À esquerda, uma camada de células não danificada pelos vírus, e à direita, uma camada celular com efeito citopático visível; as células infetadas pelo vírus foram destruídas, © Instituto Pasteur / CNR para vírus respiratórios no Instituto Pasteur.

Crescimento extremamente rápido do vírus em cultura

Na sexta-feira, 24 de janeiro de 2020, no mesmo dia em que os primeiros casos foram confirmados, o Instituto Pasteur iniciou o processo de cultura das amostras que apresentaram resultado positivo para o vírus nas células Vero E6. “Usando métodos de deteção, observamos uma carga viral alta nas amostras colhidas nos pacientes do hospital de Paris. Isso permitiu-nos identificar quais amostras que deveriam ser cultivadas primeiro”, referiu Sylvie Behillil, vice-diretora do CNR do Instituto Pasteur.

Os vírus foram cultivados de 25 a 26 de janeiro de 2020. Na manhã do dia 27 de janeiro, a cultura já tinha crescido. Um crescimento que surpreendeu os cientistas, pois referiu Sylvie Behillil: “Nós não pensamos que iria crescer tão rapidamente”. O rápido crescimento da cultura pode ser explicado pela “alta carga viral nas amostras”, mas também pela “qualidade das amostras”, acrescenta Vincent Enouf, vice-diretor do CNR do Institut Pasteur.

“Pudemos ver as células a ser danificadas e, então, agrupadas, o que pode indicar que elas foram infetadas. Mas não observamos esse efeito citopático em todas as amostras inoculadas; isso garantiu-nos que tínhamos conseguido isolar as estirpes. Um isolamento confirmado por análises adicionais”.

Virus 2019-nCoV está agora disponível para investigação

Agora que os cientistas do Instituto Pasteur têm acesso ao coronavírus 2019-nCoV, podem avançar com o estudo para conhecer melhor esta nova estirpe. Uma investigação que vai concentrar-se em quatro áreas principais.

Sorologia: Analisar reações antígeno-anticorpo com base nos anticorpos encontrados no soro sanguíneo dos pacientes e desenvolver um teste sorológico eficaz para rastrear a infeção na população. Um teste que os cientistas indicam não ser um teste rápido de diagnóstico para uso hospitalar, mas um teste para identificar soroconversão na população.

Desenvolvimento de tratamentos específicos: Testar moléculas antivirais conhecidas que atuam no ciclo de replicação de alguns vírus para avaliar seu potencial terapêutico ou mesmo profilático e procurar anticorpos que possam ter aplicações terapêuticas.

Vacinação: Com base no vírus, o desenvolvimento de abordagens de vacina que já foram exploradas para outros vírus, como o Ebola, MERS-CoV e SARS-CoV , com o objetivo de propor uma vacina candidata.

Patogénese viral: Compreender como o vírus funciona, como ele se replica e interage com a célula e o organismo hospedeiro, para obter uma imagem mais clara de sua natureza patogénica e identificar biomarcadores para infeção ou novos alvos para o desenvolvimento de tratamentos.