Médico de Família como responsável na prevenção do AVC

Neste tempo de pandemia o médico de família não pode reduzir a sua ação a uma comunicação à distância. Rui Cernadas, especialista em Medicina Geral e Familiar, lembra, neste seu artigo, a presença do médico na prevenção de doenças, em particular no AVC.

Rui Cernadas, Médico especialista em Medicina Geral e Familiar, Membro da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa do AVC
Rui Cernadas, Médico especialista em Medicina Geral e Familiar, Membro da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa do AVC. Foto: DR

O SNS sobre o qual todos falam, bem ou mal, é um serviço público aos cidadãos que dele esperam capacidade de resposta e assistência clínica de qualidade.

O desejo de cada cidadão ter o seu médico de família deve encontrar da parte dos médicos de família uma elevada responsabilidade profissional com a sua comunidade de utentes.

Os médicos de família devem exercer a promoção da saúde e a prevenção de doença, assumindo de vez um papel decisivo na chamada “prevenção primária”.

Este período terrível de combate à infeção pela COVID-19 deixou os utentes longe dos seus médicos e os centros de saúde entrincheiraram-se em “muros” que, dificultam o acesso e a proximidade, os princípios fundamentais dos Cuidados Primários e da Medicina Geral e Familiar.

Não é possível cumprir o objetivo dos cuidados antecipados à população, reduzindo o risco de aparecimento de determinadas patologias e atuar sobre os fatores de risco de modo atempado e precoce, se o acesso aos médicos de família não for retomado urgentemente!

Quando pensamos no acidente vascular cerebral, o AVC, temos de recordar que a idade é, também, como no caso da COVID-19, o mais importante e mais forte fator de risco. E não devemos esquecer o peso da história familiar de AVC, como possível preditor de eventos.

Mas se estes fatores, idade ou genética, são fatores de risco que os médicos não podem modificar, outras questões são tidas como modificáveis. Por exemplo, os benefícios da atividade física regular e continuada, bem como o seu impacto no controlo da hipertensão arterial, da diabetes e do peso. Ou a importância de cumprir os tratamentos indicados pelos médicos, tomando os medicamentos diariamente, nos horários e doses prescritas.

E é preciso procurar, identificar e tratar o mais precocemente possível as pessoas que têm e desconhecem valores elevados de pressão arterial, lembrando que, a hipertensão é o fator de risco modificável mais importante e com maior influência na tragédia do AVC.

Temos de insistir no combate ao uso exagerado do sal, açúcar e gorduras na alimentação, reforçando a ingestão de frutas e de legumes.

E o tabaco! O tabagismo é a primeira causa evitável de doença, incapacidade e morte, contribuindo qual vírus fumegante para quase todas as dez principais causas de morte a nível mundial!

A ação do médico de família e a acessibilidade aos seus doentes e o inverso, não se podem limitar ou reduzir a contactos telefónicos ou às tecnologias de comunicação à distância. A “normalidade” da Pandemia não pode abrir mais as portas a outras “pandemias” preveníveis e igualmente dolorosas, trágicas e dispendiosas, embora menos mediáticas…

E falo entre muitas outras, da doença hipertensiva, da diabetes, da insuficiência cardíaca, da doença pulmonar obstrutiva crónica, das doenças neurodegenerativas, do AVC obviamente.

Fica em 2021 o meu apelo à responsabilidade dos médicos de família no seu Dia, o Dia Mundial do Médico de Família, um sonho e um desejo renovado pela prevenção primária e pelo combate de sempre contra a doença e o AVC em particular!

Autor: Rui Cernadas, Médico especialista em Medicina Geral e Familiar, Membro da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa do AVC